domingo, 15 de outubro de 2023

Extrema direita perde maioria e deve cair na Polônia

 O Partido da Lei e da Justiça (PLJ) deve conquistar a maioria das cadeiras no Parlamento da Polônia nas eleições realizadas hoje, mas não terá maioria absoluta e vai deixar o poder depois de oito anos, indicam as pesquisas de boca de urna. 

O ex-primeiro-ministro e ex-presidente do Conselho Europeu Donald Tusk (2014-19), líder do partido liberal Coalizão Cidadã, festejou a vitória. A se confirmarem as pesquisas, ele tem mais chance de formar o novo governo polonês.

A pesquisa do instituto Ipsos deu 36,8% ao PLJ e 31,6% ao maior partido de oposição, de centro-direita. Assim, o PLJ teria cerca de 200 deputados na Sejm, a câmara baixa do parlamento polonês, de 460 cadeiras. Está longe da maioria de 231. Outro partido de extrema direita, o Partido da Confederação, não vai ajudar muito o PLJ. Deve eleger apenas 12 deputados. 

A CC deve eleger 163 deputados. Terá de se aliar à Terceira Via, que deve ter 55 deputados, e à Esquerda, que deve conquistar 30 cadeiras. O comparecimento às urnas foi de 72,9%, o maior desde o fim do comunismo na Polônia, em 1989.

"A Polônia venceu. A democracia venceu", declarou Tusk, de 66 anos, num comício em Varsóvia na euforia da vitória. "É o fim do tempo ruim, é o fim do governo do PLJ."

Ao lamentar que "o sucesso não foi suficiente para conquistar um novo mandato", o verdadeiro líder do PLJ, o ex-primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski, hoje vice-primeiro-ministro, acusou os vencedores de serem fantoches da Alemanha e da União Europeia. 

Mesmo que a UE tenha trazido enormes benefícios e prosperidade aos antigos países comunistas da Europa Oriental, o euroceticismo é uma das marcas da extrema direita europeia, na Polônia, do primeiro-ministro Viktor Orbán na Hungria, da Alternativa para a Alemanha, da Reunião Nacional na França, da Liga na Itália e do Vox na Espanha. O Reino Unido saiu da UE. 

Os Irmãos da Itália, partido neofascista da primeira-ministra Giorgia Meloni, adota um tom mais moderado porque o país precisa da ajuda aprovada pela UE para combater o impacto da pandemia.

Com a vitória de Tusk, diminui o risco de mudança da posição polonesa em relação à guerra da Rússia contra a Ucrânia. 

A Polônia foi dividida no século 18 entre a Rússia, a Prússia e a Áustria. Só voltou a ser um país independente em 1918. Foi invadida em 1939, no início da Segunda Guerra Mundial (1939-45), e divida entre a Polônia e a União Soviética. 

Por ter sido invadida e ocupada pela Rússia e a União Soviética, a Polônia entrou para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1999 e para a UE em 2004. No início da guerra na Ucrânia, era um dos países mais decididos no apoio à Ucrânia.

É o país que mais recebeu refugiados ucranianos, cerca de 1,5 milhão. A população das grandes cidades poloneses cresceu: Varsóvia (15%), Cracóvia (23%), Gdanks (34%) e Rzeszów (50%).

Durante a campanha, a extrema direita usou o fantasma da imigração para assustar o eleitorado e atingiu os refugiados ucranianos. Também houve uma questão relativa à exportação de grãos da Ucrânia. 

Quando a Rússia rompeu o acordo para permitir a exportação das safras ucranians, a Ucrânia passou a fazer isso por terra e pelo Rio Danúbio. De repente, o mercado dos vizinhos europeus foi sobrecarregado pelos grãos da Ucrânia. Isso baixou os preços e atingiu os negócios dos agricultores locais.

O verdadeiro partido antiucraniano é o Partido da Confederação, mas o apoio à Ucrânia foi questionado pelo partido do governo num dos países que mais temem a Rússia de Vladimir Putin.

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