Desde que os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, depois do bombardeio japonês a Pearl Harbor, no Havaí, em 7 de dezembro de 1941, o presidente Franklin Delano Roosevelt preparava a ordem mundial do pós-guerra. Na Europa, mais uma vez, o desafio era impedir a remilitarização da Alemanha.
É melhor uma Alemanha europeia do que uma Europa alemã.
A maneira de evitar novas guerras na Europa era integrar os povos europeus numa comunidade de modo que eles pudessem resolver pacificamente seus conflitos. Em larga medida, a União das Comunidades Europeias conseguiu transcender à guerra.
Os europeus vão à guerra ocasionalmente, como no Golfo, no Kossovo, no Afeganistão e no Iraque, geralmente com os EUA. Mas não há apoio popular para isso, e os orçamentos militares são pequenos.
Na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte, criada em 1949 para defender a Europa Ocidental e a América do Norte de uma invasão soviética), as decisões são tomadas por consenso mas 90% das armas de ponta são americanas.
A aliança ficou desequilibrada e pesada. É usada hoje pelos EUA muito mais como um instrumento político do que militar, ou como força subsidiária, de apoio. Mas essa é outra história.
O importante aqui é a paz eterna, sonhada pelo filósofo alemão Immanuel Kant em 1795 no ensaio Paz Perpétua e antes dele pelo Abade St.-Pierre, talvez o primeiro a propor a criação de uma organização internacional para proteger a paz mundial. Para nós, brasileiros e latino-americanos, a guerra é uma realidade distante.
Em alguns lugares de Berlim, a destruição foi preservada, como na Anhalter Banhof, uma estação de trem onde só sobrou a fachada.
COMUNIDADE EUROPEIA
A integração européia nasce com o Plano Schuman, numa referência ao ministro das Relações Exteriores da França na época, Robert Schuman. Foi lançado em 9 de maio de 1950, cinco anos depois do fim da guerra, com o objetivo central de acabar com o conflito franco-alemão. O projeto era de seu assessor Jean Monnet. Eles são considerados os pais da UE, que é o modelo de integração para o Mercosul e a Unasul.
É o marco do início da cooperação entre a França e a Alemanha. O primeiro resultado prático é a criação, em 18 de abril de 1951, da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Controlando a produção de carvão e aço, seria possível evitar uma nova corrida armamentista no continente.
A Alemanha se reconstroi com a ajuda do Plano Marshall e volta a ser uma economia importante. Há um filme do Rainer Werner Fassbinder, O Casamento de Maria Braun, que apresenta a recuperação como uma prostituição do país ao capitalismo americano, uma alegoria da Alemanha dos anos 50. A vitória na Copa de 54 é apresentada ironicamente como um marco do renascimento, do milagre econômico alemão, que segue pelos anos 60 e vai até a crise do petróleo de 1973.
Ao mesmo tempo, os EUA saíam da guerra como superpotência econômica do mundo capitalista, com quase metade da produção industrial e da riqueza.
A nova ordem econômica mundial proposta por Roosevelt na Conferência de Bretton Woods, que criou o Fundo Monetário Internacional e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), depois Banco Mundial, visava primeiramente evitar a volta da Grande Depressão nos EUA.
Para isso, seria necessário um comércio internacional aberto. Os EUA boicotavam assim todas as tentativas de integração regional porque elas sempre implicariam o surgimento de barreiras aos produtos americanos - e hegemonia é isso, impor sua vontade.
No caso da Europa, era diferente. O Exército Vermelho tinha se mostrado o melhor do mundo. Mais de 80% das tropas alemãs foram derrotadas na frente russa, e a União Soviética ocupou os países que libertou do nazismo na Europa Oriental. Na Guerra Fria, o Ocidente temia que o Exército Vermelho tomasse o resto da Europa.
As diferentes doutrinas de geopolítica sempre discutiram se o mais importante era ter o domínio dos mares ou de grandes massas continentais. Os EUA, com dois oceanos e sem inimigos na vizinhança, são uma potência aeronaval.
Uma tese é que quem domina a Ilha do Mundo (Eurásia e África) domina o mundo. A URSS só precisaria tomar a Europa Ocidental.
Os EUA precisavam de uma Europa capitalista unida e próspera para encarar o desafio comunista. A Europa – e sobretudo a Alemanha – era a primeira fronteira da Guerra Fria. Ali ia começar a guerra para acabar com o mundo.
A Comunidade Econômica Europeia nasce em 1957, quando seis países assinaram o Tratado de Roma: Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Nos anos 70, entrariam Dinamarca, Irlanda e Reino Unido. Nos anos 80, Grécia, Espanha e Portugal. Nos anos 90, Áustria, Finlândia e Suécia.
Em 1991, o Tratado de Maastricht, que demorou algum tempo a ser ratificado porque chegou a ser rejeitado na Dinamarca por causa da moeda única, cria a União das Comunidades Europeias, a União Europeia, com a proposta de união econômica, monetária e política.
A queda do Muro de Berlim trouxe novos candidatos, ampliou a UE e retardou o aprofundamento da integração. Entraram muitos países pobres, com níveis de desenvolvimento muito abaixo da média comunitária.
Em 2004, entraram Hungria, Polônia, República Tcheca, Estônia, Letônia, Lituânia, Chipre, Malta, Eslováquia e Eslovênia. Acabava a divisão da Europa feita por Roosevelt, Stalin e Churchill na Conferência da Yalta.
Ainda entraram, em 2007, a Bulgária e a Romênia. Estão na fila a Croácia, a Sérvia (que depende da prisão de Ratko Mladic, general sérvio-bósnio) e a Turquia, que negocia há pelo menos 15 anos.
O euro surge como moeda contábil em 1999 e passa a circular em 2002 como moeda ancorado na rígida disciplina do Bundesbank, o banco central alemão, ainda traumatizado pela hiperinflação de 1923.
A chanceler (primeira-ministra, o cargo de chefe de governo na Alemanha chama-se Kanzler, Bundeskanzler, Chanceler Federal) Angela Merkel se apavora com o envididamento público dos EUA e do Reino Unido para combater a crise. Considera irresponsáveis, assim como a própria cultura dos centros financeiros de Nova York e Londres, onde começou a crise, na visão da Alemanha e da França.
Esses países são aliados do Brasil no G-20, na tentativa de regulamentar o sistema financeiro internacional. O presidente francês, Nicolas Sarkozy insiste em impor limites ao pagamento de bônus para que remunerem o sucesso a longo prazo e quer punir quem causar prejuízo. Nos centros financeiros, será difícil acabar com a cultura dos bônus, vistos como parte inalienável da remuneração dos grandes executivos do setor.
A França e a Alemanha são o eixo central ao redor do qual foi construída a integração. Mas a queda do Muro de Berlim, ao criar uma Alemanha maior, mais populosa e mais poderosa, criou uma assimetria de poder e de interesses que abala esse eixo.
Reunificada, a Alemanha partiu para conquistar o Leste Europeu. Investiu pesadamente na Polônia, na República Tcheca, na Hungria e na Rússia. Os alemães são os maiores investidores estrangeiros na Rússia.
Em todos os países do Leste, invadidos pelos nazistas e ocupados por Stalin, há ressentimento contra a Alemanha e contra a Rússia. Eles viveram espremidos por dois gigantes cruéis. Não é à toa que são aliados fiéis dos EUA.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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