terça-feira, 21 de julho de 2020

Mulheres poderosas derrotam covid-19 e machões fracassam

O machismo ordinário perde a batalha do coronavírus
Enquanto presidentes machistas, autoritários e ignorantes como Donald Trump, nos Estados Unidos; Jair Bolsonaro, no Brasil; Narendra Modi, na Índia; e Rodrigo Duterte, nas Filipinas; fracassam no combate à doença do coronavírus de 2019, alguns dos governos mais bem-sucedidos na luta contra a covid-19 são liderados por mulheres.

São os casos de Jacinda Ardern, a governante mais bem avaliada da história da Nova Zelândia; da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que acaba de assumir por seis meses a presidência rotativa da União Europeia; das primeiras-ministras Mette Frederiksen, da Dinamarca; Sanna Marin, da Finlândia; Katrín Jakobsdóttir, da Islândia; Erna Solberg, da Noruega; e da presidente de Taiwan, Tsai Ing-Wen.

Não é uma questão de sexo. São países com altos índices de desenvolvimento humano e grande participação social das mulheres. Líderes qualificadas, inteligentes e sensíveis, adotaram a ciência, a razão, a valorização da vida, a coordenação com governos regionais e locais, e a comunicação direta e transparente como base da luta contra a pandemia.

Em vez de gurus, confidentes e líderes religiosos, recorreram a especialistas. Em vez da mentira e da manipulação das notícias falsas, de querer ganhar grito e na marra como eles fizeram em suas campanhas eleitorais, elas optaram pela cooperação, a empatia e o respeito.

Como observou o cientista político americano Francis Fukuyama o sucesso na luta contra a pandemia depende da confiança da sociedade no governo e na ciência. A desinformação é a receita para o fracasso.

A maioria delas governa regimes parlamentaristas com instituições fortes baseados em ampla participação popular, colaboração e formação de coalizões. Jacinda Ardern, de 39 anos, foi a segunda mulher a dar à luz no exercício do poder. Levou a filha de colo para a Assembleia Geral das Nações Unidas.

Seu estilo de governar é um misto de empatia, cuidado, afeição e comunicação direta. A Nova Zelândia teve 1.549 casos e 22 mortes. Não achatou a curva. Esmagou a curva. Ardern dava entrevistas coletivas todos os dias. Começava pedindo desculpas às famílias dos mortos.

Um líder religioso a acusou de criar um “Estado-babá” como uma “supermãe”. Isto não a impediu de convocar o Exército para impor a quarentena quando duas mulheres chegaram do Reino Unido e não respeitaram a ordem de ficar isoladas durante duas semanas.

Angela Merkel não tem filhos, mas é conhecida como mutti (mamãe) pelo povo alemão. PhD em química quântica, foi pessoalmente para o microscópio estudar o novo coronavírus. A Alemanha, um país de 83 milhões de habitantes, teve quase 202 mil casos de covid-19 e pouco mais de 9 mil mortes.

Como líder da UE, caberá a Merkel coordenar o plano de recuperação de 750 bilhões de euros discutido a partir desta sexta-feira pelos líderes do bloco europeu, vencendo a resistência dos países ricos que relutam em dar ajuda direta aos mais afetados pela pandemia, Itália e Espanha.

Tsai também é doutora. O coronavírus chegou da China em 21 de janeiro, com uma professora que dava aula em Wuhan, berço da pandemia. O país tomou medidas imediatamente, com quarentena dos infectados, rastreamento de quem teve contato com eles e ampla distribuição de máscaras.

Taiwan tinha a experiência da epidemia da síndrome respiratória aguda grave (SARS) de 2003 e temia a interferência da República Popular da China, que a considera uma província rebelde.

Quem chegava de viagem ficava isolado por duas semanas com ajuda do governo, comida entregue na porta e contato diário por telefone com um representante do governo local para saber se estava tudo bem e agradecer pela colaboração. Com 23,8 milhões de habitantes, Taiwan teve 452 casos e apenas sete mortes.

Única líder conservadora no poder na Escandinávia, Erna Solberg é a Dama de Ferro, a Margaret Thatcher norueguesa. O país de 5,4 milhões de habitantes teve 9.015 casos e 254 mortes. O sucesso é atribuído ao grande número de testes, mais de 72 mil para cada milhão de habitantes.

A Dinamarca da social-democrata Mette Frederiksen testou mais ainda 1,29 milhão de seus 5,8 milhões de habitantes. Teve pouco mais de 13 mil casos e 610 mortes. Foi um dos primeiros países europeus a impor um confinamento rigoroso, quatro dias depois da Itália.

Todas as pessoas contaminadas e quem teve contato com elas ficaram duas semanas em quarentena em contato diário com profissionais de saúde. Um mês e dois dias depois, começou a reabertura. Frederiksen, de 42 anos, foi a mais jovem chefe de governo e a segunda mulher a governar a Dinamarca.

Com 34 anos, a primeira-ministra social-democrata da Finlândia, Sana Martin, é a segunda mais jovem líder nacional do mundo, atrás apenas do primeiro-ministro conservador da Áustria, Sebastian Kurz. O país, de 5,5 milhões de habitantes, registra 7.293 casos e 328 mortes.

Seu governo suspendeu as aulas, mas não nas escolas primárias, fechou a maioria dos prédios públicos, proibiu encontros de pessoas e fechou as fronteiras durante pouco menos de dois meses.

A Islândia da primeira-ministra Katrín Jakobsdóttir é uma pequena ilha situada no topo da Cordilheira Interoceânica. Sua estratégia de combate à covid-19 foi testar em massa. Mais de 31% dos seus 341 mil habitantes foram examinados. Foram proibidas reuniões de mais de 20 pessoas, mas não houve confinamento. O país registra 1.914 casos e 10 mortes.

Katrín, de 44 anos, do partido Esquerda Verde, foi a segunda mulher a governar a Islândia. É presidente do Conselho Mundial de Mulheres Líderes.

(publicado originalmente em Quarentena News, no Facebook)

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