O coronel da reserva Ollanta Humala, um nacionalista de esquerda implicado em duas tentativas de golpe de Estado, foi eleito hoje em segundo turno para a Presidência do Peru, com 51,4% dos votos contra 48,6% para a deputada direitista Keiko Fujimori na contagem não oficial do instituto Ipsos. Ele promete crescimento econômico com inclusão social.
Keiko ainda tem esperança. Prefere esperar o resultado oficial. Ela é filha do ex-presidente Alberto Fujimori, condenado a 25 anos de prisão por crimes contra os direitos humanos e corrupção. Durante a campanha, a principal acusação contra ela foi que Keiko indultaria o pai e que na prática ele governaria o país.
Humala esteve envolvido numa tentativa de golpe contra Fujimori e foi implicado em outra, liderada por seu irmão, contra o ex-presidente Alejandro Toledo. Também foi acusado de envolvimento em casos de sequestro, tortura e assassinato durante a campanha do governo Fujimori (1990-2000) contra o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso.
Apesar desta ficha, Humala foi o candidato da esquerda na eleição de 2005, quando perdeu no segundo turno para o atual presidente, Alan García, em parte por causa do apoio explícito do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, no que foi considerado uma intervenção indevida na política interna peruana. Há poucos dias, foi acusado de receber US$ 12 milhões de Chávez pelo ex-subsecretário de Estado americano para a América Latina Roger Noriega, que não apresentou nenhuma prova.
Desta vez, Humala adotou uma posição mais moderada, tentando associar sua imagem ao ex-presidente Lula, com a ajuda de assessores do Partido dos Trabalhadores (PT). Jurou perante a Bíblia que não vai convocar uma Assembleia Constituinte para refundar o país, no modelo chavista, adotado nos vizinhos Equador e Bolívia. E prometeu manter a economia de mercado.
A ameaça de volta do fujimorismo levou os intelectuais de esquerda e até mesmo liberais como o escritor Mario Vargas Llosa a apoiar Humala, visto como um mal menor num segundo turno que o Nobel de Literatura comparou "uma escolha entre a aids e o câncer". Vargas Llosa perdeu o segundo turno para Fujimori em 1990.
Outro inimigo feroz do fujimorismo, o ex-presidente Alejandro Toledo, também apoiou Humala. Se houver um acordo formal entre os dois, Humala pode governar com maioria. Teria de moderar suas posições adotando políticas que estimulem a economia de mercado.
O Peru é o país que mais cresce na América do Sul, com uma média anual de 7%. Keiko e Humala representam os deserdados por este crescimento.
Humala tem agora o desafio de fazer as alianças necessárias para manter o crescimento e poder fazer políticas de distribuição da riqueza. A pobreza no Peru caiu de 49% para 31% da população. Esta é a clientela das políticas sociais que podem mudar a face do país.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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