A abstenção de 66,7% e os partidos tradicionais foram os grandes vencedores no primeiro turno das eleições regionais na França, realizadas neste domingo.
A Reunião Nacional (RN), de extrema direita, liderada por Marine Le Pen, recuou nove pontos percentuais m relação às eleições anteriores. Saiu na frente em apenas uma das 13 regiões. A República em Marcha (LRM), do presidente Emmanuel Macron, de centro-direita, ficou em quinto com 11% e não lidera em lugar algum.
Tudo indica que Macron e Le Pen não devem repetir o duelo do segundo turno da eleição presidencial de 2022, quando o presidente conquistou 66% dos votos e a líder da extrema direita, 34%. Ambos saem mais fracos e a juventude desiludida. Entre os jovens de 18 a 24 anos, a abstenção chegou a impressionantes 87%.
O grande vitorioso foi o partido conservador Os Republicanos (LR), de direita, herdeiro das ideias do general Charles de Gaulle, líder da França no exílio durante a Segunda Guerra Mundial. É o partido que mais governou o país no pós-guerra, com De Gaulle (1959-69), Georges Pompidou (1969-74), Jacques Chirac (1995-2007) e Nicolas Sarkozy (2007-12).
Com 28% dos votos, LR ganharam em seis regiões no primeiro turno, inclusive na Ilha da França, onde fica Paris. A aliança esquerda-verdes lidera em cinco regiões.
Somando os 16% da União de Esquerda liderada pelo Partido Socialista (PS) com os 13% do partido Europa Ecologia-Os Verdes (EELV), a aliança teve mais votos do que a direita republicana, o que lhes dá esperança de disputar o Palácio do Eliseu, se chegar a um candidato de consenso.
"A esquerda é a maior força política do país, à frente da direita e da extrema direita", festejou o primeiro-secretário do PS, Olivier Faure. "No seio do bloco de esquerda, o PS é a grande força motriz."
Os ecologistas também celebraram o resultado: "Estamos progredindo. Dobramos nossa votação em relação [às eleições regionais de] 2015", declarou Yannick Jadot, possível candidato verde à eleição presidencial de abril e maio do próximo ano.
Para o presidente Macron, foi mais um fracasso na tentativa de criar raízes locais para seu partido. Ele foi eleito em 2017 porque um escândalo de abalou a candidatura de direita do ex-primeiro-ministro François Fillon. Macron recebeu os votos da direita e alguns de centro-esquerda por ter sido ministro das Finanças do presidente socialista François Hollande. Isto não vai se repetir em 2022.
No poder, Macron nomeou um primeiro-ministro direitista, Edouard Philippe, do LR, que demitiu depois das eleições municipais, talvez temendo-o como adversário. Philippe seria um candidato formidável, mas disse que não concorrerá contra Macron.
Diante do enfraquecimento de sua candidatura, o presidente deve evitar fazer reformas impopulares para reduzir o déficit orçamentário, de 10,5% do produto interno bruto e a dívida pública, de 117% do PIB. Deve se concentrar em programas de estímulo apostando na retomada da economia para aumentar suas chances eleitorais.
Macron tem pouco espaço fiscal para isso, especialmente se o Banco Central Europeu (BCE) parar de comprar títulos da dívida pública dos países da Zona do Euro, como cobra o presidente do Bundesbank, o banco central da Alemanha, Jens Weidmann.
As assembleias regionais são responsáveis pelo desenvolvimento regional, o transporte dentro da região e as escolas secundárias. Agora estão em curso as negociações para formar alianças para o segundo turno, a ser disputado no próximo domingo. Geralmente, os partidos se dividem entre direita e esquerda, ou todos se juntam contra a extrema direita, considerada antidemocrática.
O primeiro-ministro Jean Castex fez um apelo aos franceses para que votem em 27 de junho porque "quando a abstenção vence, perde a democracia". A imprensa francesa vê uma crise da democracia. O voto facultativo e a pandemia não seriam suficientes para explicar o desânimo dos franceses com o sistema político.
Um comentário:
Gostei muito de sua análise. Especialmente a perspectiva histórica. Obrigada por compartilhar.
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