Sob incitação das manobras golpistas do presidente Donald Trump, milhares de partidários do fascismo trumpista estão invadindo o Capitólio, sede do Congresso dos Estados Unidos, onde deputados e senadores recebiam os votos do Colégio Eleitoral para certificar a vitória de Joe Biden na eleição presidencial de 3 de novembro. É um assalto sem precedentes à mais antiga democracia do mundo. Uma mulher baleada no peito na área do Congresso morreu.
O vice-presidente Mike Pence, que presidia a sessão como presidente do Senado, foi retirado às pressas do local pelo serviço secreto. "Isto é o que vocês conseguiram", gritou o senador e ex-candidato republicano à Casa Branca Mitt Romney para o colega republicano Ted Cruz, um dos líderes do movimento de contestação à vitória de Biden.
A Guarda Nacional do Distrito de Colúmbia e de estados próximos, Virgínia e Maryland, foi mobilizada para controlar a situação. A prefeita de Washington, Muriel Bowser, negra e democrata, havia pedido na segunda-fira ajuda à Guarda Nacional, aprovada pelo secretário interino da Defesa, Christopher Miller, mas, de acordo com a Câmara Distrital, negada depois pelo Pentágono.
Com a violência, a prefeita decretou toque de recolher das seis da tarde às seis da manhã. Aparentemente a polícia legislativa não acreditava que os manifestantes ultrapassariam as barreiras que protegem o Capitólio. O Congresso dos EUA não era atacado desde 1814, quando foi incendiado por soldados do Império Britânico na guerra iniciada em 1812.
Horas antes, o presidente Donald Trump discursou diante de seus partidários perto da Casa Branca e incitou a multidão a marchar até o Congresso, insistindo mais uma vez que ganhou a eleição e foi roubado. Prometeu marchar junto com a multidão.
O presidente eleito, Joe Biden, está falando agora no "assalto sem precedentes à democracia como nunca vimos em tempos modernos" e ao "Estado de Direito" nos EUA: "É um assalto à cidadela da liberdade, um assalto aos representantes do povo e à polícia legislativa."
"As cenas no Capitólio não representam os EUA. Isto não é dissidência. É desordem, caos, à beira da sedição. Precisa parar agora. As palavras de um presidente pesam. Convoco o presidente Donald Trump a ir à televisão agora, cumprir o juramento de defender a Constituição e parar com este cerco. Isto não é protesto, é insurreição. O mundo está assistindo. Estou chocado que nossa nação tenha chegado a um momento tão escuro. O trabalho dos próximos quatro anos deve ser de restauração da democraca, da honestidade, da decência e do Estado de Direito."
Biden afirmou que "a democracia é frágil e exige que as pessoas de boa vontade se mobilizem pelo bem comum. Pense no que as crianças pensam vendo isso. Pense no que pensa o resto do mundo." O presidente eleito não respondeu a perguntas sobre um possível processo contra Trump por traição.
Há pouco, Trump divulgou um vídeo orientando seus partidários a voltar para casa e dizendo que os ama. Ele insistiu que foi vítima de uma fraude eleitoral e que ganhou por ampla margem: "Não foi nem apertado. Mas agora é hora de voltar para casa."
O Twitter suspendeu a conta de Trump por 12 horas.
O presidente da Associação Nacional da Indústria Manufatureira, Jay Timmons, pediu a remoção imediata de Trump do poder, sob o argumento de que "incitou à violência numa tentativa de reter o poder, e qualquer líder eleito que o defenda está violando seu juramento constitucional e rejeitando a democracia em favor da anarquia. (...) O vice-presidente Mike Pence, que foi retirado do Capitólio, deve considerar seriamente trabalhar com os ministros invocar a Emenda nº 25 e preservar a democracia."
A Emenda nº 25 dispõe sobre a substituição do vice-presidente e o afastamento do presidente quando "o vice-presidente e a maioria dos secretários dos departamentos executivos" [ministérios] ou a maioria do Congresso entenderem que "o presidente não está em condições de exercer seus poderes e deveres." A medida precisa ser referendada dentro de 21 dias por dois terços da Câmara e do Senado.
O general John Kelly, ex-ministro-chefe da Casa Civil, revelou que a questão foi discutida no passado, diante de outros abusos de poder de Trump.
Em editorial, o jornal Kansas City Star, da cidade do senador Josh Hawley, que tomou a iniciativa de contestar o resultado da eleição presidencial e cumprimentou manifestantes antes da sessão conjunta do Congresso, "tem sangue em suas mãos".
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