A Alemanha é hoje a maior economia europeia e quarta do mundo, segunda maior exportadora de produtos industriais, recentemente superada pela China por causa da crise. É um país moderno, pacífico e desenvolvido. A excelência de sua engenharia compensa os altos custos de produção.
A Alemanha reunificada (a Alemanha foi unificada por Bismarck em 1871, no fim da Guerra Franco-Prussiana) é a primeira filha do mundo pós-Guerra Fria, que dividiu a Alemanha.
Toda ascensão de grandes potências provoca tensões e guerras. A China promete não seguir o exemplo da Alemanha e da União Soviética.
A ascensão da Alemanha provocou duas guerras mundiais (1914-18 e 1939-45). Claro que os outros europeus não foram santos na grande guerra civil europeia, mas a Alemanha esteve no centro de tudo desde a unificação promovida pelo marechal de ferro original, Otto von Bismarck, em 1871, no fim da Guerra Franco-Prussiana.
Bismarck observou que estar no centro do continente e não ter fronteiras naturais era a vantagem e a desvantagem da Alemanha, um país vulnerável (não esqueçam que a Inglaterra é um navio que Deus na Mancha ancorou, como disse Castro Alves) e expansionista.
A Guerra Franco-Prussiana (1870-71) unifica uma série de reinos e principados como a Prússia, a Renânia e a Baviera, criando a Alemanha, sob hegemonia da autoritária Prússia , tomado as regiões francesas da Alsácia e da Lorena, que estão na origem da Primeira Guerra Mundial (1914-18).
Como se industrializou depois da Grã-Bretanha, a Alemanha adota o nacionalismo econômico, pregado por pensadores como Johann Fichte. Bismarck introduz a social-democracia, os direitos sociais e trabalhistas que estão até hoje no centro da economia social de mercado, o modelo econômico da União Europeia.
O Partido Social Democrata (SPD), um dos grandes do país, nasce do movimento operário e da social democracia alemã. Seu líder, Frank-Walter Steinmeier, era ministro do Exterior até ser derrotado nas eleições de setembro pela União Democrata Cristã (CDU) da primeira-ministra Angela Merkel. Foi a pior derrota do SPD desde as eleições de 1932, em plena Grande Depressão, que levaram os nazistas ao poder
Antes do final do século 19, a Alemanha já era a segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos EUA, maiores e mais ricos em recursos naturais.
Mas os alemães eram os grandes pensadores, os grandes filósofos (Imanuel Kant, Josef Hegel, Karl Marx, Friedrich Nietzche, entre outros), desprezavam os americanos. O século 20 seria o século da Alemanha. Seria, se a Alemanha não tivesse se autodestruído em duas guerras mundiais.
A ascensão da Alemanha, inclusive como potência colonial, a partir da Conferência de Berlim (1884-85), quando os europeus fizeram a partilha da África, leva ao aumento da tensão e à formação da Tríplice Aliança (Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália), em 1882, e da Tríplice Entente (França, Grã-Bretanha e Rússia), em 1907.
Essas foram as alianças que travaram a Primeira Guerra Mundial de 28 de julho de 1918 a 11 de novembro de 1918. Esta guerra moldou o século 20. Foi responsável pela entrada dos EUA na cena internacional, a partir de 1917, e pela Revolução Russa, no mesmo ano.
Até março de 1918, a Alemanha tinha chance de ganhar, mas a entrada dos EUA e de seus recursos numa Europa arrasada decidiu a guerra.
Derrotada, a Alemanha foi submetida a dívidas de guerra e condições extremamente desfavoráveis na Conferência de Paz de Versalhes.
Para convencer o povo americano da necessidade de intervenção militar na Europa o presidente americano Woodrow Wilson dizia que era “a guerra para acabar com todas as guerras”.
Versalhes foi a paz para acabar com todas as pazes. Como o Congresso dos EUA rejeitou a Convenção da Liga das Nações, uma proposta de Wilson, os EUA retomaram sua posição isolacionista.
Humilhada e arrasada, a Alemanha deixa de ser um império (Wilson achava que a culpa da guerra era dos impérios e da aristocracia, da falta de democracia) e tenta uma breve experiência liberal na República de Weimar. Ela fracassa sob o peso de conflitos entre extremistas de direita e de esquerda depois de uma fracassada insurreição comunista, uma hiperinflação histórica de 30 mil por cento em 1923 e finalmente a Grande Depressão (1929-39).
Neste clima de anarquia e instalabilidade social, com o fantasma da revolução bolchevique, hiperinflação e depois a Grande Depressão, cria-se o cenário para a ascensão de um certo partido fundado numa cervejaria de Munique em 1919.
Em 27 de fevereiro de 1933, os nazistas incendiaram o Reichstag, o parlamento alemão (hoje aberto com uma cúpula projetada pelo Norman Foster para dar transparência), e botaram a culpa nos comunistas. Hitler, que havia sido nomeado chanceler (primeiro-ministro) em 30 de janeiro de 1933, pediu poderes especiais ao presidente, marechal Hindenburg, e iniciou uma caçada aos comunistas e depois aos outros partidos, aos judeus, aos homossexuais.
Nas eleições antecipadas de 5 de março de 1933, o Partido Trabalhista Nacional-Socialista Alemão conquistava 44% das cadeiras e, em aliança com outro partido nacionalista, maioria absoluta de 52%.
Os nazistas rejeitaram as restrições impostas por Versalhes e remilitarizaram na Alemanha, transformando-a mais uma vez numa poderosíssima máquina de guerra que enfrentou a União Soviética na frente oriental e a aliança atlântica no Ocidente. Para um país do tamanho da Alemanha, um feito e um custo terrível.
A Alemanha foi ocupada e dividida e assim foi seu status até a queda do Muro, quando finalmente as potências abriram mão de todos os seus direitos sobre território alemão, com a retirada das tropas soviéticas e a manutenção das forças dos aliados ocidentais da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
64 anos depois do fim da guerra, ainda há bases militares dos EUA na Alemanha. Mas quase ninguém parece se incomodar com isso.
* Este é o primeiro de uma série de artigos sobre a queda do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha. O título é de um filme sobre o nazismo.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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