Os documentos vieram do Centro Dossiê, um grupo de jornalistas investigativos financiado pelo dissidente Mikhail Khodorkovsky, que era o homem mais rico da Rússia até ser preso e condenado em processo fraudulento por ordem do ditador Vladimir Putin.
A investigação descobriu planos para minar a influência dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido na África e abrir espaço para a Rússia estabelecer bases estratégicas no continente. Meu comentário:
Até pouco mais de um ano atrás, a Rússia concentrava sua ação internacional na Europa Oriental e no Oriente Médio, onde apoia a ditadura de Bachar Assad e foi decisiva para sua vitória na guerra civil da Síria. Hoje, tem acordos militares com 20 países africanos.
A missão é chefiada
por Yevguêni Prigojin, um empresário de São Petersburgo ligado a Putin,
denunciado no ano passado pelo procurador especial Robert Mueller por
participar das ações para interferir nas eleições de 2016 nos Estados Unidos. A
fábrica de mentiras de Prigojin participou da campanha realizada nas redes
sociais da Internet para ajudar a eleger o presidente Donald Trump.
O Grupo Wagner,
uma empresa de segurança privada de Prigojin, forneceu mercenários para lutar
pelos interesses da Rússia na Ucrânia e na Síria.
Putin chegou ao
poder em 1999, com a doença do então presidente Bóris Yéltsin, e foi eleito
presidente no ano 2000. No início do século, ele demonstrou pouco interesse
pela África.
Alvo de sanções
das potências ocidentais desde a anexação ilegal da Ucrânia, em março de 2014,
Putin passou a buscar novos aliados e a ampliar a atuação em outros
continentes, onde combate a influência dos Estados Unidos e aliados.
Ao avaliar a
presença de Moscou na África, os documentos citam a República Centro-Africana,
o Sudão e Madagascar como países onde sua influência é maior. Em segundo plano,
vem a África do Sul, a Líbia e o Zimbábue. Logo abaixo, o Sudão do Sul e depois
o Chade, a República Democrática do Congo e a Zâmbia.
Os documentos
vazados mostram a intenção de ampliar a influência russa na Guiné Equatorial,
no Mali e em Uganda.
Em novembro do
ano passado, o general Khalifa Hifter, líder de um dos dois governos paralelos
que disputam o poder na Líbia, foi recebido em Moscou pelo ministro da Defesa
russo, Serguiei Choigu. Prigojin participou da reunião.
Em 4 de abril
deste ano, o general lançou um ataque a Trípoli, a capita líbia, tentando
assumir o controle total do país, com o apoio tácito da França, da Rússia, dos
Estados Unidos e do Egito.
A Rússia tem uma
missão de paz na República Centro-Africana, descrita nos documentos como “estrategicamente
importante” por ficar numa zona intermediária entre o “Norte muçulmano e o Sul
cristão”.
Em 24 de maio, o
Kremlin anunciou o envio de especialistas militares à República Democrática do
Congo. Cinco dias depois, revelou estar organizando a primeira reunião de cúpula
entre a Rússia e a África. O encontro será realizado na cidade de Sóchi, uma
praia no Mar Negro, sob a presidência de Putin e do ditador do Egito, marechal
Abdel Fattah al-Sissi, de 22 a 24 de outubro.
Com maior influência,
a Rússia espera obter contratos lucrativos para suas empresas, especialmente no
setor de mineração.
Putin é um
ditador cruel e sanguinário. Acabou com a liberalização da primeira década da Rússia
pós-soviética. Seu regime persegue e mata dissidentes e ex-agentes secretos,
censura os meios de comunicação e desrespeita os direitos humanos.
Hoje foi solto o
jornalista Ivan Golunov, depois de grande pressão popular. Golunov foi preso
sob a acusação de tráfico de drogas depois de denunciar a corrupção, o alto
custo das obras públicas em Moscou, o enriquecimento ilícito da família do
vice-prefeito da capital e a censura generalizada ao jornalismo.
Quando se fala em
liberdade de imprensa, a Rússia de Putin está no lugar 83 entre 100 países. A
mediocridade de sua economia a deixa muito abaixo da China e dos Estados
Unidos. Mas é um país ferido, que Putin considera humilhado pelo fim da União
Soviética, dotado de um poderoso arsenal nuclear e decidido a mostrar sua força.
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