Um ano depois do golpe que derrubou o presidente José Manuel Zelaya, Honduras é um país dividido internamente e isolado internacionalmente.
Às 5h da madrugada de 28 de junho de 2009, soldados do Exército prenderam Zelaya de pijama em sua residência. Ele foi colocado num avião e expulso do país. Em seguida, o Congresso aprovou sua substituição pelo presidente do Congresso, Roberto Micheletti, adversário de Zelaya no Partido Liberal.
O presidente deposto era acusado de tentar realizar um referendo sobre a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte para fazer uma nova Constituição e permitir a reeleição do presidente de Honduras sem o consentimento dos poderes Legislativo e Judiciário.
Sem apoio legal, Zelaya tentou fazer pelo menos uma consulta popular informal e demitiu o comandante das Forças Armadas, general Romero Orlando Vázquez Velásquez, quando este se negou a distribuir urnas e cédulas enviadas pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que se tornara um aliado de Zelaya com o dinheiro da Petrocaribe.
Diante da condenação internacional ao golpe, considerando-se o presidente legítimo de Honduras, Zelaya tentou voltar ao país duas vezes, de avião e por terra. Na terceira vez, entrou clandestinamente e se refugiou na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, em 21 de setembro.
Sem apoio institucional para voltar ao cargo, Zelaya dependia da pressão internacional.
O Acordo de São José, mediado pela Organização dos Estados Americanos (OEA), previa a volta do presidente deposto ao poder com o apoio do Congresso hondurenho. Mas nem o Congresso nem a Corte Suprema tinham mudado de posição em relação ao conflito que está na origem do golpe.
Com o impasse, os Estados Unidos decidiram abandonar Zelaya, argumentando que as eleições de 29 de novembro de 2009 eram a melhor maneira de resolver o conflito democraticamente. Mas o Brasil e a maior parte da América Latina insistiram que eleições sem a volta do presidente deposto não teriam legitimidade.
A vitória coube a Porfirio Lobo, do Partido Conservador. O Partido Liberal foi destroçado pelo conflito entre Zelaya e Micheletti.
Em 10 de dezembro de 2009, o Brasil deu um ultimato a Zelaya, dizendo que ele deveria deixar a embaixada até 27 de janeiro de 2010, último dia do mandato interrompido pelo golpe. Desde então, ele vive na República Dominicana.
Lobo foi reconhecido pelos Estados Unidos, Panamá, Colômbia, Chile e Peru. O Brasil e a maioria dos países latino-americanos exigem a volta de Zelaya a Honduras dentro de uma anistia ampla que o permita voltar a fazer política. Nem isso a elite hondurenha aceita. Os partidários de Zelaya se queixam de perseguição política.
Em entrevista divulgada neste domingo, Micheletti, a face civil do golpe, admitiu que "não existe harmonia" em Honduras: "A situação não se normalizou. Há um clima de incerteza."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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