O Brasil estreia hoje na Copa do Mundo contra a Coreia do Norte, uma das últimas ditaduras comunistas e um dos regimes políticos mais fechados do mundo, com todas as característcias do stalisniamo que praticamente desapareceu com o fim da Guerra Fria.
No fim da Segunda Guerra Mundial, um dos um atos de seu maquiavelismo político, o ditador soviético Josef Stalin declarou guerra ao Japão em 9 de agosto de 1945, quando os Estados Unidos jogaram a segunda bomba atômica, em Nagasaki.
A União Soviética invadiu a metade norte da Península Coreana, que era toda ocupada pelo Japão desde 1910, quatro ilhas do Norte do país que o Japão reinvica até hoje. Tóquio e Moscou nunca assinaram um acordo de paz.
Em 1948, quando a divisão do mundo com a Guerra Fria tornara impossível a reunificação da Coreia, foram criadas as Coreias do Norte, comunista, alinhada à URSS, e a do Sul, capitalista, aliada dos EUA. Ambas reivindicam até a soberania sobre toda a península.
Com o aval de Stalin, sob a liderança da Kim Il Sung, a Coreia do Norte invadiu o Sul em 25 de junho de 1950, dando início à Guerra da Coreia.
Na época, a URSS estava boicotando a ONU por causa da não aceitação da China Comunista depois da vitória da revolução liderada por Mao Tsé-tung, em 1º de outubro de 1949.
Sem a ameaça de veto da URSS, os EUA conseguiram um mandato das Nações Unidas para reunificar a Península Coreana válido até hoje.
As tropas lideradas pelos EUA rechaçaram o ataque norte-coreano e foram muito além do paralelo 38º Norte, que marca a fronteira entre as duas Coreias.
Em 14 de outubro de 1950, o 4º Exército da China, sob o comando de Lin Piao, cruzou a fronteira no Rio Yalu interveio. Houve uma guerra entre EUA e China dentro da Guerra da Coreia.
A China empurrou os americanos de volta para o sul do paralelo 38º N, restaurando o status quo anterior à invasão norte-coreana. Depois de mais alguns anos de impasse e de 4 milhões de mortes, o armistício foi assinado em 27 de julho de 1953. Mas nunca houve um tratado de paz.
Enquanto o Norte adotava o modelo político e econômico stalinista, baseado no planejamento central e abolição da propriedade privada, e uma ideologia de autossuficiência, juche, o Sul introduzia um capitalismo de estilo japonês, orientado para exportações e alta tecnologia.
A Coreia do Sul tornou-se o 15º países mais rico do mundo, com produto interno bruto de US$ 832,5 bilhões para uma população de 50 milhões. A Coreia do Norte tem a metade da população e um PIB de apenas US$ 28 bilhões
Com o colapso do comunismo e o fim da URSS, o regime stalinista de Pionguiangue perdeu o modelo e o patrocinador. Mais de 2 milhões de pessoas morreram de fome. A Coreia do Norte passou a fazer uma chantagem nuclear com o Ocidente, barganhando ajuda econômica, alimentos e energia em troca de concessões.
Em um processo de negociações hexapartites (Coreia do Norte, Coreia do Sul, China, EUA, Rússia e Japão) marcado por avanços e recuos, rupturas e ameaças, o regime norte-coreano, agora liderado pelo Querido Líder Kim Il Sung, promete desativar o programa nuclear militar. Mas fez duas explosões atômicas experimentais, em 2006 e 2009. Mas ainda não mostrou capacidade de fazer uma arma nuclear.
A crise mais recente foi provocada por um ataque com torpedo que afundou uma corveta sul-coreana em 26 de março de 2010, matando 46 marinheiros. Um inquérito internacional descobriu até restos do torpedo no fundo do mar, incriminando o regime comunista da Coreia do Norte.
Como é difícil de entender o processo de tomada de decisões num regime tão fechado, os analistas se perguntam qual o sentido de atacar o país vizinho e irmão, de quem a Coreia do Norte depende cada vez mais economicamente.
Uma hipótese: Kim Jong Il quer impor o filho menor, Kim Jong Un, como sucessor. Quando esta ditadura de opereta vai acabar? Até as vitórias da Coreia do Sul na Copa do Mundo são censuradas no comunismo dinástico da família Kim.
Por outro lado, a Coreia do Sul, tendo em vista o que aconteceu com a reunificação da Alemanha, em que a Alemanha Ocidental, muito mais rica e poderosa, teve enormes dificuldades para integrar a antiga Alemanha Oriental, não quer o colapso do regime comunista norte-coreano. Estimula o Norte a realizar reformas no estilo chinês, preparando o país economicamente para uma unificação mais suave no futuro.
A realidade é que o regime comunista norte-coreano é tão desconhecido, fechado e obscuro quanto a seleção que o Brasil enfrenta hoje na África do Sul.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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