quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Candidato à Presidência do Equador é assassinado em Quito

 O candidato à eleição presidencial de 20 de agosto no Equador Fernando Villavicencio, de centro-direita, foi morto num atentado nesta quarta-feira em Quito às 18h20 pela horal local (20h20 em Brasília). Outras nove pessoas saíram feridas. O suposto atirador também morreu.

Ao sair de um evento de campanha, quando entrava no banco detrás de um carro, ouviram-se pelo menos 12 tiros. Galo Valencia, tio do candidato, falou em 40 disparos. Villavicencio levou três tiros na cabeça. A principal suspeita recai sobre o crime organizado.


A morte foi confirmada pelo presidente Guillermo Lasso e pelo ministro do interior, Juan Zapata. "Indignado e consternado pelo assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio. Minha solidariedade e minhas condolências a sua esposa e suas filhas. Pela sua memória e por sua luta, asseguro que esse crime não ficará impune", escreveu Lasso no X, o antigo Twitter. A Folha de São Paulo publicou tuítes com a gravação do atentado.

De madrugada, o presidente Lasso decretou estado de emergência por dois meses e convocou o Exército para garantir a segurança das eleições. O Conselho Nacional Eleitoral confirmou a realização das eleições em 20 de agosto. Seis pessoas foram presas. 

Em mensagem na Internet, um grupo de homens armados e mascarados reivindicou a autoria do atentado para a máfia do tráfico Los Lobos, mas suspeita-se que tenha sido forjada. Los Lobos são ligados ao Cartel de Jalisco Nova Geração, do México. O candidato alertou que estava sendo ameaçado pela gangue Los Choneros, a maior do Equador, ligada ao Cartel de Sinaloa, o maior do México. 

Villavicencio, do Movimento Constrói, tinha 59 anos. Era jornalista e crítico dos governos de  Rafael Correa (2007-17) e Guillermo Lasso (2021-23). Denunciou a corrupção no setor de petróleo, inclusive o escândalo da Odebrecht no Equador. Condenado por corrupção, Correa vive no Equador.

Como deputado, Villavicencio presidia a Comissão de Fiscalização da Assembleia Nacional, dissolvida por Lasso em 17 de maio deste ano numa manobra conhecida como "morte cruzada", que encurtou seu próprio mandato. O candidato morto entrou na campanha com a proposta de combater a violência associada ao tráfico de drogas e ao crime organizado, inclusive a mineração e o desmatamento, que pretendia incluir na lei antiterrorismo.

"Hoje o Equador está tomado pelos cartéis de Sinaloa e Jalisco Nova Geração – os dois mexicanos – e pela máfia albanesa. Fica claro para a América Latina o mesmo que aconteceu na Colômbia e no México, que não é possível que o narcotráfico se instale numa sociedade e a submeta sem o conluio e a conivência do poder político", declarou Villavicencio em entrevista à TV CNN en Español em maio passado.

Em 4 de agosto, sua campanha declarou que ele continuaria viajando pelo Equador, apesar das ameaças de morte. Ele declarou: "Seguiremos adiante na luta dos equatorianos valentes que queremos resgatar a pátria das mãos das máfias políticas e do narcotráfico." É um país espremido entre os dois maiores produtores de cocaína do mundo, Colômbia e Peru.

"O Equador se converteu num Estado falido", desabafou o ex-presidente Rafael Correa, eleito na onda de vitórias da esquerda na América Latina no início do século, ao saber da morte de Villavicencio. 

A candidata do movimento correísta Revolução Cidadã, Luisa González, é a favorita com 23% a 30,5% das preferências nas pesquisas. O líder indígena Yakú Pérez e o ex-vice-presidente Otto Sonnenholzner disputam o segundo lugar com 12% a 14%. Villavicencio era o quarto, com 6,8% a 12%.

Se nenhum dos oito candidatos conseguir mais da metade dos votos ou mais de 40% e uma vantagem de pelo menos 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado, haverá segundo turno em 15 de outubro de 2023. O presidente eleito vai governar por apenas um ano e meio, até maio de 2025, para completar o mandato de Lasso.

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