O partido de centro-direita Kadima (Avante) elegeu 28 deputados, a maior bancada da Knesset, o Parlamento de Israel. Mas tudo indica que o ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, do partido direitista Likud, que conquistou 27 cadeiras, terá mais facilidade para formar um governo.
Como o parlamento israelense tem 120 cadeiras, o primeiro-ministro precisa do apoio de pelo menos 61 deputados para ser confirmado no cargo. Nenhum partido conseguiu fazer um quarto dos deputados, quanto menos a maioria, por causa do sistema eleitoral do país, que é rigorosamente proporcional. Isso fortalece os pequenos partidos.
Cabe agora ao presidente Shimon Peres escolher um líder partidário para tentar articular uma coligação viável. O presidente pode dar uma chance à atual ministra do Exterior, Tzipi Livni. Ela não teve sucesso quando sucedeu ao atual primeiro-ministro Ehud Olmert, derrubado por corrupção, na liderança do Kadima, em setembro de 2008.
A grande vedete das eleições foi o partido ultranacionalista Israel Beiteinu, liderado pelo imigrante russo Avigdor Lieberman, que elegeu 15 deputados com um discurso racista anti-árabe. Lieberman se tornou o fiel da balança na formação de qualquer coligação. Isso entusiasma Netanyahu, que considera a extrema direita uma aliada natural.
Também existe a possibilidade de se formar um governo de união nacional, uma grande coalizão, mas isso depende das concessões que a direita estiver disposta a fazer para negociar a paz com os palestinos com a mediação dos Estados Unidos.
Afinal, o Kadima foi fundado há pouco mais de três anos pelo então primeiro-ministro Ariel Sharon. Foi uma divisão do Likud feita por Sharon para criar um partido capaz de negociar a paz com os palestinos.
Como general, Sharon estava convencido de que a segurança de Israel depende do estabelecimento de fronteiras definitivas, o que exige a criação do Estado árabe prevista na partilha da Palestina ordenada pelas Nações Unidas em 1947.
O Partido Trabalhista, fundador de Israel, acaba de sofrer sua maior derrota eleitoral, mas também está comprometido com uma paz permanente. Isso exige uma negociação ampla que acabe com a estratégia gradual dos acordos de Oslo, nos anos 90.
Naquela época, surgiu a fórmula Gaza e Jericó primeiro. A Autoridade Nacional Palestina assumiria pouco a pouco o controle sobre os territórios árabes ocupados por Israel para que fosse criada confiança mútua ao longo do processo, na expectativa de se chegar a uma paz duradoura.
Funcionou, no início, com a implantação do governo semi-autônomo palestino na Faixa de Gaza e em parte da Cisjordânia. Mas o gradualismo deu aos extremistas dos dois lados uma espécie de direito de veto ao progresso das negociações.
Em 2000, no fim do governo Bill Clinton (1993-2001), os EUA tentaram mediar um acordo entre Arafat e o então primeiro-ministro Ehud Barak, hoje ministro da Defesa e líder trabalhista. Na época, Barak já estava convencido de que o gradualismo era um beco sem saída.
O fracasso das negociações de Camp David levou o então líder da oposição israelense, Ariel Sharon, a visitar o Monte do Templo, no setor árabe de Jerusalém. Isso foi visto como uma ameaça de reconstrução do Templo, que fica junto à Esplanada das Mesquitas, e provocou a segunda intifada (revolta das pedras) contra a ocupação israelense, em que o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), que rejeita os acordos de Oslo, cometeu a maioria dos atentados terroristas contra Israel.
Desde antes, o Hamas e a extrema direita se nutrem mutuamente, garantindo a estagnação de um processo de paz iniciado em 1991, quando a guerra de libertação do Kuwait criou um clima mais favorável aos EUA no mundo árabe. Obama promete romper com esta injustiça histórica que alimenta o ódio e o anti-americanismo no mundo muçulmano, facilitando o recrutamento de terroristas suicidas por grupos como a rede terrorista Al Caeda.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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