A pesquisadora húngara Katalin Karikó, de 68 anos, e o norte-americano Drew Weissman, de 64 anos, pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, ganharam hoje o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia por sua contribuição ao desenvolvimento, em menos de um ano, de vacinas de ácido ribonucleico mensageiro (mRNA), que foram decisivas para vencer a pandemia do coronavírus de 2019.
"Por meio de descobertas inovadoras que mudaram fundamentalmente a compreensão de como o mRNA interage com o sistema imunológico, os laureados contribuíram para o desenvolvimento de vacinas durante uma das maiores ameaças à saúde nos tempos modernos", anunciou hoje em Estocolmo o Instituto Karolinska da Academia Real de Ciências da Suécia.
Karikó, filha de um açougueiro, é a 13ª mulher a receber o prêmio de um total de 227 agraciados. Ela deixou a Hungria em 1985 por falta de recursos para fazer pesquisas e apostou no mRNA quando a maioria de seus pares não considerava o mRNA útil clinicamente. Teve bolsa negada sob o argumento de que seu trabalho não tinha "qualidade acadêmica".
Os dois se conheceram quando usavam uma copiadora na Universidade da Pensilvânia, em 1998. O Dr. Weissman tentava criar uma vacina contra o vírus da imunodeficiência humana (HIV), causador da síndrome de deficiência imunológica adquirida (aids).
Como o mRNA é frágil, era destruído imediatamente ao ser introduzido nas células e causava inflamações. "Vimos o potencial e não queríamos desistir", lembrou o Dr. Weissman.
O mRNA recebe as informações do código genético do DNA (ácido desoxirribonucleico), que fica no núcleo da célula, e usa na síntese de proteínas, realizada nos ribomossos.
A dupla descobriu que dendritos, ramificações das células nervosas que recebem estímulos, importantes para a vigilância imunológica e a resposta do sistema imune induzida por vacinas, identificavam o mRNA artificial como uma substância estranha e deflagravam a reação inflamatória. Eles sabiam que as quatro bases do mRNA natural mudam quimicamente com frequência, enquanto o mRNA artificial fica inalterado, e se perguntaram se a causa das inflamações era a inexistência de bases alteradas.
Ao testar a hipótese, o resultado foi impressionante: a reação inflamatória praticamente desapareceu.
Um ensaio acadêmico publicado em 2005 foi rejeitado pelas revistas Nature e Science. Saiu na revista científica Immunity e despertou o interesse de duas empresas – a BioNTech, na Alemanha, e a Moderna, nos EUA – que desenvolviam vacinas contra a gripe, o citomegalovírus e outras doenças. A BioNTech se associou ao laboratório Pfizer para fazer a vacina anticovid-19.
Na vacina, o mRNA leva a fórmula para a produção da proteína S (de spike, o espinho do coronavírus) numa pequena cápsula de gordura. As células receptoras fabricam milhões de cópias da proteína S que estimulam o sistema imunológico a produzir anticorpos contra o vírus. Assim, quando o vírus contamina uma pessoa, o organismo gera anticorpos que se ligam ao vírus e impedem sua reprodução.
No fim de 2020, menos de um ano depois que os primeiros casos de covid-19 foram diagnosticados na China, as vacinas de mRNA foram aprovadas. Desde então, foram aplicadas bilhões de doses no mundo inteiro com uma efetividade de mais de 90%. O mRNA permite que sejam atualizadas para enfrentar as novas variantes do vírus.
A nova tecnologia revolucionou a produção de vacinas, superando as anteriores de vírus inativos ou atenuados, recombinação de proteínas ou vetores virais. A técnica está sendo utilizada para tentar combater outras doenças virais como aids, dengue, malária, chikungunya e zika, além de cânceres.
Para comparar, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou hoje a segunda vacina contra a malária, que não é de mRNA, com eficácia de 75%.
Karikó e Weissman vão dividir o prêmio de 11 milhões de coroas suecas, cerca de R$ 5 milhões, a ser entregue em Estocolmo, na Suécia, em 10 de dezembro. Já haviam ganho os prêmios Breakthrough, Lasker e Princesa de Astúrias.
Amanhã, a Academia Real da Suécia anuncia o ganhador do Prêmio Nobel de Física; na quarta-feira, do Nobel de Química; e na quinta-feira, do Nobel de Literatura. O Prêmio Nobel da Paz, a ser revelado na sexta-feira em Oslo, é o único concedido pelo Instituto do Nobel da Noruega. Na segunda-feira, será a fez do Nobel de Economia.
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