O Egito está levando adiante o projeto de construir uma grande barreira subterrânea para bombardear os mais de mil túneis cavados clandestinamente desde a Faixa de Gaza para romper o cerco imposto por Israel, agravado depois que o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) tomou o poder no território palestino, em 2007.
A consequência é o reforço do bloqueio imposto por Israel e pelo Egito quando o Hamas ganhou as eleições legislativas palestinas de 25 de janeiro de 2006.
Ao contrário do que esperava o governo George W. Bush, as primeiras eleições depois da morte de Yasser Arafat, em 2004, deu a vitória ao movimento fundamentalista palestino, visto como menos corruptos e com serviços sociais melhores.
Como o Hamas é considerado um grupo terrorista pelos EUA, a Europa e Israel, o resultado foi o isolamento de um governo democraticamente eleito, que acabou sendo dissolvido pelo presidente Mahmoud Abbas, o sucessor de Arafat, numa guerra civil palestina.
Abbas é o líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), fundada em 1964 pelo então presidente egípcio e principal líder do nacionalismo pan-árabe, Gamal Abdel Nasser. Só depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967, Al Fatah de Arafat assumiu o controle do movimento nacionalista palestino.
Já o Hamas, fundado em 1987, é filho da Irmandade Muçulamana e teria sido estimulado por Israel para dividir o movimento palestino.
A Irmandade Muçulmana foi fundada em 1928 por Hassan al-Bana para "reislamizar a umma", o conjunto de todos os muçulmanos, livrando-os da corrupção e dos vícios introduzidos pelo colonialismo ocidental. Está na origem do fundamentalismo islâmico e é hoje a principal força de oposição no Egito.
Para a Irmandade Muçulmana e o Hamas, o governo egípcio é mais um fantoche dos Estados Unidos que acaba fazendo o jogo de Israel. A construção da barreira foi uma das exigências israelenses para encerrar a ofensiva contra Gaza que matou mais de 1,4 mil palestinos no fim de 2008 e início de 2009.
Um porta-voz do Egito afirma que o país está apenas defendendo sua própria segurança. Em abril de 2009, as autoridades egípcias prenderam um grupo da milícia fundamentalista xiita libanesa Hesbolá (Partido de Deus) que estariam planejando ataques no Canal de Suez.
Esta é uma aliança profana e potencialmente explosiva no Oriente Médio. O Hesbolá, xiita, patrocinado pelo Irã, é aliado da Irmandade Muçulmana e do Hamas, que são sunitas.
A conclusão é que esses movimentos são mais políticos, nacionalistas e populistas do que religiosos. Manipulam a religião, usada como cobertura para seus fins políticos.
Sem uma efetiva democratização do mundo árabe, há um estímulo à radicalização e ao terrorismo como forma de expressão política. Mas a realização de eleições livres em sociedades sem tradição democrática e liberal pode dar vitória a partidos autoritários, como aconteceu por exemplo na antiga Iugoslávia, com trágicas consequências.
Por isso, Obama abandonou a política de mudança de regime da era Bush e tratou de buscar uma acomodação com os tradicionais aliados dos EUA no mundo árabe, Egito e Arábia Saudita, principais alvos da rede terrorista Al Caeda.
A esperança de Obama era avançar no processo de paz entre árabes e israelenses, mas o governo linha dura de Israel está mais preocupado com o programa nuclear do Irã. O clima no Oriente Médio é de radicalização.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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