O correspondente da rede televisão pública britânica BBC na Faixa de Gaza, Alan Johnston, foi libertado hoje depois de ficar mais de 100 dias refém. Ontem, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) prendeu um dos líderes do grupo que o detinha, auto-intitulado Exército do Islã.
Neste momento, o primeiro-ministro Ismail Haniyeh, do Hamas, destituído pelo presidente Mahmoud Abbas, dá entrevista ao lado de Johnston, tentando faturar politicamente com a libertação.
Desde que o Hamas assumiu o controle de Gaza, depois de uma batalha contra as forças da Fatah (Luta), o partido de Abbas, os Estados Unidos, a União Européia e Israel passaram a apoiar o novo governo nomeado pelo presidente, na esperança de isolar o Hamas.
O Hamas tenta assim mostrar-se como um partido político e um interlocutor válido nas negociações de paz no Oriente Médio, apesar de suas posições linha-dura, como a pregação da luta armada e da destruição de Israel.
Agora Johnston começa a falar: "Foram as piores 16 semanas da minha vida. Sempre com medo. Preso por gente violenta e imprevisível. Depois de duas semanas, me deram um rádio. Pude ouvir a BBC e perceber como criou-se uma rede internacional de solidariedade, e como havia apoio do povo palestino, e especialmente dos jornalistas palestinos, para que eu fosse libertado. O primeiro-ministro Haniyeh, desde o início, disse que eu era um hóspede do povo palestino e que não poderia ser tratado daquela maneira".
"Depois que o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza, os seqüestradores ficaram mais nervosos. Tive uma esperança e acabou dando certo", contou o repórter da BBC.
Haniyeh disse que "isto prova que há cooperação entre todo o povo palestino, e esta cooperação vai nos levar a grandes conquistas e à libertação da nossa terra".
Várias vezes os seqüestradores foram duros e violentos com Johnston, ameaçando sua vida: "Em um momento, eles ficaram furiosos com o andamento das negociações, me amarraram".
Nas últimas semanas, Johnston diz que passou a ter menos medo de morrer. Um porta-voz do Hamas declara que seus homens estavam "acompanhando Johnston há semanas. Poderíamos atacar mas não atacamos. Nossa preocupação era libertar este homem".
A seguir, ele prometeu trabalhar pela união nacional dos palestinos sem impor condições.
O Hamas queria mostrar também que é capaz de controlar a segurança pública, apresentar-se perante o mundo como uma força política responsável. Desde janeiro de 2006, quando o movimento islamita venceu as eleições parlamentares palestinas, os Estados Unidos, Israel e a União Européia passaram a boicotar economicamente a Autoridade Nacional Palestina, alegando que o Hamas é um grupo terrorista.
Veja a cobertura da BBC sobre a libertação de Alan Johnston.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário