Sem gravata, descontraído, em estilo carioca, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, discursa neste momento para 2 mil convidados no Teatro Municipal, no centro do Rio de Janeiro. O primeiro presidente negro da História dos EUA começou agradecendo o tratamento generoso que ele e sua família receberam desde que chegaram ao Brasil.
Obama lembrou que sua mãe gostava muito de um filme, Orfeu Negro, que mostrava uma favela e cariocas dançando samba. "O que ela não poderia imaginar é que minha primeira visita ao Brasil seria como presidente dos EUA".
Depois de receber a camisa do Flamengo, agradeceu a presença de todos lembrando que há um jogo entre Vasco e Botafogo, que jogam daqui a pouco pelo Campeonato Carioca.
O objetivo do discurso é reafirmar a importância de valores comuns que, na sua opinião, os dois países compartilham. Foram colônias, receberam ondas de imigrantes e de escravos.
"Os EUA foram o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil. (...) Na Segunda Guerra Mundial, nossos homens e mulheres lutaram pela liberdade. Nos anos 60, os americanos marcharam pelos direitos civis, e o Brasil lutou contra a ditadura. Mas o Brasil é hoje uma democracia plena, onde uma criança pobre de Pernambuco pode chegar à Presidência", falou Obama, numa referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em seguida, o presidente americano elogiou o desenvolvimento econômico brasileiro: "O Brasil inspirou o mundo. Onde havia medo, hoje há esperança. Visitei a Cidade de Deus. Há uma mudança de atitude. A favela precisa ser vista como uma fonte de advogados, artistas, pessoas que terão soluções para os seus problemas."
Ao se emancipar como nação, o Brasil se torna um ator global: "Cada vez mais o Brasil é um país que aponta soluções. Antes, precisava de ajuda externa. Hoje, ajuda os outros", observou.
"Como os Jogos de 2016 não puderam ser realizados em Chicago, o Rio de Janeiro é o melhor lugar para realizá-los", acrescentou Obama. Um dos objetivos da viagem é abrir e espaço para empresas americanas nas obras para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.
Não faltaram elogios: "Estou aqui para dizer que o povo americano não apenas vê o sucesso do Brasil. Torce pelo sucesso do Brasil. O Brasil sempre foi o país do futuro. O futuro chegou."
Obama defendeu parcerias em ciência e tecnologia, e ofereceu os serviços de companhias dos EUA: "Precisamos de um compromisso com a inovação. Precisamos de obras de infraestrutura e as empresas americanas podem trabalhar nisso."
Outras áreas possíveis de cooperação: "Também temos de proteger nossos cidadãos, combater o narcotráfico, acabar com as armas nucleares. Estamos lado a lado combatendo a fome, a doença e a corrupção. Para dois países que tem uma herança africana, devemos trabalhar juntos pelo desenvolvimento da África. É um compromisso que devemos assumir em conjunto."
Um objetivo imediato é socorrer o povo japonês: "Estamos ajudando o Japão. É um país com que temos uma aliança de 60 anos. O Brasil tem a maior comunidade japonesa fora do Japão."
No paralelo entre os dois países, destacou o sucesso da democracia brasileira: "Temos valores e ideais comuns. Ambos acreditam na força e na promessa da democracia. Nenhuma outra forma de governo produz melhores resultados para todos. Quem é contra a democracia deve ver o exemplo brasileiro, com mercados abertos e justiça social. A inclusão social pode ser atingida pela liberdade."
Em países continentais, seria a maneira de resolver os conflitos: "Também acreditamos que nações tão grandes e diversas como as nossas, a democracia é a maior esperança de que todos tenham dignidade e resolvam as diferenças em paz. Sabemos nos EUA como é importante trabalhar em conjunto."
"A democracia é mais lenta, mais confusa. Países diferentes adotam caminhos diferentes. Nenhum país deve impor sua vontade a outras, mas há aspirações comuns a todos os seres humanos. Todos queremos mudar o nosso próprio futuro, viver sem medo, escolher quem vai nos governar."
"São direitos universais. Hoje vamos a luta por esses direitos no Norte da África e no Oriente Médio. Vem na luta pela liberdade na Tunísia. Na líbia, o povo líbio luta contra um sistema brutal. Os jovens se levantam. É uma nova geração querendo definir seu futuro", disse, sem falar diretamente na nova guerra que seu país trava desde ontem.
"Desde o início, deixamos claro que a decisão cabe aos povos. Países como o Brasil e os EUA sabem que o futuro deve ser definido pelos povos. Quando homens e mulheres em paz exigem direitos humanos, nossa humanidade comum é salientada. É um exemplo que o Brasil dá ao mundo".
O Brasil é um modelo de transição: "É um país que mostra que se pode sair da ditadura para a democracia. O Brasil mostra como um chamado pela mudança que vem das ruas pode mudar uma cidade, um país e o mundo. Há décadas, foi aqui nesta praça, na Cinelândia, que a voz do povo foi ouvida", lembrou, falando dos comícios por eleições diretas já, em 1984.
"Uma mulher, filha de imigrantes, foi presa e torturada. Hoje é presidente. Sabe o que é lutar pela democracia", comentou, referindo-se à presidente Dilma Rousseff.
Depois de várias citações sobre o Brasil, terminou citando nosso escritor mais popular internacionalmente: "Nossos dois países enfrentam muitos desafios. É a nossa história que nos dá o direito de sonhar com um futuro melhor. Foi esse otimismo que atraiu os pioneiros para este Novo Mundo. Acreditamos nas palavras de Paulo Coelho, com nosso amor, é possível mudar o mundo."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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