LONDRES - O presidente Hugo Chávez ameaçou cortar o suprimento de petróleo para a Venezuela, no caso de um ataque militar da Colômbia, que é improvável.
A tensão entre os dois países voltou a crescer na semana passada, quando o governo colombiano denunciou na Organização dos Estados Americanos (OEA) que a Venezuela apoia e acoberta guerrilheiros esquerdistas do Exército de Libertação Nacional (ELN) e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
Chávez imediamente rompeu com a Colômbia. Aparentemente, foi a última salva do presidente colombiano, Álvaro Uribe, que combateu militarmente a guerrilha nos últimos oito anos, infligindo grandes derrotas aos dois grupos guerrilheiros.
Mesmo admitindo que haja guerrilheiros refugiados em seu território, a Venezuela negou que dê qualquer apoio oficial às FARC e ao ELN.
Os dois países tinham rompido relações depois que uma operação militar da Colômbia matou o subcomandante das FARC, Raúl Reyes, em território do Equador, em 1º de março de 2008.
Agora, Chávez joga com a possibilidade de que a Colômbia, que tem um acordo de cooperação militar com os Estados Unidos para combater a guerrilha e o tráfico de drogas, pudesse fazer o mesmo com a Venezuela, o que é altamente improvável.
A Venezuela realiza eleições parlamentares daqui a exatamente três meses, e o governo enfrenta sérios problemas internos. A inflação chegou a 31% ao ano. É uma das maiores da América Latina. O país ainda luta para sair da recessão. Cerca de 180 mil toneladas de alimentos apodreceram em portos e armazéns públicos.
Em meio a essa saraivada de problemas, o inimigo cordial Álvaro Uribe acabou dando uma ajuda à estratégia eleitoral de Chávez, de radicalizar, brandir a ameaça do inimigo externo e do império americano para acusar a oposição de ser um bando de fantoches a serviço dos EUA.
Na minha opinião, Uribe tentou mostrar que o conflito se deve a problemas de fundo, especialmente o apoio (pelo menos político) chavista às guerrilhas esquerdistas colombianas, e não é uma questão pessoal entre ele e Chávez.
Também tentou evitar que o presidente eleito Juan Manuel Santos, seu ex-ministro da Defesa, que toma posse no dia 7 de agosto de 2010, busque uma aproximação com a Venezuela, que no momento boicota as exportações colombianos. Mas a manobra pode ter dado errado.
O silêncio eloquente de Santos indica que o novo presidente espera que sua posse ajude a apaziguar a situação. Esta é postura da maioria dos líderes sul-americano, inclusive o presidente Lula.
A saída de cena de Uribe acabaria com a crise atual. Mas nada indica que Chávez vá moderar o tom da campanha eleitoral. Está em jogo seu domínio absoluto sobre a Assembleia Nacional, o parlamento unicameral da Venezuela.
Como finalmente a oposição venezuelana se convenceu de que precisa derrotar Chávez nas urnas, a reta final da campanha promete ser forte.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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