PAPA EXCOMUNDA ELIZABETH I
Em 1570, o Papa Pio V excomunga a rainha Elizabeth I, da Inglaterra, e absolve seus súditos de qualquer juramento de lealdade que tenham feito a ela.
Elizabeth Tudor nasce em 7 de setembro de 1533 em Greenwich, na Inglaterra, filha de Henrique VIII e Ana Bolena, sua segunda esposa. Para casar pela segunda vez, o rei rompe com a Igreja Católica e faz a Reforma Protestante na Inglaterra, criando a Igreja Anglicana. Assim, Elizabeth é protestante.
Quando Ana Bolena é acusada de adultério e executada na Torre de Londres, o casamento é anulado e Elizabeth vira filha bastarda do rei, mas a sexta e última esposa de Henrique VIII a acolhe de volta na corte.
Depois da morte de Henrique VIII, seu filho homem, Eduardo VI, reina por seis anos, e Maria I, que é católica, por cinco anos. Logo depois de ascender ao trono, Elizabeth I reinstaura o protestantismo na Inglaterra e reverte as medidas da meia-irmã para reimpor o catolicismo.
Em 1559, Elizabeth I baixa o Ato de Supremacia, que declara que a rainha é a chefe da Igreja da Inglaterra, e o Ato de Uniformidade, que estabelece as regras de liturgia da Igreja. Pastores e funcionários públicos são obrigados a jurar lealdade à rainha como chefe da Igreja.
Muitos nobres e aristocratas, e a maioria dos cidadãos comuns, mantêm lealdade à antiga fé, mas todos os cargos importantes no governo e na Igreja são ocupados por protestantes.
Como a Igreja Anglicana mantém os rituais da Igreja Católica, muitos protestantes, como por exemplo os calvinistas, consideram a Reforma na Inglaterra aquém do necessário e pressionam por mudanças mais profundas na hierarquia e nos tribunais religiosos.
Em 1569, o Exército de Elizabeth I esmaga uma revolta de nobres católicos no Norte da Inglaterra. Maria Stuart, rainha da Escócia, que desde 1568 está exilada na Inglaterra, mais presa do que convidada, é acusada de ligação com a revolta.
A prisão da rainha que católicos ingleses consideram a legítima herdeira do trono da Inglaterra aumenta a tensão religiosa e leva o papa a excomungar Elizabeth I.
É uma era de conflitos religiosos na Europa pós-Reforma Protestante. Na Noite de São Bartolomeu, em 24 de agosto de 1572, os católicos franceses massacram os protestantes huguenotes. Só em Paris, são 3 mil mortos. Muitos protestantes franceses se refugiam na Inglaterra.
Os conflitos religiosos só terminam no continente em 1648, com o fim da Guerra dos Trinta Anos, e na Inglaterra em 1689, com a vitória da Revolução Gloriosa.
DENUNCIA DO STALINISMO
Em 1956, no encerramento do 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, o líder do partido, Nikita Kruschev, denuncia os crimes de Josef Stalin.
Numa sessão fechada do primeiro congresso do PC desde a morte do grande ditador soviético em 5 de março de 1953, cerca de 1.500 delegados ouvem o discurso O Culto da Personalidade e Suas Consequências.
Durante quatro horas, Kruschev acusa Stalin de "graves abusos de poder", de "prisões em massa e deportações de milhares e milhares de pessoas, de execuções sumárias, sem investigação nem julgamento", o que gerou "insegurança, medo e desespero".
"Em toda uma série de casos", afirma Kruschev, Stalin "mostrou sua intolerância, sua brutalidade, seu abuso de poder. (...) Com frequência, escolheu o caminho da repressão e da aniquilação física não apenas contra verdadeiros inimigos, mas também contra pessoas que não haviam cometido nenhum crime contra o partido ou contra o governo soviético."
Pessoas inocentes foram forçadas a confessar crimes "por causa de métodos físicos de pressão, tortura, reduzindo-os à inconsciência, privando-os de julgamentos, tirando-lhes a dignidade humana".
Stalin "chamou pessoalmente o interrogador, deu-lhe instruções e disse-lhe quais métodos usar, métodos que eram simples – bater, bater e, mais uma vez, bater".
Kruschev também ataca o desempenho "incompetente" de Stalin na guerra e a deportação "monstruosa" dos povos caucasianos. Stalin foi responsável pela ruína da agricultura e por promover seu próprio culto "nauseantemente falso" da personalidade.
Stalin traiu as ideias e o legado de Lenin, proclama Kruschev. Sua condenação foi limitada. Enquanto 'trotskistas' e 'bukharinistas' oposicionistas a Stalin não mereciam "aniquilação física", eles eram "inimigos ideológicos e políticos".
