A Turquia é uma ponte entre a Europa e a Ásia (todos esses conceitos e os outros de política internacional são europeus). Istambul fica na Europa, a maior parte do país do outro lado do estreito de Bósforo.
A atual república turca, fundada por Mustafá Kemal Ataturk (o Pai dos Turcos) em 1923, vive sob essa tensão entre o secularismo garantido pelo kemalismo, ainda a ideologia nacionalista das Forças Armadas, e o islamismo político, de influência política crescente, especialmente nas zonas rurais conservadores e atrasadas.
Antes, a Turquia, como Império Otomano, é a cabeça de um grande império muçulmano que chegou a sitiar Viena em 1684 e assinou o primeiro acordo de paz em condições desfavoráveis com os impérios europeus pela primeira em 1699.
Olhando para a Ásia, o Império Otomano se estendia muito além. O chamado Turquestão, que vai até a China. O movimento de libertação nacional que teria cometido alguns atentados antes da Olimpíada de Pequim é a turma do Turquestão Oriental, os uigures da província chinesa de Xinjiang.
Então, a Turquia é herdeira de uma longa tradição e de um poder imperial que se foi. Mas isso é herança cultural que não morre.
A Turquia é o único país muçulmano realmente democrático do Oriente Médio e um dos poucos não árabes. Serve então como exemplo de democracia para o resto da região. Por causa da ameaça soviética, a Turquia pertence à OTAN, então tem aliança militar com os EUA, cuidadosamente velada pelos militares que se beneficiam do dinheiro, do equipamento e das bases da OTAN.
Mas o parlamento turco vetou o uso da base aérea de Incirlik para os EUA invadirem o Iraque.
O país tem um conflito histórico com os curdos, o maior povo do mundo sem pátria, com população de 25 a 40 milhões. A maior parte é turca, mas os direitos da minoria curda não são reconhecidos porque eles não querem nada com a Turquia.
Eles sonham com o Curdistão, mas esse sonho foi enterrado pelo subsecretário do Exterior britânico para o Oriente Médio, Winston Churchill, quando juntou à provincia de Kirkuk às de Bagdá e Bássora para criar um Iraque suficientemente forte para se contrapor ao Irã.
Além da questão curda, cujo grande líder Abdullah Ocalan (diz-se algo como Ojulan), do Partido dos Trabalhadores do Curdistão está preso, houve atentados terroristas muçulmanos em Istambul em 27 de julho de 2008.
É um aliado importante dos EUA, que gostaria de ver a Turquia na UE. Sarkozy e o núcleo que luta por mais união política na Europa é contra, dizendo que a Turquia não é um país europeu porque as fronteiras da Europa não terminam no Iraque. Os EUA querem ancorar a Turquia no bloco ocidental.
Com 75 milhões de habitantes e uma taxa de natalidade maior do que a da Alemanha, que é o maior país da UE, com 83 mihões, até 2015 a Turquia teria a maior população do bloco e a menor renda per capita, trazendo o fantasma de nova onda de imigrantes para os países ricos do Ocidente.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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