Cerca de 43 milhões de turcos estão aptos para votar hoje em eleições parlamentares que opõem o governista Partido da Justiça e do Desenvolvimento, muçulmano moderado, e o nacionalismo secularista, o chamado kemalismo, a ideologia de Mustafá Kemal Ataturk, o fundador da república da Turquia, em 1923, depois da derrota do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial (1914-18).
As urnas serão abertas daqui a pouco, às 7h em Ancara (1h em Brasília), e fechadas às 21h (15h em Brasília). O governo é o favorito nas pesquisas de opinião para ficar no poder por mais cinco anos. A dúvida é o tamanho da vitória do primeiro-ministro Recep Tayyp Erdogan, que tem como um objetivo central entrar para a União Européia, ou seja, não é muçulmano tão radical assim.
Erdogan declarou na campanha que um aumento da votação de seu partido fortalecerá a democracia na Turquia, onde em 1997 o Exército, guardião do kemalismo, derrubou um governo islamita há 10 anos. O primeiro-ministro tem o apoio do empresariado, favorável à adesão à UE.
Além do Partido da Justiça e do Desenvolvimento, só outros dois devem superar a barreira de 10% dos votos para conseguir entrar no parlamento - o Partido Popular Republicano, nacionalista de centro-esquerda, e o Partido Movimento Nacionalista, de extrema direita.
Os dois partidos de oposição fizeram campanha alegando defender o Estado secularista contra o fundamentalismo muçuimano. Mas Erdogan ridicularizou as sugestões de que ele pretende impor à Turquia um regime como o dos aiatolás no Irã.
Alguns candidatos independentes, na maior parte representantes da minoria curda, também podem se eleger. Com a autonomia dos curdos no Norte do Iraque, o Exército da Turquia vê com inquietação a possibilidade do surgimento do Curdistão, que inevitavelmente reivindicaria a região turca onde os curdos são maioria. Síria e Irã também têm importantes minorias curdas, mas a maior de todas está na Turquia.
A expectativa é que o governo ganhe mas fique com uma maioria parlamentar menor porque a oposição está mais unida. O mercado aprova as políticas liberais de Erdogan mas teme o aumento as tensões com os secularistas, se o governo islamita ampliar sua maioria no parlamento.
O novo governo terá de enfrentar diversos desafios, a começar pelo controle da violência dos rebeldes curdos no Leste do país e decidir se o Exército vai invadir o Iraque para combater os grupos guerrilheiros curdos que montaram suas bases no Iraque.
Também precisa encontrar um candidato de consenso à presidência, um cargo cerimonial, já que o governo está nas mãos do primeiro-ministro. Foi a tentativa de eleição indireta para a presidência do ministro do Exterior, Abdullah Gul, que deflagrou a crise que levou às eleições disputadas hoje.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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