Depois de meses de pressão sob acusações de corrupção, o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, anunciou hoje que deixa o cargo em setembro, depois da eleição de um novo líder para seu partido Kadima (Avante).
Olmert foi prefeito de Jerusalém. Era vice-primeiro-ministro de Ariel Sharon quando o primeiro-ministro teve um acidente vascular cerebral que o deixou em coma e inconsciente até hoje, vivendo ligado a aparelhos. Herdou de Sharon a chefia do partido Kadima e do governo.
O Kadima (Avante) foi a herança política de Sharon, um linha-dura que no final da vida, como comandante militar, percebeu que há um momento para conquistar a paz. Em 2005 rompeu com a coligação direitista Likud e formou um partido para avançar na direção da paz dentro da fórmula de criação de dois Estados Nacionais independentes, um árabe e um judaico, no território histórico da Palestina.
Sharon sonhava em morrer depois de consolidar as fronteiras de Israel. Para isso, é necessária a paz.
Seu sucessor, Olmert, se elegeu com uma bancada do Kadima aquém do esperado: 28 deputados na Knesset, de 120 cadeiras. Para formar o governo, aliou-se ao Partido Trabalhista, de esquerda. É o partido que fundou Israel, de David Ben Gurion, dos kibbutzim e da central sindical Histadrut.
Na época, o líder era Amir Peretz, um dirigente sindical sem experiência militar. Como grande aliado, foi nomeado ministro da Defesa. Teve atuação desastrosa durante a fracassada ofensiva de 34 dias no Líbano contra a milícia fundamentalista xiita Hesbolá (Partido de Deus), que abalou o governo Olmert desde o início.
Os inimigos árabes ainda têm medo e respeitam Israel. Mas o Hesbolá se gaba de ter acabado com o mito de invencibilidade israelense. Morreram cerca de 150 israeleses e 1,2 mil libaneses, mas uma força irregular muito menor e bem infiltrada na sociedade conseguiu resistir à mais poderosa máquina militar do Oriente Médio.
Em 2007, Peretz perdeu a liderança trabalhista para o ex-primeiro-ministro Ehud Barak.
Depois, vieram os escândalos de corrupção. Olmert foi acusado de receber US$ 140 mil de um empresário americano, Morris Talansky. O primeiro-ministro demissionário alega que era dinheiro para a campanha, mas Talansky garante que foi usado para despesas pessoais de Olmert.
Com a impopularidade do governo, no momento, as pesquisas dão vantagem ao ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, do partido Likud, cada vez mais à direita, refratário ao processo de paz. Mantém a tática usada durante muito tempo por Sharon e outros falcões israelenses: fingir que está negociando para ganhar tempo e consolidar a ocupação.
Isso não impede que o vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa Ehud Barak tenha orientado os deputados trabalhistas a derrubar o governo e provocar a antecipação das eleições, que não precisam ser realizadas até 2010, se alguém conseguir articular uma coalizão capaz de ter maioria para governar.
A favorita no Kadima é a ministra do Exterior, Tzipi Livni. Também são candidatos em potencial e o ex-ministro da Defesa e atual ministro dos Transporte, Shaul Mofaz, um linha-dura; o ministro do Interior, Meir Shitreet; e o da Segurança Interna, Avi Dichter.
Alguns analistas suspeitam que Olmert, ao anunciar a renúncia com antecedência e data marcada, a eleição de um novo líder do Kadima, dando-se aviso prévio, estaria na verdade blefando.
Se o novo líder do partido não conseguir formar um governo, ele permanece como primeiro-ministro interino. Isto pode lhe garantir uma sobrevida política de muitos meses em que poderia se dedicar, por exemplo, à paz com os palestinos, algo capaz de deixar uma marca positiva de seu governo para a História.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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