A Guerra dos Seis Dias, que hoje completa 50 anos, é o conflito que definiu as relações árabe-israelenses nas últimas décadas. A mais espetacular vitória militar israelense, de 5 a 10 de junho de 1967, é uma guerra que não terminou até hoje. A última revelação é que Israel pretendia fazer um teste nuclear no Deserto do Sinai para intimidar os árabes e evitar uma possível derrota, noticia o jornal liberal israelense Haaretz.
No 50º aniversário da guerra, Centro Woodrow Wilson, de Washington, está liberando uma série de documentos e testemunhos sobre a dimensão nuclear, o último segredo do conflito. Em 1999, o hoje falecido general Yitzhak Yaakov revelou o esforço dramático da Operação Shimshon.
A maioria dos ministros do governo Levi Eshkol não sabia de nada Há poucos documentos e nenhum foi desclassificado. Assim, o jornal desconsidera a opinião do historiador Michael Oren, que não dá importância alegando nunca ter encontrado nenhum documento a respeito.
Em entrevista ao Centro da Memória Yitzhak Rabin em 2001, Zvi Tzur, braço direito do então ministro da Defesa de Israel, Moshe Dayan, admitiu que em 5 de junho de 1967, o primeiro dia da guerra, ele nomeou um comitê de dois membros, Yaakov e Israel Dostrovsky, o chefe do programa nuclear, para examinar se "algo poderia ser feito, mas não para fazer". Não foi necessário.
A Guerra dos Seis Dias ou Guerra de Junho, como a chamam os árabes para esconder a humilhante derrota, foi a terceira guerra árabe israelense, depois da Guerra de Independência de Israel (1948-49) e da Guerra do Suez (1956), quando o ditador Gamal Abdel Nasser nacionalizou o canal. A paz não veio até hoje.
Em abril de 1967, a Força Aérea de Israel derrubou seis aviões de caça da Síria numa batalha aérea atribuída a intrigas da União Soviética. Quando o serviço secreto soviético acusou Israel de concentrar tropas na fronteira para atacar a Síria, em maio, a tensão cresceu em todo o Oriente Médio.
Nasser, líder do nacionalismo pan-árabe, logo mobilizou as Forças Armadas do Egito, as maiores do mundo árabe, em apoio à Síria. Em 18 de maio, o Egito pediu às Nações Unidas que retirassem a força de paz estacionada na Península do Sinai desde o fim da Guerra do Sul, com participação de brasileiros.
Israel viu nisso quase uma declaração de guerra. Nasser queria o caminho livre para suas tropas e tanques avançaram pelo deserto. Em 22 de maio, o ditador egípcio bloqueou a navegação israelense no Golfo de Ácaba, isolando na prática o porto de Eilat.
Em 30 de maio, Nasser recebeu no Cairo o rei Hussein, da Jordânia, e unificou as forças dos dois países sob comando egípcio. O Iraque também aderiu à aliança.
Por outro lado, o presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, declarou que o bloqueio à navegação era motivo para a guerra. Em 1957, Israel havia ameaçado ir à guerra se isso acontecesse. Tinha chegado a hora.
Em 1º de junho, Israel formou um governo da união nacional. Em 4 de junho, decidiu ir à guerra. Na madrugada do dia seguinte, a Força Aérea de Israel destruiu as aviações inimigas no solo, antes que pudessem decolar para o combate aéreo.
Com superioridade aérea, o Exército de Israel tomou a Faixa de Gaza e a Península do Sinai, do Egito; a Cisjordânia, inclusive o setor árabe de Jerusalém, da Jordânia; e as Colinas do Golã, da Síria. Os territórios árabes ocupados são até hoje o motivo do interminável conflito entre palestinos e israelenses.
Os grandes derrotados foram os palestinos, que vivem até hoje sob ocupação, mas o sentimento nacionalista do povo palestino nasceu dessa trágica derrota.
Depois de tomar a iniciativa em 1967, Israel foi alvo de seu próprio veneno em 6 de outubro de 1973, quando a maior empreitada militar árabe da era moderna tentou mais uma vez aniquilar o Estado judaico. O Egito chegou a recuperou o Sinai, mas, na maior ponte aérea militar da história, os EUA entregaram milhares de toneladas de equipamento ao Exército de Israel.
Quando Israel cercou o 3º Exército no Sinai, a União Soviética ameaçou entrar na guerra. Três anos depois, o presidente egípcio Anuar Sadat abandonou a URSS e se aliou aos EUA para fazer a paz com Israel, em 1979, a recuperar o Sinai. Só agora, com a intervenção militar na Síria, a Rússia, herdeira da URSS, voltou a ser uma grande potência no Oriente Médio.
Nos anos 1990s, os acordos de paz negociados em Oslo, na Noruega, deram a esperança de que afinal a Guerra de 1967 pudesse chegar ao fim. Sem avanço além das etapas iniciais, especialmente após o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin, em 1995, e da volta da direita ao poder em Israel, o processo de paz se deteriorou.
O conflito permanente com o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), grupo fundamentalista muçulmano que desde 2007 domina a Faixa de Gaza, e os sucessivos ataques terroristas, recentemente com veículos e facas, fortaleceram a direita israelense. Hoje o governo do primeiro-ministro linha-dura Benjamin Netanyahu depende do apoio de partidos de colonos que rejeitam a criação de um Estado palestino.
A solução de dois países, um árabe e outro judaico, convivendo em paz no território histórico da Palestina parece cada vez mais distante da realidade. As colônias, ilegais à luz do direito internacional, que veda a guerra de conquista, se expandem. Têm mais de meio milhão de habitantes.
As questões centrais de um possível acordo de paz definitivo estão diretamente ligadas à Guerra dos Seis Dias: a criação de um Estado palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, a situação de Jerusalém, o futuro das colônias nos territórios árabes ocupados e o direito de retorno dos palestinos expulsos de suas casa desde a criação de Israel, em 1948.
Até hoje, os palestinos nunca tiveram força para impor suas reivindicações. Em larga medida, foram abandonados pelos países árabes. Agora, o presidente Donald Trump está decidido a dar novo ímpeto ao processo de paz, mas as partes estão entrincheiradas em suas barreiras históricas.
A Guerra dos Seis Dias foi militarmente a mais rápida das guerras árabe-israelenses. Política e diplomaticamente, está sendo travada até hoje. Não basta ganhar a guerra. É preciso conquistar a paz. Este ainda é um sonho distante para israelenses e palestinos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
segunda-feira, 5 de junho de 2017
Israel cogitou explodir bomba atômica na guerra de 1967
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