segunda-feira, 6 de junho de 2011

"Política externa de Lula foi amoral", diz pesquisadora da Universidade de Miami

Ao privilegiar interesses e não valores e princípios, "a politica externa de Lula foi amoral", afirmou hoje a professora Susan Purcell, diretora do Centro de Política Hemisférica da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, durante uma mesa redonda sobre as relações Brasil-EUA realizada em conjunto com o Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais).

No mesmo encontro, o ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia comentou não acreditar que o Brasil e os EUA possam ter uma relação sem conflitos, dado o tamanho e a diversidade de interesses dos dois países. Ele também não vê razão para os problemas irem muito além das fricções econômicas.

"Dilma Rousseff não tinha experiência prévia, mas demonstra um graude de independência surpreendente", observa a professora Susan Purcell. "É mais pragmática, menos ideológica".

Susan Purcell acredita que "o pragmatismo da política externa de Dilma vai depender do crescimento econômico. Enquanto a esquerda se beneficiar deste crescimento, a política externa será menos ideológica. Se o crescimento diminuir, vai aumentar a pressão do PT por maior intervenção estatal na economia e uma política externa mais ideológica", o que seria "menos atraente" para as relações bilaterais.

A pesquisadora compara com o presidente Barack Obama, que na sua opinião foi mais ideológico nos primeiros dois anos de governo, quando tinha maioria na Câmara e no Senado e conseguiu aprovar a reforma da saúde.

Como a oposição reconquistou a maioria na Câmara nas eleições de 2010, "Obama precisa de algum apoio republicano." Purcell acredita na reeleição do presidente americano, "se o desemprego não atrapalhar".

Ela lembra que os presidentes "Lula e George W. Bush tinham boa relação pessoal, mas a guerra do Iraque complicou a situação. O Brasil não estava interessado na Área de Livre Comércio das Américas, preferiu o comércio Sul-Sul, embora no comércio com os EUA o Brasil exporte mais produtos manufaturados".

Para Susan Purcell, "os EUA veem a política externa brasileira neste governo como menos provocativa e ideológica. Por sua própria história como mulher que foi presa e torturada, ela não aceita certas posições do Irã. Lula tinha uma política externa amoral. Por isso, se dava bem com ditadores".

Obama está mais à esquerda no espectro político americano. Tem uma visão multilateralista. Em princípio, tem mais afinidade com as posições brasileiras. Para se contrapor a Bush, começou melhorando as relações com ditadores, dando menos importância à democracia.

Os atritos, prossegue Purcell, vieram na questão de Honduras, onde inicialmente os EUA aderiram ao consenso latino-americano contra o golpe, mas depois reconheceram com alguns aliados a eleição de Porfirio Lobo, na questão das sete bases colombianas que serão usadas por militares americanos e especialmente na intermediação que o Brasil tentou fazer em relação ao programa nuclear do Irã.

"Dilma enfrentou a China mais do que Lula: disse que os chineses precisam comprar mais e investir mais no Brasil", analisou a diretora da Universidade de Miami.

Como Jeffrey Schott, do Instituto Peterson para a Economia Internacional, Susan Purcell entende que o Brasil perde oportunidades: "O volume de comércio dos EUA com a América Latina é de US$ 500 bilhões anuais, US$ 350 bilhões só entre EUA e México."

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