Na medida em que o Brasil cresce e tenta se afirmar como um ator global, o atrito com os Estados Unidos é inevitável, declarou ontem o ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia. Pelo tamanho e a diversidade de interesses dos dois países, sempre vai haver disputas políticas e comerciais.
"Olhando para trás, sempre tivemos problemas comerciais com os EUA, desde a industrialização, com café solúvel nos anos 60, calçados, têxteis e aço no fim dos anos 70, no fim dos 80 e nos 90 com suco de laranja, depois de uma grande geada na Flórida, e com os aviões da Embraer", recordou Lampreia, ao participar da mesa redonda Relações Brasil-EUA: Olhando para o Futuro, realizada pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) em parceria com o Centro de Política Hemisférica da Universidade de Miami.
Os conflitos, na sua opinião, nunca foram totalmente comerciais. Hoje, "a situação é a mesma, com produtos diferentes, milho, algodão, açúcar e outros produtos agrícolas. No açúcar, a couraça protecionista vem desde o início do embargo a Cuba. Tem quase 50 anos".
Sua previsão: "Esse tipo de desentendimento não vai cessar. Se nos tornarmos competitivos, haverá novos conflitos. São conflitos naturais de interesses."
A situação era muito pior, recordou o embaixador Lampreia, antes da criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1995, quando os EUA não tinham aderido a nenhum mecanismo de solução de controvérsias. Os americanos aplicavam retaliações unilaterais com base na Seção 301, uma emenda à Lei de Comércio dos EUA.
"Do lado político", acrescentou o ex-chanceler do governo Fernando Henrique Cardoso, "o Brasil nunca vai pertencer a mecanismos como a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Nunca será aliado ou parceiro fixo dos EUA. O Brasil é muito grande e tem outro nível de desenvolvimento".
Isso não precisa levar a atritos permanentes, a uma militância diplomática antiamericana, concluiu. "O Brasil precisa de uma relação equilibrada. Pode haver conflitos relativos à segurança internacional. O Brasil não assinou o protocolo adicional ao Tratado de Não Proliferação Nuclear. Se houver clareza de que o Brasil tem espaço próprio e está num processo de afirmação nacional, podemos ter uma boa relação. Os EUA estão aprendendo a conviver com a diversidade. Precisam de amigos".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário