No seu primeiro pronunciamento ao Congresso como presidente, Barack Obama apresentou uma agenda ambiciosa que inclui a cura do câncer. Ele prometeu que "os Estados Unidos vão se recuperar, se reconstruir e reemergir mais fortes".
Depois de uma longa ovação ao entrar no plenário e de outra para sua mulher, Michelle Obama, o presidente falou "para aqueles que nos mandaram para cá", começando pela crise econômica.
"O impacto desta recessão atingiu cada casa, cada família", observou Obama, mas "as respostas não estão ao nosso alcance. Precisamos nos unir para enfrentar os desafios audaciosamente, assumindo juntos a responsabilidade pelo nosso futuro.
"Nossa sobrevivência depende cada vez mais de encontrarmos fontes alternativas de energia". Ele prometeu concentrar o investimento público em "mais recursos para energia, saúde e educação", acrescentou o presidente americano. "Com frequência demais, optamos por ganhos de curto prazo em troca da prosperidade a longo prazo".
Obama defendeu uma reforma do sistema regulatório, culpando a desregulamentação pela atual crise financeira global. E prometeu reduzir o déficit orçamentário dos EUA.
"Meu programa econômico começa com empregos", declarou Obama. "Pedi ao Congresso que aprovasse o estímulo não porque acredite em governo grande. Não acredito. Mas, em dois anos, a Lei de Recuperação Econômica e Reinvestimento vai criar ou poupar 3,5 milhões de empregos."
Um comitê de supervisão chefiado pelo vice-presidente Joe Biden vai fiscalizar o emprego dos US$ 787,5 bilhões, "e ninguém vai querer confusão com Joe", brincou o presidente. "Os governadores e prefeitos terão de prestar contas".
O plano de recuperação, acrescentou, é apenas um dos pilares da reconstrução da economia dos EUA. Não vai resolver o problema se a crise financeira não for solucionada. Há uma crise de crédito, "e o crédito é o sangue da nossa economia".
Outro problema sério é a crise no setor habitacional. Para enfrentá-la, o presidente anunciou na semana passada seu plano para refinanciar os imóveis que hoje valem menos do que no contrato de compra e venda. Isso dará, assegura Obama, um desconto de US$ 2 mil por ano nas prestações da casa própria.
"Quando grandes bancos tiverem problemas, vamos impor condições rigorosas para a ajuda federal, obrigando-os a prestar contas do que fazem com os dólares do contribuinte americano", garantiu Obama, recebendo aplausos dos deputados e senadores dos dois partidos.
"Talvez a gente precise de mais dinheiro", reconheceu, "mas é melhor do que não fazer nada".
Depois de admitir que parte do plenário à sua frente discorda dele, Obama afirmou que "não se pode governar com raiva. É preciso governar com responsabilidade. Não estamos aqui para salvar bancos, e sim para salvar pessoas. Com certeza, a economia vai se recuperar."
Na quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009, o presidente deve encaminhar sua primeira proposta orçamentária à Câmara com "uma visão do futuro" em que "o governo tem um papel ao lançar as bases do crescimento econômico".
Suas prioridades são energia, educação e saúde. "O país que conseguir energia de fontes limpas vai dominar o mundo no século 21. Infelizmente, a China tem feito mais investimento do que os EUA. Os EUA inventaram a energia solar, mas hoje há mais coletores no Japão e na Alemanha do que nos EUA", reclamou.
"É hora dos EUA reassumirem a liderança", conclamou. Por isso, Obama quer dobrar a quantidade de energia gerada de fontes renováveis nos próximos três anos, botando operários para trabalhar em coletores solares e de energia dos ventos.
Ao defender o apoio à indústria automobilística, disse que "o país que inventou o automóvel não pode virar as costas para ele". Isso não é verdade. O automóvel é uma invenção do alemão Karl Benz, em 1885. O americano Henry Ford popularizou o automóvel e colocou os Estados Unidos na liderança da indústria automobilística, o que está ameaçado hoje pela crise nas Três Irmãs de Detroit (General Motors, Ford e Chrysler).
Ele pediu ao Congresso que proponha uma nova Lei de Energia Limpa.
"A saúde é algo que pesa negativamente sobre a nossa economia há tempo demais", diagnosticou Obama. Um sistema de saúde preventiva vai reduzir os custos. "Uma reforma ampla e profunda vai reduzir os custos. A reforma não pode esperar mais um ano", bradou.
No século 21, em plena era da globalização, "uma boa educação é um prerrequisito para o sucesso. Temos os maiores índices de abandono dos estudos no ensino médio entre os países ricos. Isso é inaceitável. Quero garantir uma educação completa e competitiva para toda criança e melhorar a qualidade do ensino superior."
"Abandonar a escola no ensino médio não pode ser uma opção. Todos os jovens americanos devem ter um curso superior. Precisamos ter o maior índice de graduados. Não é impossível", desafiou.
Na campanha, o presidente afirmou que quem se voluntariasse para o serviço público conseguiria uma bolsa de estudos para chegar à universidade. Ontem, pediu ao Congresso que faça uma lei sobre o serviço civil.
"Uma boa educação abre as portas e dá boas oportunidades a nossos filhos", continuou. "Mas, e aqui falo como pai, a educação começa em casas. É nossa responsabilidade desligar e televisão, o videogame e o computador, e abrir um livro para ler com as crianças".
Os EUA não podem legar uma dívida impagável para suas crianças, alertou o presidente, diante do acúmulo de déficits com os planos trilionários para combater a crise. Obama disse já ter revisado profundamente o orçamento para reduzir o déficit público federal pela metade até o final de seu governo, em 2013. Isso exigirá aumento de impostos para os 2% mais ricos.
Na política externa, que ficou em segundo plano diante da gravidade da crise econômica, o presidente prometeu apoio incondicional às tropas americanas, com reajuste dos soldos, aumento das pensões e dos programas de saúde para os veteranos. Mas disse que as Forças Armadas dos EUA são mais eficientes quando mantem os valores dos EUA e se tornam um exemplo desses valores.
"Os EUA não torturam", repetiu Obama, marcando uma mudança em relação ao governo George W. Bush. Acenou ainda com "uma nova era de engajamento. Os EUA tem problemas que não podem resolver sozinhos. O mundo não pode resolver vários problemas sem nós".
Depois de lembrar que designou um enviado especial para a paz no Oriente Médio e de criticar o protecionismo, o presidente concluiu: "Estamos numa encruzilhada da História. Os olhos do mundo estão voltados para nós. Temos a capacidade de forjar o nosso mundo". E citando uma garotinha sentada ao lado de sua mulher, que mandou uma carta reclamando do estado de sua escola na Carolina do Sul, alegou que os americanos não abandonam a luta.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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