Com 99,71% das urnas apuradas, o acordo de paz negociado entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) foi rejeitado em referendo com 6.426.858 (50,23%) votos não contra 6.366.621 (49,76%) para o sim. As FARC já anunciaram que não pretendem voltar à situação anterior ao início das negociações, informa o jornal El Espectador.
As pesquisas de opinião apontavam uma vitória do sim com cerca de 60% dos votos. O grande derrotado é o presidente Juan Manuel Santos, ex-ministro da Defesa. Ele apostou no processo de paz como grande realização de seu governo e enfrentou forte oposição do ex-presidente e ex-chefe Álvaro Uribe (2002-10). Juntos, os dois impuseram várias derrotas militares às FARC, enfraquecendo o grupo guerrilheiro, que terminou negociando numa posição débil.
Mesmo assim, os guerrilheiros entraram nas negociações realizadas em Havana, a capital de Cuba, exigindo uma mudança no regime político e no sistema econômico do país, como se tivessem força para tanto.
No acordo, as FARC aceitaram a democracia liberal, a economia de mercado, o fim da luta armada, ao desarmamento, a desmobilização, uma anistia parcial e um tribunal especial para julgar crimes contra a humanidade, como assassinatos e sequestros.
"A paz é o caminho. Todos os colombianos devem ser protagonistas deste momento histórico", declarou Santos ao votar hoje de manhã.
Uribe defendeu o não: "A paz é ilusória. Os textos de Havana são decepcionantes", acrescentou, advertindo que o acordo garante a impunidade dos guerrilheiros e encaminha a Colômbia para o "castrochavismo" de Cuba e da Venezuela.
Depois de 52 anos de uma guerra civil com cerca de 260 mil mortes e 6,9 milhões de pessoas desalojadas internamente, o eleitorado colombiano rejeitou a anistia parcial. Aliados de Uribe defenderam o não alegando que permitia uma renegociação em condições menos favoráveis à guerrilha.
"Ganhou o ódio às FARC", comentou o cientista político Jorge Restrepo, diretor do Centro de Recursos para Análise de Conflitos (Cerac). "Ficamos com uma profunda crise política com consequências econômicas muito negativas. Agora, serão as FARC que decidirão se seguem com o cessar-fogo, o desarmamento e a reintegração à vida civil."
Durante a 10ª Conferência das FARC, o comandante Carlos Antonio Losada, declarou que "não existe a menor possibilidade de que o que foi acertado em Havana seja renegociado". Diante de uma possível derrota no referendo, Losada observou que "isso não significa que se deva jogar no lixo todo o processo porque a paz como um direito síntese não pode nos levar a tomar a decisão de seguir com esta guerra tão dolorosa."
A rejeição do acordo desestimula o Exército de Libertação Nacional (ELN), segundo maior grupo guerrilheiro da Colômbia, a aderir ao processo de paz.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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