A ditadura dos aiatolás e da Guarda Revolucionária controla ainda mais a República Islâmica do Irã com a eleição do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Ebrahim Raissi, para presidente do país, anunciada no sábado, com 62% dos votos válidos no primeiro turno.
Sayyid Ebrahim Raissol Sadati, de 60 anos, foi candidato em 2017, quando perdeu para o atual presidente, Hassan Rouhani, considerado um conservador moderado, que disputava a reeleição. Raissi é ultraconservador e fiel aliado do Supremo Líder Espiritual da Revolução, aiatolá Ali Khamenei, o ditador iraniano, visto como seu mentor.
Raissi é associado a uma série de julgamentos políticos e execuções ocorridas em 1988, depois do fim da Guerra Irã-Iraque, quando era juiz do Tribunal Revolucionário de Teerã. Grupos de defesa dos direitos humanos o acusam se envolvimento em milhares de mortes de dissidentes políticos. Em 2019, ele foi eleito vice-presidente da Assembleia dos Sábios, que vai escolher o próximo Supremo Líder.
Se no passado as ditaduras costumavam ganhar eleições com quase 100% dos votos, agora o resultado mais comum fica na faixa dos 60% para tentar dar um verniz democrático. Uma exceção foi o ditador da Síria, Bachar Assad, aliado do Irã, reeleito com 95% dos votos em 26 de maio.
Em 2009, o presidente linha-dura Mahmoud Ahmadinejad foi reeleito no Irã com 62,6% sob protestos da oposição, do Movimento Verde, que saiu às ruas em defesa de seu candidato, o ex-primeiro-ministro Mir Hossein Mussavi. Ele seria o verdadeiro vencedor, mas oficialmente obteve 34% dos votos válidos.
Para evitar uma surpresa, desta vez, o Conselho dos Guardiães da Revolução vetou praticamente todos os candidatos reformistas, inclusive Ali Larijani, ex-presidente do Majlis (Parlamento), que era visto como o maior rival do presidente do Supremo Tribunal. Por isso, a abstenção foi a maior em eleições presidenciais desde a Revolução Islâmica (1979). Votaram 48,8% dos eleitores e 3,7 milhões anularam o voto. Assim, o presidente eleito tem o apoio de menos da metade do eleitorado.
A vitória de Raissi, que recebeu 18 dos 28 milhões de votos contra 3 milhões do segundo colocado, Mohsen Rezaei, afasta do poder o grupo conservador mais moderado a favor da reaproximação com o Ocidente, que negociou o acordo de 2015 com as grandes potências do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia) e a Alemanha para congelar por 10 anos o programa nuclear iraniano. Em 2017, Rouhani obteve 24 milhões de votos.
O momento é crítico por causa da crise econômica gerada apelas sanções impostas pelo governo Donald Trump, que retirou os Estados Unidos do acordo nuclear; da pandemia, que atingiu mais de 3 milhões de iranianos e matou cerca de 83 mil; e da sucessão do Supremo Líder, que tem 82 anos e sofre de câncer. Khamenei foi presidente de 1981-89. Raissi se cacifou como possível candidato.
A renegociação do acordo nuclear com o governo Joe Biden não deve ser afetada. Khamenei se empenhou pessoalmente na reabertura do diálogo para aliviar as sanções que sufocam a economia iraniana, que encolheu 5,4% em 2018, 7,6% em 2019 e 6% em 2020.
Mas o novo presidente é contra incluir nas negociações limitações ao programa de mísseis do Irã e a interferência iraniana em outros países do Oriente Médio, o chamado arco xiita, que vai do Iêmen ao Líbano, passando pelo próprio Irã, o Iraque e a Síria. No momento, todos estes países menos o Irã enfrentam o colapso do Estado.
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