sexta-feira, 22 de novembro de 2013

JFK foi um dos melhores presidentes dos EUA

Apesar de ter autorizado a invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, do início da conspiração para derrubar o presidente João Goulart e do incessante revisionismo histórico, John Fitzgerald Kennedy (1961-63), assassinado há 50 anos, foi um dos melhores e mais populares presidentes dos Estados Unidos e até hoje é o mais popular. Foi o primeiro presidente da era da televisão.

CRISE DOS MÍSSEIS 
No momento decisivo de sua Presidência de apenas mil dias, a Crise dos Mísseis em Cuba, em outubro de 1962, quando o mundo esteve mais perto do que nunca de uma guerra nuclear, Kennedy controlou os falcões e cercou a ilha, em vez de invadi-la. Em vez de chamar de "bloqueio", usou a palavra "quarentena" para disfarçar.

BERLIM 
JFK também foi decisivo ao resistir à pressão soviética para abandonar Berlim Ocidental depois da construção do muro, em 13 de agosto de 1961. Em 1963, durante meses, tanques soviéticos e americanos estiveram frente à frente nas ruas da atual capital da Alemanha.

Em discurso em Berlim, Kennedy pronunciou, em alemão, uma de suas frases mais célebres: “Todos os homens livres, onde quer que vivam, são cidadãos de Berlim. Portanto, como um homem livre, tenho orgulho das palavras: ‘Ich bin ein Berliner’ (Eu sou um berlinense)”.

DIREITOS CIVIS
No centenário da Proclamação da Abolição, em 1963, Kennedy mandou tropas federais proteger os estudantes negros que não tinham proteção da polícia de estados racista.

A legislação de direitos civis foi aprovada no governo Lyndon Johnson, lembrou Luiz Fernando Veríssimo sem disfarçar o cacoete esquerdista de querer diminuir os heróis dos EUA. Mas a proposta era de JFK. Há um telefonema de Johnson para o pastor Martin Luther King Jr. prometendo aprovar as leis que garantiram direitos iguais para os negros.

VIAGEM À LUA
Se o homem chegou à Lua, foi Kennedy quem mandou ao lançar seu programa especial como um desafio: “Queremos ir à Lua não por que seja fácil, mas porque é difícil”. Era um novo teste à capacidade tecnológica dos EUA depois que a União Soviética tinha dado um salto à frente com o primeiro satélite artificial da Terra, o Sputnik, em 1957, e ao mandar o primeiro homem ao espaço, Yuri Gagarin, em 1961.

IMAGEM
Mais jovem presidente a chegar à Casa Branca, com apenas 43 anos e uma linda mulher de 31 anos, Kennedy foi o primeiro político da era da televisão. Soube usar sua própria imagem e da primeira família como um apelo irresistível. As fotos dos filhos pequenos brincando no Salão Oval da Casa Branca são históricas.

Sua vitória sobre o então vice-presidente Richard Nixon em 1960, na eleição presidencial com maior participação do eleitorado da História dos EUA, foi selada nos primeiros debates presidenciais televisionados.

Como observou o sociólogo canadense e guru da comunicação Marshall McLuhan em Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem, Kennedy parecia o xerife simpatico e bonachão de uma cidadezinha do interior, sem todas as respostas na ponta da língua, mas passando sinceridade e boa vontade.

Suando e mal bardeado, Nixon, comparou McLuhan, estava mais para o advogado da estrada de ferro que chega à cidadezinha para ferrá-la. Até hoje o debate é estudado. Ronald Reagan repetiu literalmente uma pergunta no seu debate com Jimmy Carter em 1980, aconselhando os eleitores a votar na oposição se estivessem menos ricos do que quatro anos antes.

JACKIE
Com sua elegância de origem francesa, um charme a mais para a sociedade americana, Jaqueline Kennedy redecorou a Casa Branca e a abriu pela primeira vez para as câmaras de televisão. Era tão popular na França que numa entrevista em Paris ele se apresentou assim: “Sou o homem que está acompanhando Jaqueline Kennedy em sua visita à Europa”.

Jackie não gostava do carro aberto. Sua imagem de dor e dignidade diante da morte do marido sensibilizou o mundo inteiro. O funeral de Kennedy reforçou o papel ritual da TV em grandes cerimônias, aquele cortejo lento com os irmãos do presidente, a viúva e chefes de Estado e de governos estrangeiros seguindo em marcha fúnebre, Jackie, Bob e Ted Kennedy caminhando de costas para não dar as costas ao presidente.

LADO NEGRO 
Nesses últimos 50 anos desde que os tiros calaram o político mais popular do planeta numa cidade sombria de um estado conservador e reacionário como o Texas, as críticas ao governo Kennedy se avolumaram. Estão em livros como O Lado Negro de Camelot, de Seymour Hersh, que explora relações extraconjugais e ligações com a máfia.

