Ban está no Brasil para participar do Fórum da Aliança de Civilizações, que tenta construir laços entre diferentes culturas. Ele visitou favelas onde já projetos sociais apoiados pela ONU.
Em entrevista exclusiva à TV Brasil, o ex-ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul contou ainda ter convidado o presidente a co-presidir um painel de alto nível sobre sustentabilidade global para que vai apresentar propostas para a Conferência Rio + 20.
Esta nova Cúpula da Terra, marcada para 2012, vai revisar a aplicação dos acordos assinados na Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92.
A seguir, a íntegra da entrevista:
Existe risco de guerra na Península Coreana?
Estou preocupado com a tensão crescente entre as Coreias do Norte e do Sul. A ONU monitora atentamente a situação. Todas as questões entre os dois países devem ser resolvidas pacificamente através do diálogo. Ao mesmo tempo, espero que o Conselho de Segurança tome as medidas necessárias para acalmar a situação.
Como resolver definitivamente, de forma pacífica, a crise em torno do programa nuclear iraniano?
A questão nuclear iraniana é uma grande preocupação da comunidade internacional. Eu elogio a iniciativa do presidente Lula e do primeiro-ministro Erdogan, da Turquia, para resolver pacificamente o problema através de negociações. Se o Acordo de Teerã for apoiado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e pela comunidade internacional, pode ser um passo positivo para resolver a questão pacificamente. Ao mesmo tempo, estou preocupado porque o governo iraniano anunciou que vai continuar enriquecendo urânio num teor de 20%. Espero sinceramente que os iranianos cumpram todas as obrigações impostas pelas resoluções do Conselho de Segurança da ONU e provem que o programa nuclear do país é exclusivamente para fins pacíficos, e não militares. Claramente, há falta de confiança no Irã.
O Brasil gostaria de ser membro permanente do Conselho de Segurança depois de uma reforma da ONU. Quais suas expectativas em torno da reforma da ONU?
Sei da aspiração do Brasil de se tornar um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Os países-membros da ONU estão dando passos importantes nesta reforma. Já houve várias rodadas informais de negociação. Acredito que, em breve, os países-membros se engajem em discussões com base em um anteprojeto. O embaixador do Afeganistão está compilando ideias e propostas. Espero que os países-membros cheguem logo a um acordo sobre a reforma.
Como o Brasil, com seus programas sociais, pode contribuir com a ONU no combate à miséria, à fome e a doenças, especialmente na África?
Resolver esses grandes desafios africanos, a pobreza absoluta, doenças, educação, todos eles são grandes prioridades da comunidade internacional. Em 2000, os líderes mundiais estabeleceram as Metas de Desenvolvimento do Milênio para serem atingidas até 2015. Só nos restam mais cinco anos. Por isso, estou convocando uma reunião de cúpula sobre as metas do milênio para setembro, na época da sessão anual da Assembleia Geral da ONU. Eu elogio o progresso do governo brasileiro no combate à pobreza absoluta com programas como Fome Zero e Bolsa-Família, iniciativas muito boas tomadas pelo presidente Lula. Espero sinceramente que muitos países-membros aproveitem o exemplo. Convidei o presidente Lula para discursar durante este encontro de cúpula e ele gentilmente aceitou o convite.
A sociedade internacional vai esquecer o Haiti mais uma vez?
Não, de jeito nenhum. A paz, a reconstrução e o desenvolvimento do Haiti estão entre as grandes prioridades da ONU. Mais uma vez, o Brasil está na vanguarda, liderando esta campanha não apenas financeiramente, mas fornecendo soldados, policiais e o comandante da força de paz da ONU no Haiti. O Brasil foi o primeiro dos grandes países doadores a depositar a ajuda financeira no Banco Mundial. O ex-presidente Bill Clinton e o primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive, são co-presidentes da comissão de reconstrução. Em 31 de março, a comunidade internacional prometeu US$ 9,9 bilhões para a reconstrução do Haiti. Vamos construir um Haiti melhor. É nosso compromisso.
Qual o papel do Brasil no Diálogo de Civilizações?
O Brasil pode dar uma grande contribuição. O Brasil é uma mistura de povos. É um dos países que mais podem contribuir para a aliança de civilizações. Temos de estar preparados para maior compreensão e entendimento das tradições, das culturas e das civilizações dos outros. É preciso pensar nos outros antes mesmo de pensar em si mesmo e em nós. Esta é a filosofia básica. Em muitos casos, o extremismo e a violência vem do medo e do desconhecimento dos outros. O medo vem da ignorância em relação aos outros. Isso pode ser superado pela educação, sobretudo dos jovens. Nossas futures gerações devem viver um mundo com mais paz e harmonia, sem ódeio no coração nem suspeitas em relação aos outros. O Fórum da Aliança de Civilizações que está sendo realizado aqui no Rio é um exemplo disso e da liderança do Brasil.
O Sr. está otimista com as negociações para combater o aquecimento global?
Esta é outra grande prioridade. Nenhuma solução será encontrada sem a participação do Brasil, que tem o ecossistema mais importante do mundo, com suas florestas e fontes de energia renováveis. Agradeço o empenho do presidente Lula nesta questão, especialmente na contribuição que deu na Conferência de Copenhague. Estamos trabalhando arduamente. Primeiro, para dar apoio financeiros para os países em desenvolvimento se adaptarem. E também para criar uma economia com uso de energia mais eficiente. Convidei o presidente Lula para ser co-presidente do painel de alto nível sobre sustentabilidade global. O Brasil vai sediar a conferência Rio + 20, em 2012, 20 anos depois da Conferência do Rio . Esse painel deve dar uma contribuição importante.
O presidente Lula seria um bom secretário-geral da ONU?
Ouvi essas especulações. O presidente Lula é um dos líderes globais mais importantes, mas eu não posso comentar esse assunto. O posto é um enorme desafio. É preciso enfrentar inúmeros problemas globais e regionais. Eu lhe desejo boa sorte.
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