domingo, 4 de janeiro de 2009

Exército de Israel divide Gaza em duas

O Exército de Israel dividiu hoje a Faixa de Gaza em duas, cercou a Cidade de Gaza e matou pelo menos mais três líderes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas).

Em Teerã, o presidente do parlamento do Irã, Ari Larijani, repetiu a ameaça feita ontem por líderes do grupo extremista palestino de "transformar Gaza num cemitério" para os soldados de Israel.

Há vários conflitos: o primeiro é o conflito árabe-israelense, a questão palestina, um povo sem pátria porque até hoje não foi criado o Estado árabe previsto na decisão das Nações Unidas. Isso criou uma guerra sim e um problema de refugiados desde a fundação de Israel, em 1948.

Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel ocupou a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, assumindo o controle de todo o território histórico da Palestina, entregue pela Liga das Nações ao Império Britânico no final da Primeira Guerra Mundial, que os extremistas israelenses consideram o território sagrado da Grande Israel.

Além deste conflito, há o conflito ou a guerra civil interna do Islã sobre qual é a verdadeira interpretação do Corão, contrapondo fundamentalistas e secularistas. Isso alinha a guerra Israel x Hamas na luta dos EUA e seus aliados contra o jihadismo, a guerra de George W. Bush contra o terrorismo.

O Hamas é um partido de orientação religiosa que se opõe à Fatah do presidente palestino, Mahmoud Abbas, e boicota as negociações de paz da Autoridade Nacional Palestina com Israel e os Estados Unidos. Mas suas diferenças com a Organização para a Libertação da Palestina, que é laica, não são religiosas, são políticas.

Em algum momento, será necessário negociar com o Hamas. A viagem que o presidente da França, Nicolas Sarkozy inicia nesta segunda-feira ao Oriente Médio, passando por Israel, a Cisjordânia, a Jordânia, o Líbano e a Síria mostra a intenção de buscar um acordo amplo para tornar a paz entre árabes e israelenses. É evidente a intenção de atrair a Síria e isolar o Irã.

Israel, por sua vez, realiza eleições gerais em fevereiro. O líder da oposição direitista, o ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, liderava as pesquisas pregando uma invasão a Gaza para acabar com os ataques do Hamas.

Desde que Israel deixou a Faixa de Gaza e retirou os 8 mil colonos instalados no território palestino, em 2005, mais de 3 mil foguetes disparados de lá atingiram o território israelense. Mesmo durante os últimos seis meses de trégua encerrada em 19 de dezembro, um a dois foguetes caíam diariamente no Sul de Israel.

O ministro da Defesa, Ehud Barak, também ex-primeiro-ministro, é candidato a voltar à chefia do governo como líder do Partido Trabalhista. A ministra do Exterior, Tzipi Livni, é candidata pelo partido Kadima (Avante), do atual primeiro-ministro Ehud Olmert, que renunciou em meio a um escândalo de corrupção envolvendo financiadores de campanhas eleitorais.

A maioria da população israelense (52%) é a favor da continuação da ofensiva até o fim dos ataques de foguetes da Faixa de Gaza.

Há ainda a disputa pela liderança regional entre EUA e Irã, que se manifesta no apoio iraniano a grupos como o Hamas e a milícia fundamentalista xiita libanesa Hesbolá (Partido de Deus).

O Irã foi o maior beneficiário da invasão americana ao Iraque, que derrubou seu inimigo e levou ao poder um governo da maioria xiita, que tem uma afinidade histórica, política e cultural com o país vizinho. É uma potência regional e está desenvolvendo armas nucleares.

Ao desafiar Israel e resistir a uma ofensiva israelense de 12 de julho a 14 de agosto de 2006, o Hesbolá quebrou o mito da invencibilidade israelense e se fortaleceu como líder da oposição libanesa. Tanto para o Hesbolá como para o Hamas, tudo é feito em nome de uma resistência que iguala seus adversários políticos a lacaios de Israel e dos EUA.

Esta invasão israelense à Faixa de Gaza, iniciada no sábado, 3 de janeiro de 2009, visa também a restaurar a credibilidade das Forças Armadas de Israel, abalada pela desastrosa campanha no Líbano, já sob o governo Olmert.

O primeiro-ministro demissionário, à espera apenas das próximas eleições para entregar o cargo com desonra ao sucessor, tenta melhorar sua imagem na História. Mas mesmo que obtenha uma vitória militar, o ganho moral e político pode ir para o inimigo, como aconteceu com o Hesbolá há dois anos e meio.

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