Uma parceria hemisférica dos Estados Unidos com a América Latina permitiria garantir a autossuficiência em energia e matérias-primas no continente. Seria uma boa resposta à industrialização e à ascensão da Ásia como novo polo de poder da política internacional, afirmou o pesquisador Parag Khanna, em palestra realizada no Rio de Janeiro, onde está lançando seu segundo livro, Como Governar o Mundo.
"O Oriente é muito importante, extremamente dinâmico e poderoso, mas é também muito instável", comentou Khanna. "A ascensão da China faz os vizinhos comprarem cada vez mais armas dos EUA."
Neste mundo globalizado, "não há mais monopólios. Todos negociam com todos, o domínio do Ocidente em áreas como comércio e investimentos se dissolveu, e as decisões estratégicas vem do poder econômico", raciocina o cientista político.
"A economia vem em primeiro lugar. A Arábia Saudita está vendo mais para a China. Quando escrevi meu primeiro livro, o Brasil tinha saldo com a China. Agora o Brasil, como os EUA, está preocupado com o câmbio e os subsídios chineses", acrescentou.
Nesta reconfiguração política e econômica, "a geografia é destino", pondera Khanna. Assim, "a Austrália se tornou completamente dependente das exportações de matérias-primas para a China. Os melhores diplomatas vão para Beijim. A piada é que a Austrália ganha dinheiro e a China ganha a Austrália".
Com esse fortalecimento das relações regionais, "a Ásia pode sobreviver da Ásia, não precisa mais dos americanos como consumidores de último recurso. A Ásia depende mais das exportações para a Europa do que para os EUA".
Quem vai liderar o crescimento mundial nas próximas décadas? Os chamados países do Sul. Isto aumenta o poder de barganha da América Latina nas negociações com EUA e Europa para criar uma aliança ou um bloco ocidental, diz o diretor da Iniciativa de Governança Global da Fundação Nova América.
Enquanto a França manifesta interesse em forjar uma parceria estratégica com o Brasil, talvez como contraponto à China e aos EUA, o governo americano ainda não acordou para a importância geopolítica de uma parceria hemisférica, argumenta o pesquisador.
"Faz 10 anos desde que George W. Bush falou da América Latina", lembra Khanna. "Não houve reforma nas leis de imigração e não há uma nova relação com a América Latina. O México está na agenda por razões negativas como tráfico de drogas e imigração ilegal. O Brasil é a boa notícia e não é uma ameaça para os EUA".
Faltam uma grande estratégia e uma nova doutrina que incluam a América Latina como uma região onde a cooperação pode ter grande valor para os EUA em temas como energia e crescimento.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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