quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Hu quer relação em torno de interesses comuns

Durante visita de estado aos Estados Unidos, o presidente da China, Hu Jintao, deixou claro que as relações entre os dois países só podem ser construídas em torno de interesses comuns, rejeitando assim implicitamente as pressões para valorizar a moeda chinesa, estimular o consumo interno e aumentar as importações.

A China não vai mudar nem o modelo econômico nem o modelo político que a transformaram numa superpotência mundial em ascensão que vai se tornar a maior economia do mundo até 2020.

Na introdução da entrevista coletiva hoje à tarde, ao lado do presidente Barack Obama, o dirigente máximo chinês falou em "expandir a cooperação em torno de interesses comuns, como os programas nucleares da Coreia do Norte e do Irã, a mudança do clima, terrorismo, crime transnacionacional e segurança alimentar".

"O fortalecimento da coordenação e da cooperação para manter a paz e a estabilidade" é importante para resolver problemas como, por exemplo, desnuclearizar a Coreia, acrescentou Hu. Isso implica que os EUA também não poderiam ter armas nucleares na Coreia do Sul.

Nas palavras do presidente Hu, "a China está comprometida com o desenvolvimento pacífico e a abertura. É amiga de todos os países".

Obama evitou criticar abertamente a situação dos direitos humanos na China, apesar de publicamente ter pedido a libertação do dissidente Liu Xiaobo, ganhador do Prêmio Nobel da Paz 2010. Reconheceu que houve uma grande evolução e muita mudança nos últimos 30 anos na China, com grandes conquistas em muitas áreas".

Inicialmente, Hu não entendeu a tradução do intérprete chinês e não respondeu. Lá pela terceira questão, alegou que não havia entendido que era uma pergunta e falou: "A China está comprometida com a proteção dos direitos humanos. Aceita e respeita a universalidade dos direitos humanos, mas entende que devem ser levadas em conta as circunstâncias de cada país". Terminou admitindo que "há muito a ser feito".

O líder chinês, que deixa o cargo em 2012, citou o aumento das viagens entre China e EUA como sinal do relacionamento cada vez maior dos dois povos. São 3 milhões de pessoas por ano, 7 a 8 mil por dia.

Diante da irresistível ascensão da China, Obama declarou que "os EUA admiram o desenvolvimento da China, o crescimento econômico sem precedentes. Os EUA não temem a ascensão da China. Acreditam que cria oportunidades econômicas. Queremos vender um monte de coisas para vocês".

Obama lembrou que o produto interno bruto dos EUA, de cerca de US$ 15 trilhões, ainda é três vezes maior do que o da China, que deve ter fechado 2010 com US$ 5,4 trilhões.

Ele observou que "a ascensão da China é potencialmente boa para o mundo na medida em que a China aja responsavelmente para controlar a proliferação das armas de destruição em massa, os conflitos regionais, a mudança do clima e ajude o desenvolvimento dos países mais pobres para promover estabilidade, segurança e prosperidade".

O presidente da Câmara, o republicano John Boehner, não vai ao jantar de gala na Casa Branca, uma honraria concedida apenas a aliados, alegando que Hu é um ditador. É, mas isso não torna menos inevitável a relação com a China.

Na visão estratégica chinesa, o país saiu fortalecido ao driblar a Grande Recessão (2008-09) e se tornar a locomotiva da economia mundial. Não precisa mais fazer concessões aos EUA nem aceitar condições inferiores.

Sem a expectativa de mudar o regime cambial chinês, Obama disse que vê "as relações econômicas com a China como um todo. A moeda é apenas uma parte. Mas não podemos voltar a um mundo em que os americanos tomam empréstimos e consomem. É preciso reequilibrar a economia mundial".

De parte dos EUA, prosseguiu o presidente americano, "precisamos nos tornar mais competitivos, investir em educação, formar mais engenheiros do que advogados, melhorar a infraestrutura..." Curiosamente, China é um país de engenheiros, enquanto os EUA são um país de advogados.

"Queremos mais acesso ao mercado de compras governamentais na China", argumentou Obama, e maior proteção à propriedade intelectual.

No encontro com empresários, a Microsoft reclamou que só um em cada dez chineses paga para usar seus produtos. "A moeda é parte do problema", argumentou o presidente. "O renminbi está subvalorizado. A transição para tornar o iuã uma moeda internacional flutuando no mercado é mais lenta do que gostaríamos".

Uma questão central é a desconfiança mútua, o desafio estratégico na transição de uma potência hegemônica para outra em ascensão.

Para Obama, "os povos dos dois países devem entender os desafios do outro e não ver uma disputa. Os EUA não querem conter a China. Querem uma China que ajuda a reforçar as normas e regras da paz e segurança internacionais, em vez de ser uma fonte de conflitos".

Hu respondeu que "nenhum país sozinho pode atacar problemas globais como mudança do clima, pirataria, crime transnacional e terrorismo. Quando estão todos no mesmo barco, é preciso remar na mesma direção. É preciso aumentar a coordenação e a cooperação, e acomodar os interesses e diferenças".

A China está dizendo que a partir de agora a cooperação é nos seus termos. O país está em plenas condições de dizer não e ir contra as posições dos EUA. Pode não remar e até remar na direção contrária.

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