sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Putin indica tecnocrata Mikhail Michustin para primeiro-ministro

Por 383 a zero, com 44 abstenções, o Parlamento da Rússia aprovou ontem a indicação do novo primeiro-ministro, Mikhail Michustin, um tecnocrata discreto de 53 anos, pianista e poeta nas horas vagas. Desde 2010, dirigia a Receita Federal da Rússia, conseguindo aumentar a arrecadação, apesar da crise internacional. 

A queda do primeiro-ministro Dimitri Medvedev, que foi presidente de 2008 a 2012, e de todo seu governo reduz a esperança de uma liberalização do regime ditatorial de Vladimir Putin na Rússia. Ele será vice-presidente do Conselho de Segurança Nacional.

Michustin será o responsável pelas mudanças anunciadas por Putin em discurso na Duma do Estado, a Câmara dos Deputados da Rússia, dois dias atrás. Entre as propostas, há um programa de "projetos nacionais", com orçamento de US$ 417 bilhões, e mais US$ 6,4 bilhões a US$ 8 bilhões em programas sociais.

Mas o discurso do novo chefe de governo falou de questões citadas repetidamente em discursos oficiais: justiça social, aumento da renda média e "defesa dos valores tradicionais". Ele apontou como prioridade melhorar o padrão de vida dos russos. "As pessoas precisam sentir mudanças reais para melhor, mas isto está longe de acontecer em toda parte."

Como tecnocrata, Michustin prometeu "uma administração com uma nova qualidade", com informatização do acesso aos serviços públicos, aumento de exportações, investimentos em estradas, melhora no ambiente de negócios e atração de capital estrangeiro. Sua missão é reduzir o descontentamento social

O novo primeiro-ministro nasceu em Moscou em 3 de março de 1966 e se formou em engenharia de sistemas em 1992, logo após o colapso da União Soviética. É interessado na tecnologia blockchain de armazenamento e transmissão de informações usada para negociar criptomoedas.

Ele entrou para o serviço público em 1998, ano em que a economia russa entrou em virtual colapso. Um ano depois, foi nomeado secretário-geral do ministério encarregado da arrecadação de impostos, onde conseguiu combater a evasão fiscal com a digitalização.

A arrecadação cresceu, dando ao Estado russo condições de operar. Depois de uma  breve passagem pelo setor financeiro privado, de 2008 a 2010, Michustin chefiou a Receita Federal da Rússia. Era um membro ativo da rede de compartilhamento de informações da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE). Colaborava com funcionários de países ocidentais em questões como regulamentação e fraude fiscal.

Como secretário da Receita, Michustin aprendeu a ver a economia da Rússia sob vários ângulos, da macroeconomia, das empresas e dos indivíduos, as questões municipais, regionais e federais. "Ele fez um trabalho bem-sucedido de transformar a Receita numa agência moderna, tecnológica e muito menos corrupta, mas tomou longo tempo", comentou uma fonte do Kremlin ao jornal Financial Times.

Por um lado, há uma expectativa de um governo mais despolitizado e gerencial, preocupado em melhor o ambiente de negócios. De outro, a inexperiência política de Michustin aumenta o controle do presidente.

O líder da oposição, o advogado Alexei Navalny, o acusa de enriquecimento ilícito. Pergunta qual a origem de 12 milhões de euros que estão na declaração de renda de sua mulher. Michustin também ocultaria a propriedade de um imóvel no valor de 9 milhões de euros registrado oficialmente como sendo da Federação Russa.

Jogador de hóquei, o novo primeiro-ministro é diretor do CSKA, de Moscou. "As pessoas ignoram como ele é afiado politicamente", observou um executivo de empresa estatal russa. "A beleza do hóquei é que capacita as pessoas a tomar decisões de qualidade em alta velocidade."

Nenhum comentário: