Apesar de enfrentar a pior crise econômica de sua história, os líderes dos 27 países da União Europeia (UE) não conseguiram chegar a um acordo neste fim de semana sobre um plano de recuperação. A Alemanha e a França propuseram a mobilização de 750 bilhões de euros, cerca de R$ 4,615 trilhões, sendo 500 bilhões em ajuda direta e 250 bilhões em empréstimos.
Quatro países ricos, os quatro frugais (Áustria, Dinamarca, Holanda e Suécia), resistem a dar ajuda sem contrapartida e os dois governos de extrema direita (Hungria e Polônia) rejeitam a exigência de respeitar as regras do Estado de Direito. As negociações continuam nesta segunda-feira.
Na reunião de cúpula de emergência realizada em Bruxelas, na Bélgica, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, porta-voz dos quatro frugais, sugeriu uma redução da ajuda direta, sem contrapartida, a 350 bilhões de euros, pouco mais de R$ 2,153 trilhões, e mais 350 bilhões em empréstimos. Quer também condicionar o desembolso a reformas nos países mais atingidos pela doença do coronavírus de 2019: Itália e Espanha.
A Alemanha, a Espanha, a França e a Itália querem um mínimo de 400 bilhões de euros, pouco mais de R$ 2,461 trilhões, em ajuda direta. Houve um avanço. Quando a proposta foi feita pela chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Emmanuel Macron, em maio, Rutte e o primeiro-ministro austríaco, Sebastian Kurz, rejeitaram toda ajuda direta.
Merkel e Macron defendem que a Comissão Europeia, órgão executivo da UE, tome empréstimos de 500 bilhões de euros coletivamente, em nome dos 27 países-membros. Desta maneira, conseguiriam juros muito mais baixos do que seriam obtidos pelos países em maiores dificuldades econômicas, como Espanha, Itália e Grécia.
Enquanto os líderes da Alemanha e da França estão extremamente frustrados com os quatro frugais, o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, adverte que está em jogo o futuro da UE.
Já o primeiro-ministro fascistoide Viktor Orbán acusou seu colega holandês de odiar a Hungria. Ele exige que qualquer suspensão dos desembolsos por desrespeito ao Estado de Direito precise de unanimidade. Assim, os governos de extrema direita da Hungria e da Polônia, que atacam a liberdade de imprensa e a independência do Poder Judiciário, poderiam vetar a sanção.
A Hungria e Polônia podem querer barganhar uma ajuda maior, disse ao jornal inglês Financial Times um diplomata que participou das negociações.
Um acordo "não será construído sacrificando as ambições da Europa", desabafou o presidente Macron. "Não por uma questão de princípios, mas porque estamos enfrentando uma crise de saúde, econômica e social sem precedentes, porque nossos países precisam e porque a unidade da Europa precisa."
Se a União das Comunidades Europeias não for capaz de dar uma resposta conjunta num momento destes, para que serve a UE? Corre o risco de virar apenas uma zona de livre comércio. Deixaria de ser uma comunidade.
Para o jornal liberal alemão Süddeutsche Zeitung, "foi um dia de cólera entre governos e modelos europeus divergentes" e "uma tragédia porque mostra a impotência da Alemanha e da França", eixo central da UE, que mostraram uma "rara unidade" ao formular a proposta.
O problema acontece no momento de maior crise do projeto de integração da Europa. Além da pandemia do novo coronavírus, a UE está sob o impacto da saída do Reino Unido, a segunda maior economia do continente, num mundo em que os Estados Unidos de Donald Trump se afastam dos aliados europeus, sabotam a integração e acirram o conflito com a China, cada vez mais agressiva sob a ditadura de Xi Jinping.
Mais do que nunca, a Europa precisa de união para se apresentar como um modelo alternativo às superpotências que fomentam uma nova guerra fria.
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