terça-feira, 8 de junho de 2021

Castillo passa à frente e Keiko denuncia fraude no Peru

 Com 96,34% das urnas escrutinadas, o candidato de extrema esquerda Pedro Castillo, do partido Peru Livre, lidera a apuração do segundo da eleição presidencial no Peru com uma vantagem de menos de 100 mil sobre a ultradireitista Keiko Fujimori, da Força Popular. Ela é filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), preso por corrupção e violações dos direitos humanos.

Na última atualização, pouco depois de meia noite em Lima, duas da madrugada em Brasília, o professor Castillo tinha 50,287% dos votos válidos contra 49,713% para a ex-deputada Fujimori, que perdeu as duas eleições presidenciais anteriores, para Ollanta Humala (2011-16) em 2011 e Pedro Pablo Kuczynski (2016-18) em 2016.

Como tantas vezes na América Latina, observa a revista inglesa The Economist, é uma eleição da direita contra a esquerda, da cidade contra o campo.

Keiko recebeu a maioria dos votos na região metropolitana de Lima e no litoral, onde a apuração manual dos votos impressos foi mais rápida. Com a entrada dos votos da Cordilheira dos Andes e da Floresta Amazônica, Castillo, um professor e sindicalista, tomou a dianteira no fim da manhã de segunda-feira e ampliou a vantagem desde então.

A esperança de Keiko está nos votos no exterior, onde ela lidera com 63%, mas ainda faltam votos e regiões onde Castillo tem ampla maioria. Diante da derrota iminente, ela alegou que houve uma fraude maciça, sem qualquer prova concreta.

A se confirmar a vitória de Castillo, será a primeira de um representante do interior, do Peru profundo, sobre a elite limenha. Alberto Fujimori, pai de Keiko, não é de origem europeia, mas também saiu do extrato superior da sociedade peruana e percorreu o interior vestido de índio para derrotar em 1990 o escritor Mario Vargas Llosa, representante da elite urbana europeizada.

O Peru foi um dos países latino-americanos que mais cresceram neste século, principalmente por causa das exportações para a China. A pobreza diminuiu, mas a riqueza continuou concentrada na elite limenha. No momento, além da crise política crônica que levou todos os presidentes deste século a serem investigados por corrupção, por receber propina da construtora brasileira Odebrecht, o Peru tem a maior taxa de mortalidade da covid-19 no mundo.

A economia peruana recuou 11% com a pandemia. O desemprego atinge 15% da população economicamente ativa. A informalidade é enorme. Isto agravou a pandemia, porque as pessoas tinham de trabalhar. A pobreza subiu de 20% para 30%. 

Se Castillo vencer, a política econômica deve sofrer uma guinada do neoliberalismo para uma maior intervenção estatal, o que pode provocar fuga de capital. Com o país literalmente dividido, também há risco de violência política.

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