Em sua defesa, Kruschev alega que ele e outros colaboradores do Politburo de Stalin só estavam agindo agora porque "viam essas questões de forma diferente em momentos diferentes". Ele alegou que eles não sabiam o que Stalin fez em seu nome, e quando eles descobriram que era tarde demais.
Kruschev também diz que Stalin tinha planos de acabar com seus camaradas do Politburo, para "destruí-los de modo a esconder os atos vergonhosos sobre os quais agora estamos relatando". Supostamente, os líderes e antigos aliados de Stalin, Viacheslav Molotov, Georgy Malenkov, Lazar Kaganovich e Kliment Voroshilov, ficam extasiados.
O conteúdo do "discurso secreto" logo se espalha. Os delegados da Europa Oriental são autorizados a ouvi-lo na noite seguinte. Até 5 de março, cópias são enviadas a toda a União Soviética. Uma tradução oficial aparece dentro de um mês na Polônia, onde 12.000 cópias são impressas, uma das quais chega ao Ocidente.
Ao denunciar Stalin, Kruschev não procura mudar a sociedade soviética fundamentalmente, quer mais consolidar o poder, mas seu discurso tem efeitos amplos e de longo prazo. É um golpe arrasador para os regimes stalinistas em todos os lugares e um fator para desencadear uma revolta na Polônia e a Revolução Húngara de 1956.
Décadas depois, Mikhail Gorbachev, o último líder da URSS, elogia Kruschev como "um homem moral apesar de tudo".
CASSIUS CLAY CAMPEÃO MUNDIAL
Em 1964, aos 22 anos, com excelentes esquivas e jogo de pernas, saltitante, Cassius Marcellus Clay vence o campeão Sonny Liston, muito mais forte fisicamente, por nocaute técnico no sétimo assalto e toma o título mundial de boxe da categoria peso-pesado, no início de uma carreira brilhante em que se torna campeão mundial três vezes.
Liston se torna campeão ao nocautear duas vezes o campeão mundial anterior, Floyd Patterson, no primeiro assalto. É o favorito nas casas de apostas a 8 por 1.Falastrão, Clay promete ganhar a luta por nocaute no oitavo assalto "flutuando como uma borboleta e ferrando como uma abelha". No fim do sétimo assalto, Liston se queixa de uma dor no ombro. Com uma luxação na clavícula, Liston não volta mais e Clay é proclamado campeão.
Meses depois, ele abandona o nome de batismo porque os negros tinham o sobrenome das famílias que escravizavam seus avós. Muçulmano, passa a se chamar Muhammad Ali.
Ele nasce em Louisville, no estado do Kentucky, em 1942. Começa no boxe aos 12 anos. Ao 18 anos, completa 100 vitórias no boxe amador. Em 1960, ganha uma medalha de ouro na Olimpíada de Roma.
Por rejeitar a convocação para a Guerra do Vietnã, Ali perde o título em 1967. Ele alega objeção de consciência: "Por que me pedem para botar um uniforme e ir a 10 mil milhas de casa jogar bombas em pessoas morenas no Vietnã quando as pessoas chamadas de negros no Kentucky são tratados como cães e não têm os mínimos direitos humanos?"
Ali volta ao boxe em 1970. No ano seguinte, a Suprema Corte anula a condenação por se negar a servir o Exército em plena guerra. Em 8 de março de 1971, no Madison Square Garden, em Nova York, ele perde por pontos a Luta do Século em 15 assaltos contra Joe Frazier, nocauteado por George Foreman em dois assaltos em 22 de janeiro de 1973, em Kingston, na Jamaica.
Isto abre caminho para outra luta do século, Ali x Foreman, em Kinshasa, no Zaire (hoje República Democrática do Congo), em 30 de outubro de 1974. Depois de resistir à saraivada de golpes do adversário, Ali conquista o título mundial de boxe peso-pesado pela segunda vez.
Em 1978, Leon Spinks o vence e conquista o título, mas Ali ganha a revanche e se torna o único peso-pesado a ganhar o título três vezes. Em 1984, é diagnosticado com mal de Parkinson por causa dos golpes recebidos na cabeça quando era boxer. Ele acendeu a pira na Olimpíada de Atlanta, em 1996. Viveu até 3 de junho de 2016.
QUEDA DE FERDINAND MARCOS
Em 1986, sob pressão dos Estados Unidos, que durante décadas apoiou sua ditadura, o ditador Ferdinand Marcos foge das Filipinas para o Havaí e a oposicionista Corazón Aquino, derrotada em eleição fraudulenta, assume a Presidência.
