Em tom triunfalista, o presidente Donald Trump declarou há pouco na Casa Branca que "o Irã parece estar recuando" depois de ataques de mísseis durante a noite contra duas bases militares do Iraque onde há soldados dos Estados Unidos sem ferir ninguém. Ele recua de uma guerra que poderia afetar sua reeleição para sanções, sua arma favorita.
Trump ameaçou a República Islâmica com novas sanções e convocou os outros países que assinaram o Acordo de Viena, em 2015, para congelar o programa nuclear iraniano, a abandonar o acordo se juntar aos EUA na sua estratégica de pressão máxima para forçar o regime dos aiatolás a negociar de novo.
A retaliação iraniana mostrou que o país tem a capacidade de responder com seus mísseis, mas evitou mais derramamento de sangue para desescalar o conflito. O Iraque foi avisado com antecedência pelo Irã e os satélites americanos detectaram os lançamentos de mísseis.
É evidente que o Irã ficou com medo da reação "desproporcional" ameaçada por Trump no conflito agravado pelo assassinato do general Kassem Suleimani, que era comandante da tropa de elite da Guarda Revolucionária Iraniana, em 3 de janeiro, num ataque de drones americanos.
O atual governo dos EUA gostaria de negociar um acordo para impedir o Irã não só de ter armas atômicas. Quer incluir também a proibição de ter mísseis de médio e longo alcances e de interferir politicamente em outros países do Oriente Médio.
A ditadura iraniana dificilmente aceitaria. Acredita que o objetivo final de Trump é a mudança no regime. Todo regime revolucionário exporta sua revolução como mecanismo de defesa própria.
Por outro lado, o objetivo imediato do Irã é pressionar o Iraque a expulsar as forças dos EUA do país, o que seria uma vitória. Com a fraqueza do Iraque pós-Saddam Hussein, o país depende dos EUA e do Irã para sua segurança. Sem os EUA, ficaria nas mãos do Irã.
Do ponto de vista político, a ditadura teocrática iraniana ganhou. Durante o ano passado, houve mais de 4,2 mil protestos contra o governo do Iraque e a influência crescente do Irã no país, com uma violenta repressão e cerca de 500 de mortes. No Irã, centenas de pessoas foram mortas na repressão implacável a protestos de rua contra a crise econômica do país e o conflito com os EUA.
Agora, essas vozes de oposição estão caladas. A morte do general fortalece a linha dura do regime fundamentalista xiita iraniano. A aposta do governo Barack Obama, ao assinar o Acordo de Viena, era aumentar a influência dos moderados com a melhora na situação econômica do país.
Em longo prazo, o Irã deve acelerar seu programa nuclear. Diante do que aconteceu com o Iraque, invadido em 2003, e a deferência de Trump ao regime comunista da Coreia do Norte, que tem a bomba atômica, o regime fundamentalista iraniano sabe que a única maneira de enfrentar os EUA é com armas de destruição em massa, de preferência nucleares.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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