Em uma reunião de cúpula sem precedentes, as três grandes economias do Leste da Ásia prometeram hoje em Fukuoka, no Japão, fazer um esforço conjunto para manter a Ásia como motor do crescimento mundial e liderar a recuperação da economia mundial.
O encontro trilateral da Ásia reuniu os primeiros do Japão, Taro Aso, e da China, Wen Jiabao, e o presidente da Coréia do Sul, Lee Myung Bak.
A China e a Coréia são ex-inimigas históricas do Japão, que ocupou a Coréia de 1910 a 1945, invadiu a região chinesa da Mandchúria em 1931 e o resto da China em 1937, cometendo atrocidades como o massacre de Nanquim, onde teriam sido mortos 200 a 300 mil chineses. Desde 2006, resistiam ao convite para uma reunião de cúpula dos três.
A crise os aproximou. Com o agravamento da situação depois que o Senado dos Estados Unidos negou empréstimos de emergência de US$ 14 bilhões à General Motors e à Ford, o primeiro-ministro do Japão lançou na sexta-feira um plano anticrise no valor equivalente a US$ 255 bilhões. Já tinha anunciado um pacote econômico de US$ 295 bilhões.
Por sua vez, na China, o governo comunista está alarmado com as possíveis conseqüências sociais de uma crise econômica. O país precisa crescer a uma taxa anual de 8% para gerar empregos para 7 milhões de chineses que entram no mercado de trabalho por ano.
Com as exportações caindo pela primeira vez em sete anos e o índice de preços apontando para o risco de deflação, a China lançou um plano de incentivo ao crescimento da ordem de US$ 586 bilhões. Serão obras públicas de infra-estrutura e estímulos ao investimento e o consumo.
A Coréia do Sul também fez sua plano anticrise, mais modesto, de US$ 155 bilhões.
Graças a seus expressivos saldos comerciais, os dois gigantes do Leste da Ásia acumularam, com seus expressivos saldos comerciais, trilhões de dólares em divisas. A China tem cerca de US$ 2 trilhões em reservas cambiais.
O Japão, que vem em segundo com US$ 1,5 trilhão, sacou US$ 100 bilhões de suas reservas para reforçar o caixa do Fundo Monetário Internacional (FMI), para que este tenha mais condições de socorrer países atingidos pela crise financeira global.
Em Fukuoka, Aso aconselhou a China a fazer o mesmo.
A China e o Japão fizeram acordos para troca de moedas, swaps cambiais, no valor de US$ 50 bilhões com a Coréia do Sul. O uom, a moeda sul-coreana, foi duramente atingida pela crise mundial e precisa da garantia de acesso a moedas fortes para estancar a desvalorização.
Lee também levantou a questão do desarmamento do programa nuclear da Coréia do Norte, objeto de uma conferência de paz de seis países (EUA, Coréia do Norte, Coréia do Sul, China, Rússia e Japão). Como Lee é um conservador linha-dura, desde sua posse, no início do ano, as relações Norte-Sul na Península Coreana pioraram.
Aso comentou que os três países precisam cooperar e olhar no mais sentido diante da questão atômica norte-coreana. A China, talvez o país com maior poder de pressão sobre o regime stalinista de Pionguiangue, foi mais discreta.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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