O exemplo do jovem Mohamed Bouaziz, que se imolou em 17 de dezembro de 2010 na Tunísia, deflagrando a revolta popular que derrubou em 14 de janeiro de 2011 o ditador Zine al-Abidine Ben Ali, se reproduz entre os países árabes do Norte de África.
Nos últimos dias, houve pelo menos quatro tentativas de atear fogo às próprias roupas na Argélia e outra na Mauritânia. Hoje, no Cairo, um homem na faixa dos 50 anos fez o mesmo.
As ditaduras árabes estão em estado de alerta máximo. Mas como observa hoje o correspondente de Oriente Médio do Independent, de Londres, o premiado jornalista Robert Fisk, seus dias não estarão contados enquanto os sultões, emires e autocratas árabes tiverem bom amigos na Europa e nos Estados Unidos.
Acabou o modelo tunisiano, objeto de uma boa reportagem da Folha de S. Paulo no último sábado. A Tunísia é um país de classe média, sem petróleo, relativamente próspero.
Ao longo de seu governo ditatorial, Ben Ali foi apoiado por todos os presidentes da França, François Mitterrand, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy. Laurent Gbagbo, que luta para não deixar o cargo depois de perder a eleição na Costa do Marfim, também tinha até há pouco bons amigos em Paris.
Cai também, em Túnis, observa o jornal francês Libération o mito do choque de civilizações e do excepcionalismo árabe-muçulmano, que seria avesso à democracia e ao universalismo dos direitos humanos. As massas árabes politizadas estão prontas para tomar as ruas e cobrar seus direitos.
O ditador da Líbia, Muamar Kadafy, no poder desde 1969, declarou temer uma invasão de refugiados da vizinha Tunísia. Deve estar com mais medo do seu próprio povo.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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