quarta-feira, 17 de junho de 2020

China mata 20 soldados da Índia em conflito na fronteira

No primeiro combate fatal entre dois gigantes da Ásia em 45 anos, com barras de ferro, paus e pedras, soldados da China mataram pelo menos 20 militares da Índia no Vale do Rio Galwan, na região do Ladaque, nas montanhas da Cordilheira do Himalaia, na noite de 15 de junho. O jornal linha-dura chinês Global Times disse que houve baixas chinesas. A fronteira é disputada desde que os dois países, hoje potências nucleares, travaram uma guerra em 1962.

O Exército Popular de Libertação da China, braço armado do Partido Comunista, ocupou em abril uma série de postos ao longo da fronteira disputada. Os dois países mandaram tropas e armas pesadas para a região estão frente a frente em três locais . 

Em maio, houve confrontos na Lago Pangong, no Ladaque, e em Naku Ku, no Siquim, um estado do Nordeste da Índia que faz fronteira com o Butão, o Nepal e o Tibete, este último ocupado pela China desde 1950.

A Índia acusa a China de ter ocupado uma área de 40 a 60 quilômetros quadrados de seu território, estimou o general Harcharanjit Singh Panag, ex-comandante do Comando Norte do Exército da Índia.

Depois dos primeiros confrontos, o governo indiano tentou minimizar a importância do conflito. Em 13 de junho, o comandante do Exército da Índia, general Manoj Mukund Naravane, declarou que o diálogo com a China havia sido "muito frutífero". Os choques dois dias depois mostram o contrário.

O regime comunista da China não lamentou o episódio. Acusou a Índia de violar acordos anteriores e de cruzar duas vezes a linha de controle, provocando o ataque.

A causa imediata do conflito atual foi a construção pela Índia de uma estrada que facilita o movimento de tropas e tanques, neutralizando a vantagem logística da China. 

Na década passada, a rivalidade entre os dois países aumentou. Em 2013 e 2014, a China fez incursões em Ladaque. Em 2017, forças dos dois países se colocaram frente a frente num impasse na fronteira do Butão.

Com seu crescente poderio econômico e militar, a China se alinhou aos países do chamado colar de pérolas ao redor da Índia - Paquistão, Nepal, Butão, Bangladesh e Sri Lanka - e aumentou sua presença naval no Oceano Índico.

Em resposta, a Índia formou o Quarteto com os Estados Unidos, com que assinou um acordo de compra de armas de US$ 3,5 bilhões em fevereiro, a Austrália e o Japão, e aumentou a cooperação militar com o Vietnã, vizinho da China.

O choque mortal aponta para uma escalada tática e estratégica no conflito com grandes implicações políticas, diplomáticas, econômicas e militares para os dois gigantes da Ásia, os dois únicos países do mundo com mais de um bilhão de habitantes.

As mortes inflamam o sentimento nacionalista nos dois países em meio à pandemia do novo coronavírus, que começou na China, mas hoje tem muito mais casos confirmados e mortes na Índia.

Para não se dar por vencida, a Índia mandou ontem mais 1,6 mil trabalhadores para continuar as obras de construção da estrada que teria sido o estopim do choque fatal.

Sob a ditadura personalista de Xi Jinping, a China se afirma cada vez mais no cenário internacional, mas tende a refrear seu ímpeto para manter a aparência de ser uma grande potência benigna. Mas, até prova em contrário, isto não existe. Grandes potências exercem o poder, se necessário, à força.

Nesta quarta-feira, o Ministério do Exterior da China declarou que os dois países estão negociando uma solução pacífica para o conflito através de canais diplomáticos e militares, mas advertiu que a Índia, "não pode subestimar a vontade firme da China de salvaguardar sua soberania territorial", noticiou o jornal Global Times, a edição internacional do Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista chinês.

Nenhum comentário: