quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Joe Biden assume pregando união nacional e fim da guerra incivilizada

 Em discurso emocionado diante do Congresso, Joseph Robinette Biden Jr. assumiu há pouco a Presidência dos Estados Unidos defendendo a união nacional, a democracia, a verdade e a luz para enfrentar os múltiplos desafios enfrentados pelo país, da democracia à pandemia, da justiça racial ao aquecimento global.

"Este é o dia dos EUA. Este é o dia da democracia. Um dia de história e esperança, de renovação e decisão numa encruzilhada do nosso tempo. Os EUA foram testados e cresceram diante do desafio", afirmou Biden. 

"Hoje, celebramos a vitória não de um candidato, mas de uma causa, a causa da democracia. A vontade popular foi ouvida e atendida. Aprendemos de novo como a democracia é preciosa. A democracia é frágil. E nesta hora, meus amigos, a democracia prevaleceu", começou Biden, depois de prestar juramento à Constituição na mesma escadaria do Capitólio onde em 6 de janeiro partidários do presidente Donald Trump tentaram impedir a certificação do resultado da eleição de 3 de novembro.

Neste lugar onde a democracia foi ameaçada, "onde dias atrás a violência tentou abalar os alicerces do Capitólio, nos encontramos como uma só nação, indivisível, para uma transição pacífica do poder como fazemos há mais de dois séculos", para "apresentar nossa visão do que esta nação pode ser."

"Sabemos da resiliência de nossa Constituição e da força de nossa nação", continuou. "Acabo de prestar o juramento prestado pela primeira vez por George Washington. Nós, o povo, queremos uma união mais perfeita. Temos muito a reparar, a restaurar, a curar, a construir e a ganhar." 

Diante da pandemia. "poucas pessoas encontraram um momento tão desafiador e difícil como este. Uma vez por século um vírus ataca silenciosamente o país. Tirou tantas vidas num ano quanto os americanos mortos na Segunda Guerra Mundial. Milhões de empregos foram perdidos. Centenas de milhares de empresas fecharam. Um grito de 400 anos por justiça racial nos move. O sonho de justiça e igualdade para todos não será mais adiado."

Entre os desafios a enfrentar e vencer, o novo presidente citou o supremacismo branco e o terrorismo doméstico insuflados por Trump, que não assistiu à posse do sucessor, o que não acontecia há 152 anos. Também falou num "grito de sobrevivência vindo do planeta que não pode ser mais claro e mais desesperado", numa referência ao aquecimento global.

"Em outro janeiro, no primeiro dia de 1863, Abraham Lincoln assinou a Declaração de Emancipação [dos escravos] dizendo: 'toda minha alma está nisso.' Hoje, toda minha alma está nisso, em unir nosso povo e nossa nação", discursou Biden. 

Pediu união para combater a herança maldita de Trump: "Raiva, extremismo, ilegalidade, violência, doença, desemprego e desesperança. Juntos, podemos fazer grandes coisas, corrigir os erros, colocas as pessoas em bons empregos, ensinar nossas crianças em escolas seguras, superar o vírus mortal, recomensar o trabalho, reconstruir a classe média, promover a justiça racial e tornar os EUA de novo uma força do bem no mundo."

"Nossa história tem sido uma batalha constante entre a ideia de que todos são iguais e a dura e horrenda realidade do racismo, do nativismo, do medo e da demonização que nos divide. Esta batalha é permanente e a vitória nunca está assegurada, da Guerra Civil (1861-65) à Grande Depressão, das guerras mundiais ao 11 de setembro de 2001", recordou o presidente. 

"A história, a fé e a razão mostraram o caminho, o caminho da unidade. Precisamos ver os outros não como adversários, mas como vizinhos. Temos de tratar os outros com dignidade e respeito", apelou Biden. Este é um momento histórico de crise e desafio, e a unidade é o caminho a seguir. Temos de enfrentar este momento como os Estados Unidos da América. Nunca, jamais, fracassamos quando agimos juntos", propôs Biden, com ênfase na união.

Sua mensagem central foi a reconciliação nacional depois do divisionismo do governo Trump: "Vamos começar de novo, vamos ouvir uns aos outros, vamos ver uns aos outros, vamos respeitar uns aos outros. A política não pode ser um fogo indomável que destrói tudo em seu caminho. Todo desentendimento não pode ser causa para uma guerra total. Devemos rejeitar a cultura em que os fatos são manipulados e mesmo fabricados."

