BOSTON, EUA - A vitória de ultraconservadores nas eleições primárias do Partido Republicano para a escolha de candidatos às eleições de 2 de novembro trouxeram à tona uma guerra civil na oposição dos Estados Unidos.
Com o apoio da candidata à vice-presidência em 2008, a ex-governadora do Alasca Sarah Palin, e do ultrarreacionário senador John DeMint, da Carolina do Sul, os militantes escolheram candidatos considerados inelegíveis pela cúpula do partido e até por gente como o marqueteiro que inventou George W. Bush, Karl Rove, grande incentivador da direita religiosa.
Foram derrotados republicanos moderados que têm negociado com o Partido Democrata para evitar a paralisia do governo dos EUA.
O problema é que essa safra de ultras, embalada pelo movimento Festa do Chá, defende propostas políticas inaceitáveis por eleitores independentes, como a revogação da reforma da saúde do governo Barack Obama e até mesmo do sistema de saúde pública preexistentes e do Ministério da Educação.
Christine O'Donnell, vencedora da primária republicana para o Senado no estado de Delaware, é uma ultraconservadora de 41 anos a favor da virgindade e contra o aborto mesmo em caso de estupro. Desde sua vitória, recebeu US$ 1,663 milhão para a campanha.
Mas esse assanhamento da ultradireita está sendo observado com satisfação pela Casa Branca, que a considera inelegível. Seu objetivo claro é boicotar o governo Obama, recusando-se a negociar a aprovação de qualquer projeto, para retomar a Presidência dos EUA em 2012.
"Não há o que negociar", afirmou DeMint, que durante meses bloqueou na Comissão de Relações Exteriores do Senado a aprovação do secretário de Estado adjunto para a América Latina e do embaixador no Brasil, em protesto porque Obama não apoiou o golpe de 2009 em Honduras.
A Festa do Chá foi uma reação contra os impostos e o monopólio da venda de chá impostos pelo Império Britânico em 1767, que levaram ao Massacre de Boston, em 5 de março de 1770, quando soldados britânicos encarregados de proteger os funcionários da alfândega mataram cinco moradores da cidade.
Na noite de 16 de dezembro de 1773, cerca de 7 mil homens liderados por Samuel Adams marcharam até o cais e disseram: "Nesta noite, o porto de Boston é uma chaleira". Cinquenta homens vestidos como índios mohawks invadiram três navios da Companhia das Índias Orientais e jogaram sua carga no mar.
O Império contra-atacou com dureza, fechando o porto e colocando a colônia de Massachusetts sob lei marcial. A Festa do Chá foi o estopim da luta pela independência dos EUA e virou um exemplo de protesto contra aumentos de impostos.
Agora, a ideia foi sequestrada por brancos conservadores insatisfeitos com o presidente negro e o uso de dinheiro público para salvar a economia americana de uma nova Grande Depressão.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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