Kennedy era um homem dos anos 1960s. Alega-se até que foi o primeiro presidente a fumar maconha na Casa Branca.

ASSASSINATO
Sua própria morte é um mistério. A versão oficial é que JFK foi morto por Lee Harvey Oswald, um ex-fuzileiro naval que estivera na União Soviética. Dois dias depois, diante das câmeras de TV, ao vivo, Jack Ruby matou Oswald, ajudando a enterrar o mistério.

Daí vem suspeitas de vingança da máfia, que teria apoiado a eleição de Kennedy e até ajudado o presidente a ter um caso com a atriz Marylin Monroe, que cantou parabéns para JFK na Casa Branca num de seus aniversários.

A Comissão Warren, presidida pelo presidente da Suprema Corte na época, Eral Warren, concluiu que Oswald tinha sido o único responsável pela morte. Mas a maioria duvida que tenha agido sozinho.

GOLPISMO 
Kennedy criou a Aliança para o Progresso para o desenvolvimento da América Latina, mas a preocupação era com a segurança nacional.

Em plena Guerra Fria, Kennedy levou adiante um plano de invadir Cuba formulado por Nixon no governo Dwight Eisenhower e não se opôs à articulação do golpe contra Jango. É improvável que outro presidente dos EUA pudesse agir de outra maneira. Os republicanos eram muito mais direitistas. Costumavam acusar os democratas de “perder a China”, que caiu sob o comunismo no governo Harry Truman (1945-63).

BALANÇO 
Pelo mesmo motivo, Kennedy mandou milhares de assessores militares dos EUA para o Vietnã. Naquela época, os EUA acreditavam na teoria do dominó. Se um país caísse sob o comunismo, os outros viriam atrás. A participação direta na Guerra do Vietnã começa em 1964, depois que o governo Johnson forjou o Incidente do Golfo de Tonkin.

Apesar de todos os seus muitos defeitos, Kennedy acertou em questões essenciais como na Crise dos Mísseis, na defesa de Berlim e na defesa de direitos iguais para negros e brancos. A suposição de que poderia ter negociado o desarmamento com a URSS duas décadas antes de Reagan não tem muita consistência. Com quem Kennedy negociaria, com Leonid Brejnev?

ESPERANÇA 
Acima de tudo, foi um presidente que renovou a fé e a esperança, que talvez seja a maior obrigação de um líder político.

No seu discurso de posse, declarou: “Não pense no que seu país pode fazer por você. Pense no que você pode fazer pelo seu país”, pregando um sentimento de solidariedade que o individualismo crescente nas últimas décadas parece ter descartado.

OUTROS
Num balanço final, por maiores que sejam as críticas, JFK foi muito melhor do que Lyndon Johnson, Richard Nixon, Gerald Ford, Jimmy Carter, Ronald Reagan, os dois George Bush e Bill Clinton.

A direita pode alegar que Reagan ganhou a Guerra Fria, mas o degelo se deveu muito mais ao líder soviético Mikhail Gorbachev e sua decisão de reformar o irreformável comunismo soviético do que às ações midiáticas do Grande Comunicador, como era conhecido o outrora canastrão de Hollywood.

Graças à revolução da tecnologia da informação, Clinton presidiu os EUA numa década de grande prosperidade. Mas era da ala conservadora do Partido Democrata e, pela primeira vez em décadas, o partido teve dois candidatos do Sul, sinal da guinada à direita.

Clinton se omitiu no genocídio em Ruanda e não aproveitou a década de total supremacia dos EUA para tentar modernizar as instituições internacionais do sistema ONU, além de descuidar da regulamentação do mercado financeiro, embarcando no neoliberalismo republicano.

HERDEIRO POLÍTICO
O primeiro democrata do Norte dos EUA a conquistar a Casa Branca depois de Kennedy foi Barack Obama. É também o mais próximo ideologicamente do presidente morto, uma espécie de herdeiro político.

Quando Kennedy foi morto, há exatamente 50 anos, eu era um menino de apenas 9 anos. Na minha inocência, imaginei que só poderia ter sido a URSS. A guerra nuclear seria inevitável. A morte era certa, pelo menos a morte da inocência.

Sua morte foi o prenúncio de uma década trágica nos EUA. Em 1968, seriam mortos o líder negro Martin Luther King e Bob Kennedy, baleado no dia em que venceu a eleição primária na Califórnia, conquistando a candidatura democraca para a Casa Branca.

Com os Kennedy e Kuther King, morreram também o sonho e as esperanças dos anos 60. O sonho de Obama ficou muito aquém.

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