LONDRES - Aos 72 anos, Hugh Masekela entrou dançando de mansinho, mas logo mandou a plateia se levantar no segundo e último show que fez domingo e segunda-feira no Hackney Empire, em Londres, em homenagem à cantora Miriam Makeba. Ele a descreveu como Mamma Africa, uma heroína na luta contra o regime segregacionista do apartheid na África do Sul e pela libertação dos povos de todo o continente.
Diante de uma plateia cheia de sul-africanos, Masekela não demorou em usar a ironia: "Já vi que tem muita gente aqui que fugiu da polícia", lembrando os 300 anos de ditadura da minoria branca sobre a maioria negra.
Em 1961, o regime proibiu os negros de tomar bebibas alcoólicas, lembrou Masekela: "Beber se tornou um ato de resistência. O que pode ser melhor do que enrolar a língua ao responder a um policial que lhe pede documentos. Quase toda casa de família virou uma birosca clandestina. Quem fornecia o produto ilegal era a própria polícia."
Logo, ele começou a gritar "Kawleza", pedindo à plateia que repetisse, e cantou a música engajada de Miriam Makeba, que morreu em 2008 aos 76 anos depois de uma longa perseguição .
Masekela cantou com sua voz rouca, mas ainda poderosa, tocou trumpete e outros instrumentos de sopro. Estava acompanhado jovens músicos sul-africanos e de um percussionista de Serra Leoa. Chamou os cantores Vusi Mahlesela, Thandiswa e Lira para cantar Meet me on the river.
Para Thandiswa, Miriam Makeba foi a figura feminina que lhe serviu de modelo, dando-lhe uma esperança de sucesso em meio ao regime racista sul-africano.
Mais jovem, Lira contou que, quando criança, não tinha noção do que era o apartheid: "Fugir da polícia para uma criança era uma brincadeira. Foi a música de Miriam Makeba que me revelou que muita gente morreu para conquistar a liberdade que eu tenho hoje e que em muitos países é algo natural".
Lira cantou a tragédia sul-africana em Soweto Blues.
O maior sucesso de Makeba, Pata Pata, levantou definitivamente a plateia de suas cadeiras e botou todo o mundo para dançar até o fim do show, que terminou com uma homenagem a Nelson Mandela e mais uma série de músicas de bis. Foi uma noite memorável. A plateia queria mais e mais.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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