O novo presidente também destacou o significado histórico da eleição de sua companheira de chapa: "Resistimos. Prevalecemos. Aqui, olhamos esta esplanada onde Martin Luther King falou do seu sonho. Estamos no lugar onde há 108 anos, em outra posse, milhares de manifestantes tentaram barrar uma marcha de mulheres pelo direito de votar. Hoje, marcamos a posse da primeira mulher eleita para governar o país, a vice-presidente, Kamala Harris." E da vitória sobre a turba enviada por Trump para assaltar o Capitólio: "Aqui estamos onde a violência tentar impedir a vontade popular. Não aconteceu. Não vai acontecer nem hoje nem amanhã. Nunca."

Em defesa da liberdade e da democracia, Biden observou que "o direito de dissentir pacificamente é talvez a maior força desta nação. Mas o desacordo não deve levar à desunião. Serei o presidente de todos os americanos", prometeu.

"Muitos séculos atrás, Santo Agostinho, um santo da minha igreja, escreveu que um povo é definido pelos objetivos comuns do seu amor. Quais são os objetivos comuns dos americanos? O que nos define como americanos?", perguntou. "Oportunidade, segurança, liberdade, dignidade, respeito, honra e, sim, a verdade. (...) Há verdades e mentiras, mentiras ditas pelo poder e o lucro. Cada um de nós tem a responsabilidade, como cidadãos, como americanos, e especialmente como líderes que prometeram honrar a Constituição e proteger a nação, de defender a verdade e derrotar a mentira." Entendo a preocupação com o emprego." 

Também lembrou o pai desempregado, preocupado com a dúvida de se conseguiria pagar as contas da família.

"Temos de acabar com esta guerra incivilizada, azuis versus vermelhos, cidade versus campo, liberais versus conservadores. Podemos fazer isso se abrirmos nossas almas em vez de endurecer os corações, se mostrarmos um pouco de tolerância e humildade por um momento, se por um momento vestirmos os sapatos do outro", conclamou o presidente.

A politização da pandemia foi outro alvo: "Estamos entrando no que pode ser o momento mais duro e mortal do vírus. Vamos deixar a política de lado e combater a doença como uma nação unida. Vamos atravessar isso juntos. O mundo está assistindo. Minha mensagem para o exterior: os EUA foram testados e saíram mais fortes. Vamos refazer as alianças para enfrentar os desafios de hoje e de amanhã. Vamos liderar não pela mostra do nosso poder, mas pelo poder do nosso exemplo. Seremos um parceiro forte e confiável pela paz, o progresso e a segurança."

Como primeiro ato de seu governo, Biden pediu um momento de oração silenciosa pelos 400 mil americanos mortos pela pandemia.

"Este é um momento de testes. Enfrentamos um ataque à democracia e à verdade. Um vírus selvagem. A desigualdade crescente. O racismo sistêmico. Um clima em crise", com o governo desastroso de Trump. "É um momento para ousar. Seremos julgados sobre como enfrentamos estas crises. Vamos cumprir nossa obrigação de deixar um mundo melhor para nossos filhos?"

"Termino onde comecei, com meu juramento diante de Deus e de vocês", concluiu Biden. "Vou defender a Constituição, a democracia e os EUA. Juntos, vamos escrever uma história de esperança, não de medo. De união, não de divisão. De luz, não de escuridão. Uma história de dignidade e decência. De amor e de cura. De grandeza e bondade. Seja esta a história que nos guie e nos inspire. Vamos responder à convocação da história. [Recriar] uns EUA que garantam a liberdade em casa e sejam uma baliza para a humanidade sustentada pela fé, orientada pela convicção e pela devoção uns aos outros e ao país que amamos."

Joe Biden participa de um segundo momento histórico. Em 2009, tomou posse como vice-presidente do primeiro presidente negro dos EUA, Barack Obama. Hoje, levou a primeira mulher, e a primeira de origem africana e indiana, à vice-presidência.

Há quatro anos, Trump fez um discurso prometendo acabar imediatamente com a "carnificina" nos EUA. Seu foco foi o crime e o desespero, a lamúria, explorando o temor da maioria branca diante de uma sociedade cada vez mais multiétnica e multicultural. Em contraste, Biden destacou a fé e a esperança, a reconciliação e a união.

Nenhum comentário: