As duas maiores economias do mundo assinam hoje um primeiro acordo para dar uma trégua na guerra comercial que reduziu o crescimento mundial no ano passado em cerca de um ponto percentual. Mas as diferenças estão longe de ser totalmente resolvidas.
Faz três anos que o presidente Donald Trump chegou ao poder determinado a reduzir o déficit comercial dos Estados Unidos, especialmente com a China, na base de tuitaços e tarifaços. Hoje o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, assina o acordo na Casa Branca. Trump deve participar da cerimônia, informou o jornal inglês Financial Times.
Neste acordo preliminar, a China se compromete a comprar US$ 200 bilhões dos EUA em dois anos. De acordo com o jornal South China Morning Post, de Hong Kong, serão US$ 75 bilhões em produtos manufaturados, US$ 50 bilhões em carvão, petróleo e derivados, US$ 40 bilhões em produtos agrícolas e US$ 35 bilhões em serviços.
Em troca, os EUA vão suspender parte dos tarifaços anunciados e em vigor, mas não mexer na alíquota de 25% aplicada a produtos importados da China num valor anual de US$ 250 bilhões. Ficam de fora os subsídios do governo chinês a suas empresas, base de sua política industrial para se tornar a maior economia do mundo, e a espionagem cibernética.
A China prometeu ainda aumentar a proteção à propriedade intelectual, abrir seu setor financeiro a empresas estrangeiras e não desvalorizar a moeda para baratear seus produtos, tornando-os mais competitivos no mercado internacional.
Como parte do acordo, em 13 de janeiro, o Departamento do Tesouro dos EUA tirou a China da lista negra de países que manipulam o câmbio com as desvalorizações competitivas.
Para o jornal The Wall Street Journal, porta-voz do centro financeiro de Nova York, serão necessários anos para avaliar as consequências da guerra comercial de Trump. Nos EUA, os maiores prejuízos foram os produtores rurais, uma importante base política do Partido Republico. O presidente deu uma ajuda de US$ 28 bilhões ao setor.
As relações comerciais entre os dois países caíram muito no ano passado. As exportações da China para os EUA caíram 13% e as importações chinesas 21%. Os EUA passaram a ser o terceiro maior parceiro comercial da China, depois da União Europeia e da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). O saldo comercial chinês com os EUA baixou em 8,5% para US$ 295,8 bilhões.
O conflito, que abalou os mercados financeiros desde março de 2018, pode terminar, pelo menos nesta primeira fase, com a indiferença geral. As bolsas de valores estão hoje de olho na crise entre EUA e Irã e seu impacto para a economia mundial.
Mas o acordo entre os EUA e a China é apenas uma trégua na competição estratégica, econômica, científica, tecnológica e militar, que deve se estender pelas próximas décadas como o principal elemento estruturante das relações internacionais do século 21.
O Brasil ganhou com a guerra comercial por causa do aumento das importações chinesas de produtos agrícola. Agora, o acordo pode criar um desvio de comércio, com prejuízo para os produtores rurais brasileiros.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2020
EUA e China assinam acordo que dá uma trégua na guerra comercial
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