Quando perguntaram ao primeiro-ministro da China Chu Enlai qual o impacto da Revolução Francesa, ele respondeu: "É muito cedo para dizer".
Desde o início dos anos 70, quando a frase foi dita, é interpretada como se Chu estivesse falando da revolta popular de 1789, que derrubou a monarquia na França e mandou os reis para a guilhotina.
Mas Chu Enlai não se referiu à queda da Bastilha, marco do início da revolução, em 14 de julho de 1789, quando discutiu o assunto com presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, durante sua histórica visita de reaproximação com a China, em 1972.
O comentário era sobre a Revolução dos Estudantes de maio de 1968, das barricadas nas ruas de Paris, afirma Chas Freeman, um funcionário aposentado do Departamento de Estado que foi tradutor de Nixon e agora participou de um seminário de lançamento do livro do ex-secretário de Estado Henry Kissinger On China (Sobre a China).
"Eu me lembro claramente dessa troca de ideias", declarou Freeman. "Houve um mal entendido, mas era saboroso demais para querer corrigir."
Ele conta que Chu ficou confuso ao ser perguntado sobre a Revolução Francesa (1789) e a Comuna de Paris (1871). Os estudantes usavam as duas expressões para falar do seu movimento, em 1968.
A frase foi interpretada como se fosse cedo para fazer uma reflexão filosófica mais profunda sobre uma revolução de 200 anos atrás, uma joia da milenar sabedoria oriental.
Pesquisadores chineses com acesso aos arquivos do Ministério do Exterior, em Beijim, confirmam que o primeiro-ministro falava da revolução de maio de 1968.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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