SÃO FRANCISCO-CA, EUA - O presidente Vladimir Putin participou diretamente da campanha de ataques cibernéticos para favorecer a candidatura do magnata imobiliário Donald Trump, visto como mais favorável ao Kremlin, e prejudicar a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, denunciou hoje o jornal The Washington Post. A reportagem descreve a ação como o "crime do século" por minar a democracia nos Estados Unidos.
Em agosto do ano passado, afirma o jornal, a CIA (Agência Central de Inteligência) enviou correspondência ultrassecreta ao então presidente Barack Obama com detalhes sobre as medidas tomadas por Putin.
Naquele momento, já era evidente a interferência de ciberpiratas russos no processo eleitoral nos EUA. Há mais de um ano, eles vinham invadindo os sistemas de computação dos partidos Democrata e Republicano. Hoje, sabe-se que entraram também em computadores ligados à eleição em pelo menos 21 estados.
O FBI (Federal Bureau of Investigation), a polícia federal dos EUA, havia aberto em julho um inquérito sobre a ciberpirataria russa. Em 22 de julho, o sítio WikiLeaks divulgou 22 mil mensagens pirateadas do Comitê Nacional do Partido Democrata.
Ao receber o alerta, Obama ordenou uma investigação sobre as vulnerabilidades do sistema eleitoral e pediu às outras agências de inteligência do governo americano que confirmassem a alegação. Durante meses, o governo Obama debateu em segredo como reagir. Poderia fazer ataques cibernéticos retaliatórios ou divulgar as acusações do memorando da CIA.
Obama teve medo de ser acusado de forjar a história para ajudar Hillary e prejudicar a oposição. Certamente seria alvo das tiradas de Trump. Seu governo chegou a armar "bombas cibernéticas" para retaliar, mas temeu uma escalada na guerra cibernética. Só em 29 de dezembro, depois da vitória do republicano, o governo Obama expulsou 35 diplomatas russos e impôs novas sanções à Rússia.
Os partidários de Trump alegam que a interferência russa não mudou a decisão do eleitor dentro da cabine de votação, mas foi um ataque direto à democracia americana com impacto duradouro. Hoje o presidente Trump está sob ameaça de um processo de impeachment por obstrução de justiça por ter demitido o diretor-geral do FBI James Comey, que presidia o inquérito.
A interferência indevida da Rússia será uma sombra sobre o governo Trump, capaz de destruí-lo. Como observam os repórteres do Post, é uma guerra cibernética da Rússia contra as democracias liberais. Foi tentada contra o atual presidente Emmanuel Macron, na França, e abalou os EUA, que terão de enfrentar o problema nos próximos anos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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