Com mais 1.275 mortes e 42.446 casos novos de doença do coronavírus de 2019 registrados nesta segunda-feira, o Brasil soma 11.483.031 casos confirmados e 278.237 óbitos. A média diária de mortes dos últimos sete dias bateu o 18º recorde em 19 dias. Subiu para 1.855, com alta de 52% em duas semanas. Mas nada indica que a política do presidente Jair Bolsonaro vá mudar, apesar da troca de ministro da Saúde.
Sob pressão das mortes, do virtual colapso do sistema de saúde, da falta de vacinas, dos governadores, dos prefeitos e do Congresso Nacional, Bolsonaro nomeou o quarto ministro da saúde em dois anos e dois meses de governo, mas deixou claro que não vai mudar suas políticas fracassadas de rejeitar o confinamento e apoiar o inútil "tratamento precoce".
Ao receber no Palácio do Planalto a cardiologista e intensivista Ludhmila Hajjar, principal candidata ao cargo, o presidente rejeitou mais uma vez a adoção de medidas de confinamento e insistiu na defesa de medicamentos inúteis como a cloroquina e a ivermectina. A médica e professora da Universidade de São Paulo disse que não iria desdizer Bolsonaro, mas rejeitou o convite por falta de "convergência técnica".
À noite, o governo negou que o presidente tenha dito, com sua grosseria e falta de educação: "Você não vai fazer lockdown no Nordeste para me foder e eu depois perder a eleição, né?" A frase foi publicada pelo jornal digital Poder 360.
Hajjar pretendia adotar medidas de isolamento social nas áreas mais críticas, criar uma série de comissões técnicas para cuidar de cada aspecto da pandemia e apelar à Organização Mundial da Saúde (OMS) e ao resto do mundo para conseguir mais vacinas. O presidente não se interessou. Só está preocupado com o impacto da crise econômica na sua reeleição.
Pior ainda: o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, quis saber a opinião da médica sobre o aborto e armas, temas sem qualquer relação com a pandemia, que é o maior problema de saúde pública do país há mais de um ano. Ludhmila Hajjar entende que as armas são uma questão relativa à polícia e às Forças Armadas, e manifestou-se contra armar a população. Com razão.
Nas 24 horas em que seu nome foi cotado para ministra da Saúde, Ludhmila Hajjar foi alvo de uma série de ataques de milícias virtuais fascistoides, com ameaça de morte e três tentativas de invasão do hotel por pessoas que tinham o número do quarto e se apresentaram como parte de sua equipe médica. Se não fossem os seguranças do hotel, ela não sabe o que aconteceria.
As milícias bolsonaristas criaram perfis falsos no Twitter e no Instagram, divulgaram o nome da médica nas redes sociais e ameaçaram sua família. Quando Ludhmila Hajjar reclamou para o presidente, Bolsonaro alegou que isso faz parte. Como sempre, ficou do lado dos seus seguidores mais fanáticos e agressivos, da tropa de choque com que conta para a reeleição.
No início da noite de segunda-feira, Bolsonaro anunciou a nomeação do médico Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. É um antigo aliado. Deve ter aceito as condições impostas pelo presidente.
Na sua despedida, o general Eduardo Pazuello, um militar especializado em logística que não tinha experiência em saúde pública, anunciou que o Ministério da Saúde negocia com os laboratórios Pfizer e Janssen para comprar 138 milhões de doses de vacinas contra covid-19: 100 milhões da Pfizer, a serem entregues até setembro, e 38 milhões do braço de vacinas da Johnson & Johnson, a serem entregues até novembro. Meu comentário:
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