quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

MSF acusam EUA de privilegiar militares

A organização não governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) acusou ontem os Estados Unidos de darem prioridade aos suprimentos militares para as forças americanas e não às necessidades urgentes de saúde dos haitianos feridos no terremoto. Dois aviões da ONG teriam sido desviados para a vizinha República Dominicana.

O comandante militar americano, general Ken Keen, dá prioridade à segurança. Como os EUA controlam o aeroporto de Porto Príncipe, entram em atrito com as organizações de ajuda humanitária.

Num hospital improvisado ao ar livre, o anestesista Stephen Bewaele não escondeu sua frustração: "Só estamos fazendo as cirurgias mais simples. Podemos dar mais alguns dias de vida aos feridos amputando um braço ou uma perna. Evitamos infecções capazes de matá-los. Mas eles precisam de mais operações e nós precisamos de uma sala de cirurgia esterilizada. O tratamento vai muito além do que podemos fazer agora."

Em Paris, a diretora do departamento jurídico dos MSF, Françoise Saulnier, declarou que "é uma questão de coordenação e de estabelecer prioridades. Fazer cirurgias é uma prioridade urgente neste tipo de catástrofe".

Nos primeiros três dias, explicou Françoise, a prioridade é tirar sobreviventes de baixo dos escombros.

"Nos três dias seguintes", acrescentou, "a prioridade é fazer operações de emergência. O resto - comida, água e abrigo - vem depois. Agora, está tudo misturado e a atenção vital à sobrevivência de pessoas foi adiada para dar passagem à logística militar, que é essencial, mas não no momento inicial."

Com essa confusão, "perdemos três dias. Esses três dias criaram um enorme problema, com infecções, gangrenas, com a necessidade de amputações que poderiam ter sido evitadas. Até hoje, as equipes cirúrgicas estão operando em condições precaríssimas. Não há morfina. Não há antibióticos. Eles não tem instrumentos cirúrgicos nem para amputar. Precisam comprar nas lojas. É apocalíptico, e está piorando."

Agora à noite, a Casa Branca admitiu estar preocupado com a lentidão da chegada de equipamentos e suprimentos médicos aos flagelados de Porto Príncipe.

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