terça-feira, 11 de junho de 2019

Rússia trabalha para aumentar influência na África

Em sua disputa geopolítica com o Ocidente para se reafirmar como potência mundial, a Rússia tenta aumentar sua influência em 13 países da África, principalmente através de acordos militares e alianças com ditadores, incentivando o surgimento de novos "líderes" e criando uma rede de agentes secretos, revelam documentos vazados para o jornal inglês The Guardian.

Os documentos vieram do Centro Dossiê, um grupo de jornalistas investigativos financiado pelo dissidente Mikhail Khodorkovsky, que era o homem mais rico da Rússia até ser preso e condenado em processo fraudulento por ordem do ditador Vladimir Putin.

A investigação descobriu planos para minar a influência dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido na África e abrir espaço para a Rússia estabelecer bases estratégicas no continente. Meu comentário:



Até pouco mais de um ano atrás, a Rússia concentrava sua ação internacional na Europa Oriental e no Oriente Médio, onde apoia a ditadura de Bachar Assad e foi decisiva para sua vitória na guerra civil da Síria. Hoje, tem acordos militares com 20 países africanos.

A missão é chefiada por Yevguêni Prigojin, um empresário de São Petersburgo ligado a Putin, denunciado no ano passado pelo procurador especial Robert Mueller por participar das ações para interferir nas eleições de 2016 nos Estados Unidos. A fábrica de mentiras de Prigojin participou da campanha realizada nas redes sociais da Internet para ajudar a eleger o presidente Donald Trump.

O Grupo Wagner, uma empresa de segurança privada de Prigojin, forneceu mercenários para lutar pelos interesses da Rússia na Ucrânia e na Síria.

Putin chegou ao poder em 1999, com a doença do então presidente Bóris Yéltsin, e foi eleito presidente no ano 2000. No início do século, ele demonstrou pouco interesse pela África.

Alvo de sanções das potências ocidentais desde a anexação ilegal da Ucrânia, em março de 2014, Putin passou a buscar novos aliados e a ampliar a atuação em outros continentes, onde combate a influência dos Estados Unidos e aliados.

Ao avaliar a presença de Moscou na África, os documentos citam a República Centro-Africana, o Sudão e Madagascar como países onde sua influência é maior. Em segundo plano, vem a África do Sul, a Líbia e o Zimbábue. Logo abaixo, o Sudão do Sul e depois o Chade, a República Democrática do Congo e a Zâmbia.

Os documentos vazados mostram a intenção de ampliar a influência russa na Guiné Equatorial, no Mali e em Uganda.

Em novembro do ano passado, o general Khalifa Hifter, líder de um dos dois governos paralelos que disputam o poder na Líbia, foi recebido em Moscou pelo ministro da Defesa russo, Serguiei Choigu. Prigojin participou da reunião.

Em 4 de abril deste ano, o general lançou um ataque a Trípoli, a capita líbia, tentando assumir o controle total do país, com o apoio tácito da França, da Rússia, dos Estados Unidos e do Egito.

A Rússia tem uma missão de paz na República Centro-Africana, descrita nos documentos como “estrategicamente importante” por ficar numa zona intermediária entre o “Norte muçulmano e o Sul cristão”.

Em 24 de maio, o Kremlin anunciou o envio de especialistas militares à República Democrática do Congo. Cinco dias depois, revelou estar organizando a primeira reunião de cúpula entre a Rússia e a África. O encontro será realizado na cidade de Sóchi, uma praia no Mar Negro, sob a presidência de Putin e do ditador do Egito, marechal Abdel Fattah al-Sissi, de 22 a 24 de outubro.

Com maior influência, a Rússia espera obter contratos lucrativos para suas empresas, especialmente no setor de mineração.

Putin é um ditador cruel e sanguinário. Acabou com a liberalização da primeira década da Rússia pós-soviética. Seu regime persegue e mata dissidentes e ex-agentes secretos, censura os meios de comunicação e desrespeita os direitos humanos.

Hoje foi solto o jornalista Ivan Golunov, depois de grande pressão popular. Golunov foi preso sob a acusação de tráfico de drogas depois de denunciar a corrupção, o alto custo das obras públicas em Moscou, o enriquecimento ilícito da família do vice-prefeito da capital e a censura generalizada ao jornalismo.

Quando se fala em liberdade de imprensa, a Rússia de Putin está no lugar 83 entre 100 países. A mediocridade de sua economia a deixa muito abaixo da China e dos Estados Unidos. Mas é um país ferido, que Putin considera humilhado pelo fim da União Soviética, dotado de um poderoso arsenal nuclear e decidido a mostrar sua força.

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