domingo, 3 de dezembro de 2017

Ideólogo da ditadura militar da China defende censura à Internet

Ele é o cérebro por trás do trono. Sem nunca ter sido líder regional do partido, nem prefeito, nem governador, nem ministro, um obscuro professor virou membro do Comitê Permanente do Politburo do Comitê Central do Partido Comunista da China, um dos sete imperadores que governam o país de fato. Em seu primeiro discurso público, Wang Huning defendeu hoje o rígido controle da informação pela ditadura militar chinesa.

Ao falar na Conferência Mundial da Internet, organizada pela Administração do Ciberespaço da China, em Wuzhen, a 120 quilômetros de Xangai, na China, defendeu cinco princípios para manter a "ordem e a segurança", suas preocupações fundamentais, na rede mundial de computadores, informou o jornal The New York Times.

Diante dos diretores-gerais da Apple, Tim Cook, e do Google Sundar Pixai, e do chinês Jack Ma, dono da maior empresa de comércio eletrônico do mundo, a chinesa Ali Baba, Wang destacou o desenvolvimento tecnológico da China e pediu mais investimentos em setores de ponta como inteligência artificial e computação quântica. O regime ditatorial quer a China na vanguarda tecnológica sem ampliar as liberdades públicas.

Conselheiro dos dois presidentes anteriores, Jiang Zemin e Hu Jintao, e do atual, Xi Jinping, Wang chegou ao Comitê Permanente aos 62 anos. Suas ideias começaram a ser conhecidas nos anos 1990s, quando ele era professor da Universidade Fudan, em Xangai, a maior e mais vibrante cidade chinesa.

Como a China é um país grande e pobre, argumenta Wang, precisa de um governo central forte para promover o desenvolvimento econômico. Sem um regime autoritário, a China não conseguiria superar o século de humilhação diante das potências ocidentais e do Japão, que começa com as Guerras do Ópio, em 1839, e vai até a vitória da Revolução Comunista liderada por Mao Tsé-tung, em 1949.

Seu pensamento segue a tendência de aumento do autoritarismo sob a liderança personalista de Xi Jinping, considerado o dirigente mais forte do PC chinês depois de Mao Tsé-tung e Deng Xiaoping. Xi resgata o culto da personalidade de Mao, que Deng suprimiu impondo uma liderança coletiva e um limite para o exercício dos cargos mais importantes do regime, a Secretaria Geral do PC, a presidência da China e a presidência da Comissão Militar Central.

Neste domingo, Wang exaltou Xi por seu "conhecimento profundo" da governança da Internet, afirmando que as ideias do ditador chinês sobre a Internet foram "recebidas calorosamente" pela sociedade internacional, em especial o conceito de "soberania cibernética" - a expressão usada pelo regime comunista para justificar a censura rígida à rede mundial de computadores.

A China é o único país onde andei em que não pude escrever neste blog. A censura é implacável. Na visão chinesa, comum a ditaduras, cada país tem o direito de criar sua própria rede e censurar tudo, especialmente o que vem de fora, com a chamada Grande Muralha de Fogo da China (Great Firewall of China), praticamente isolando o país.

Nas regiões onde há problemas com minorias étnicas, como no Tibete e na província de Xinjiang, a rede não funciona, para impedir a articulação de oposições ao regime comunista. Na conferência, conexão de altíssima velocidade.

"A governança global do ciberespaço não tem espectadores. Somos todos participantes", argumentou o alto dirigente chinês para alegar que "todas as partes" devem ter direito a dizer como a Internet deve ser administrada.

Suas cinco propostas seguem a orientação ditada por Xi Jinping ao participar da 2ª Conferência Mundial da Internet, em dezembro de 2015:

1. Acelerar a construção da infraestrutura global da rede para aumentar a interconectividade: até 2020, a Internet deve chegar a quase todas as aldeias chinesas.

2. Construir plataforma on-line para intercâmbio cultural e promoção da comunicação mútua: a China quer exportar sua cultura mantendo o controle estatal sobre o fluxo de ideias vindas do exterior.
3. Promover o desenvolvimento inovador da economia da Internet: maior beneficiária hoje da globalização e do comércio internacional, a China quer estar na vanguarda de todos os setores, especial da economia da Internet.

4. Salvaguardar a segurança da Internet para garantir o desenvolvimento de maneira ordena: ao mesmo tempo em que se dá o direito de censurar a rede, o regime chinês quer fortalecer o combate internacional ao terrorismo e ao crime organizado via Internet.

5. Estabelecer um sistema de governança da Internet que promova equidade e justiça: a proposta é criar regras globais de administração da rede. Vindo de uma ditadura, dá para pressupor que seja para aumentar o controle da informação.

A China não quer perder o trem-bala da corrida tecnológica. Quer usar o poder econômico da Internet sem liberar o fluxo de informações para impedir a disseminação de ideias liberais e democráticas capazes de minar o poder absoluto do partido.

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