Ferdinand Emmanuel Edralin Marcos nasce em Sarrat, nas Filipinas, em 11 de setembro de 1917, filho de Mariano Marcos, um advogado e congressista de Ilocos Norte executado por guerrilheiros em 1945 por ter colaborado com o Japão durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45). Depois da guerra, as Filipinas se tornam independentes dos EUA.Ferdinand estuda direito na Universidade das Filipinas. Em 1933, é acusado de matar um adversário político do pai. Condenado em novembro de 1939, é absolvido no ano seguinte pela Suprema Corte. É eleito deputado em 1949, para o Senado em 1959 e para a Presidência em 1965.
Em 1969, Marcos torna-se o primeiro presidente reeleito da história das Filipinas. Três anos depois, em 21 de setembro de 1972, invocando a ameaça comunista, decreta lei marcial e vira um ditador. Seu governo é marcado pela brutalidade, a corrupção e a extravagância.
Marcos vai de advogado e político a ditador e cleptocrata. Quando cai, descobre-se a coleção de 1.200 pares de sapato da primeira-dama, Imelda Marcos, que vira um símbolo da corrupção.
A lei marcial é ratificada num plebiscito fraudulento em 1973. Sob a censura, a violência e a repressão, dois grupos guerrilheiros lutam contra a ditadura de Ferdinand Marcos, um maoísta e outro muçulmano.
Depois de uma terceira reeleição em 1981, as Filipinas enfrentam uma crise econômica que atinge mercados emergentes depois da Crise da Dívida da América Latina, em 1982. Com a economia em colapso, Marcos comete um erro fatal.
Ao voltar ao país, o líder da oposição, Benigno Aquino, é assassinado no aeroporto de Manila. A oposição ressusrge com força nas eleições parlamentares de 1984 e a viúva de Benigno Aquino se apresenta como candidata para desafiar o ditador.
Diante da fraude, uma onda de protestos populares toma conta das ruas e derruba Marcos. Durante sua cleptocracia, a família roubou entre 5 a 10 bilhões de dólares do Banco Central das Filipinas. Seu filho, Ferdinand Marcos Jr., preside as Filipinas desde 30 de junho de 2022.
VITÓRIA DE VIOLETA CHAMORRO
Em 1990, num resultado surpreendente, com 54% dos votos, a candidata da oposição, Violeta Chamorro, vence a eleição presidencial na Nicarágua, derrotando o presidente Daniel Ortega, da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), que derrubara a ditadura de Anastasio Somoza em 19 de julho de 1979.
Violeta Barrios de Chamorro é outra viúva que entra na política como herdeira do marido assassinado. Pedro Joaquín Chamorro era um jornalista de oposição, diretor do jornal La Prensa, visto como a melhor alternativa à dinastia de ditadores da família Somoza, que mandava na Nicarágua desde 1933. Seu assassinato, em 10 de janeiro de 1978, mata a última chance de uma transição negociada com a ditadura de Tachito Somoza.
Com o assassinato de Pedro Joaquín Chamorro, a luta armada ganha mais força e os EUA abandonam o ditador, que cai em 1979. A FSLN se instala no poder com uma junta de nove comandantes, entre eles dois Ortegas que tinham perdido um irmão considerado herói da revolução. Daniel Ortega se torna presidente e Humberto Ortega, ministro da Defesa.
Daniel Ortega vence a eleição de 1984, que a oposição boicota sob pressão do governo Ronald Reagan nos Estados Unidos, que financiam os rebeldes contrarrevolucionários e a campanha de Violeta Chamorro. Ela chega a fazer parte do governo revolucionário em 1979-80, mas se desilude com o esquerdismo da FSLN, assume a direção do jornal La Prensa e se torna a principal voz da oposição.
Sua vitória leva ao fim da guerra civil e o desarmamento dos contras, como eram conhecidos os rebeldes. No poder, Violeta Chamorro adota uma política econômica neoliberal, desvaloriza a córdoba em 400%, privatiza empresas, fecha a companhia estatal de trens e corta benefícios sociais. O desemprego chega a 24%. Também abriu mão de uma multa de US$ 17 bilhões que a Corte Internacional de Justiça impôs aos EUA por apoiar os contras e minar portos nicaraguenses.
Daniel Ortega volta ao poder em 2007, com o apoio do somozismo, do ex-presidente Arnoldo Alemán, preso por corrupção, para nunca mais sair. Nomeia juízes amigos para a Corte Suprema ignorou as restrições a reeleição e impõe uma ditadura, ao lado da mulher e vice-presidente Rosario Murillo, que prendeu todos os candidatos da oposição na eleição de 2021, expulsou mais de 200 oposicionistas e persegue até a Igreja Católica, a principal voz dissidente da Nicarágua hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário