O general Kassem Suleimani, comandante da Força Quods, braço da Guarda Revolucionária do Irã para ações no exterior, foi morto hoje num bombardeio dos Estados Unidos a Bagdá, a capital do Iraque, informou há pouco a televisão iraquiana. Com a notícia, que ameaça inflamar ainda mais o Oriente Médio, os preços internacionais do petróleo subiram.
O ataque atingiu alvos perto do aeroporto de Bagdá. Os detalhes ainda são confusos, mas há relatos de que cinco pessoas morreram, entre elas o líder das milícias Kataib Hesbolá (Brigadas do Partido de Deus), Abu Mahdi al-Muhandis, e o relações públicas das Forças de Mobilização Popular, nome do conjunto das milícias xiitas, Mohamed Ridha Jabri.
A morte do general foi confirmada oficialmente nem pelos EUA. É uma grande escalada no conflito do governo Donald Trump com a República Islâmica. Com certeza, o Irã dará uma resposta forte.
"Se for verdade, será um golpe arrasador para a Guarda Revolucionária, o regime e as ambições regionais do aiatolá Ali Khamenei", o Supremo Líder Espiritual da Revolução Islâmica, comentou Mark Dubowitz, diretor executivo da Fundação para a Defesa da Democracia, um centro de pesquisas conservador que defende uma política de linha dura contra o Irã.
Durante 23 anos, o general comandou as forças de operações especiais da Guarda Revolucionária. "Era indispensável e insubstituível", acrescentou Dubowitz.
Suleimani era acusado pelos EUA pelas mortes de centenas de soldados americanos durante a invasão do Iraque, quando o Irã passou a financiar, armar e treinar milícias xiitas iraquianas. Desde 2014, quando os EUA voltaram ao Iraque para combater a organização terrorista Estado Islâmico, as milícias xiitas eram aliadas.
No domingo, os EUA fizeram o primeiro ataque a milícias xiitas no Iraque desde essa volta, em resposta a um bombardeio de mísseis contra uma base iraquiana onde havia soldados americanos e um funcionário contratado pelo Departamento da Defesa foi morto na semana passada.
Em reação, milicianos atacaram a embaixada americana em Bagdá a fizeram manifestação pedindo a retirada das forças dos EUA do país.
Os EUA e o Irã não mantêm relações diplomáticas desde que guardas revolucionários invadiram a embaixada americana em Teerã, em 4 de novembro de 1979, e mantiveram 52 americanos como reféns por 444 dias.
Em 8 de maio de 2018, o presidente Donald Trump abandonou o acordo nuclear negociado pelo governo Barack Obama, as outras grandes potências do Conselho de Segurança das Nações Unidas (China, França, Reino Unido e Rússia) e a Alemanha para congelar por dez anos o programa nuclear militar do Irã, evitando assim que o país fabrique armas atômicas.
Desde então, o governo Trump trava uma guerra econômica para forçar a República Islâmica a negociar um acordo mais amplo, que inclua a proibição de ter armas atômicas e mísseis de médio e longo alcances, e de interferir em outros países do Oriente Médio. Trump quer impedir o Irã de exportar petróleo.
Com uma queda nas vendas ao exterior de 3 milhões para 600 mil barris por dia, a economia iraniana está em recessão, com inflação rondando os 50% ao ano. Uma onda de protestos contra a situação econômica foi duramente reprimida pela ditadura teocrática iraniana, com mais de 200 mortes.
Sob pressão da guerra econômica de Trump, a partir de maio, a Guarda Revolucionária atacou navios petroleiros e derrubou um drone militar americano. Em 14 de setembro, um ataque de mísseis atingiu instalações de petróleo da Arábia Saudita. Uma milícia xiita que luta na guerra civil do Iêmen com o apoio do Irã reivindicou a responsabilidade pelo ataque.
A política do governo Trump é clara: os EUA só usam a força quando vidas americanas foram ameaçadas. Foi o caso em pelo menos 11 ataques contra bases militares onde há soldados americanos no Iraque nos últimos dois meses e na tentativa de invasão da embaixada dos EUA em Bagdá, atacada com pedras e bombas incendiárias.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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