Com mais 3,8 milhões de pedidos de seguro-desemprego na semana passado, o total de trabalhadores que perderam o emprego nos Estados Unidos com a pandemia do novo coronavírus chegou ontem a 30 milhões. A situação é especialmente grave porque cerca de metade dos americanos tem seguro-saúde pago pela empresa.
Os EUA viviam uma situação de quase pleno emprego antes da pandemia, com a menor taxa de desemprego desde 1969, quando o país era muito diferente e boa parte das mulheres não trabalhava. Na semana anterior, 4,4 milhões de trabalhadores demitidos haviam pedido seguro-desemprego.
Em 18 de abril, 12,4% da força de trabalho dos EUA havia solicitado o benefício. Numa pesquisa separada, o Departamento do Comércio estimou que o consumo dos lares caiu 7,5% em maior. É a maior baixa desde que há pesquisa começou, há mais de 60 anos.
A queda no consumo e o aumento do desemprego são indicadores de um colapso sem precedentes da economia. O produto interno bruto, a soma de todos os bens e serviços produzidos, menos as importações, recuou num ritmo de 4,8% ao ano no primeiro trimestre de 2020.
No segundo trimestre, quando a maior economia do mundo deve sofrer um impacto ainda maior da paralisação das atividades, o PIB americano pode baixar de 30% a 40%, numa queda sem precedentes.
Durante a Grande Depressão (1929-39), a crise começou com o colapso dos preços das ações na Bolsa de Valores de Nova York. A situação se agravou com políticas econômicas equivocadas, protecionismo econômico e uma guerra comercial entre as maiores economias do mundo. Mas foram necessários três anos para a economia sofrer uma queda semelhante. Desta vez, bastaram três meses.
Em 1932, o desemprego chegou a 25% nos EUA e a 12,5% na Alemanha. Os americanos elegeram Franklin Delano Roosevelt, que adorou uma série de políticas de corte social-democrata no chamado New Deal, algo como um novo pacto social. Os alemães elegeram o Partido Nazista, liderado por Adolf Hitler.
A Grande Depressão foi a principal causa econômica da Segunda Guerra Mundial, o pior conflito armado da história.
Ontem, em busca de uma desculpa para sua falta de liderança e inação no combate à crise, o presidente Donald Trump acusou a China, onde surgiu o novo coronavírus, com o primeiro caso registrado em 17 de novembro na cidade de Wuhan.
Trump insistiu várias vezes que a situação estava sob controle e que, em breve, os EUA não teriam nenhum caso. Hoje, os EUA têm 1.905.034 casos confirmados e 63.871 mortes. No mundo inteiro, são 3.310.039 casos registrados, 234.143 mortes e 1.043.245 pacientes curados. Dos casos encerrados, 18% terminaram em morte.
Enquanto as duas maiores potências mundiais, os EUA e a China, se acusam mutuamente pela pandemia, o secretário-geral das Nações Unidos, o ex-primeiro-ministro português António Guterres, lamenta a falta de cooperação internacional no combate ao inimigo comum da humanidade.
Ontem, o Imperial College, de Londres, citou o Brasil entre os países com mais rápida propagação da doença. Apesar de mais de 6 mil mortes, o presidente Jair Bolsonaro insiste na necessidade de reativar a economia, o que tende a agravar a tragédia anunciada.
Como Trump, Bolsonaro inicialmente negou a periculosidade do coronavírus. Ao contrário de Trump, continua a fazer isso. Incentiva seus seguidores e desrespeitas as medidas de isolamento físico para reduzir o ritmo de disseminação do coronavírus. O presidente americano chegou a propor a suspensão de voos entre os dois países.
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